"Era uma Vez em… Hollywood" é ode à formação cinematográfica de Tarantino

"Era uma Vez em… Hollywood" é um conto, como o próprio nome indica, e um jogo no qual o espectador deve esquecer do que sabe sobre o movimento hippie nos [...]

"Era uma Vez em… Hollywood" é um conto, como o próprio nome indica, e um jogo no qual o espectador deve esquecer do que sabe sobre o movimento hippie nos Estados Unidos e sobre Charles Manson para curtir o mais novo filme de Quentin Tarantino, que estreia nos cinemas do Brasil nesta quinta-feira (15).

O polêmico e cultuado diretor americano dedicou cinco anos para escrever o roteiro da história que se passa na Los Angeles de 1969. Mas mais do que falar sobre a amizade e o amor pelo cinema de Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) e Cliff Booth (Brad Pitt), o filme é um convite às lembranças pessoais de Tarantino do período, os anos de sua formação cinematográfica, quando a indústria de Hollywood, as estrelas e o próprio país, com a Guerra do Vietnã em pleno apogeu, experimentavam um momento de mudança profunda.

Há alguns dias, na apresentação do filme em Moscou, Tarantino, de 56 anos, disse que só falta a ele produzir um último filme, uma mega história que englobará toda a lógica de sua obra, antes de se aposentar do cinema para curtir a vida.

Mas "Era Uma Vez…em Hollywood" já é um testamento, uma espécie de declaração de amor à cidade símbolo da indústria da qual ele faz parte. O filme é uma homenagem ao modo antigo de se fazer cinema, ao "spaghetti western" de Sergio Leone, às velhas glórias e uma forma de vida que, desde a década de 1970, permanece nas lembranças daqueles que viveram o período.

Desta vez, Tarantino reduziu o toque de violência que acompanha toda a sua obra, embora mantenha o humor sagaz e os diálogos marcantes presentes de "Cães de Aluguel" a "Os Oito Odiados", para focar nos personagens e encher a tela de nostalgia com constantes referências à vida de Steve McQueen e de Bruce Lee, aos "westerns" de Sergio Cobucci, à série "O Cavaleiro Solitário" e às extravagantes festas na mansão Playboy.

"Esse é um filme único dentro da filmografia de Quentin, um dos mais emotivos. De certa forma, ele olha para o passado, para suas influências e os filmes que ama, para o período no qual cresceu e que o fez ser quem é. É uma carta de amor a uma Hollywood que não existe mais", afirmou o produtor David Heyman sobre o filme.

A também produtora Shannon McIntosh preferiu destacar a relação dos dois protagonistas do filme – DiCaprio e Pitt -, uma amizade ao estilo da presente em "Butch Cassidy" (1969), um clássico do "western" que tem Paul Newman e Robert Redford como estrelas.

O próprio Tarantino reconhece que o filme acompanha os personagens enquanto eles se movem por Los Angeles até a história chegar a um momento crítico. O diretor de "Pulp Fiction", inclusive, fez cortes na versão de "Era Uma Vez… em Hollywood" exibida no Festival de Cannes para que os espectadores voltassem ao cinema outra vez, repetindo uma estratégia clássica já feita antes por Alfred Hitchcock na estreia de "Psicose", em 1960.

Dalton era uma estrela da televisão nos anos 1950 e 1960 que já não consegue bons papéis. Seu dublê na época, Booth, é agora seu motorista, assistente e, provavelmente, o único seu único amigo.

O antigo astro hollywoodiano conserva o chalé de luxo em Beverly Hills que comprou no auge da fama, tendo como vizinhos Roman Polanski (Rafal Zawierucha), que acabara de lançar "O Bebê de Rosemary", e sua esposa, Sharon Tate (Margot Robbie), mas começa a pensar seriamente e se mudar para Europa para gravar filmes da indústria do "spaghetti-western", como sugere seu agente, interpretado por um espetacular Al Pacino.

Essa é outra das marcas do cinema tarantiano: colocar grandes atores em papéis pequenos ou dar personagens marcantes a estrelas esquecidas, como ocorreu com Michael Madsen, Bruce Dern, Kurt Russell e Zoë Bell, que estiveram ao lado do diretor em filmes como "À Prova de Morte", "Kill Bill", "Django Livre" e "Os Oito Odiados".

E acrescenta outros em "Era uma Vez…em Hollywood", alguns que ganharam fama pelos importantes personagens que representaram, como Dakota Fanning, Luke Perry, Lena Dunham e Martin Kove. Nos créditos também está Tim Roth, que começou com Tarantino em "Cães de Aluguel", mas acabou cortado na edição feita pelo diretor.

E, para variar, a trilha sonora é espetacular, como em todos os outros nove filmes de Tarantino, ou oito, como ele prefere dizer, já que considera os dois volumes de "Kill Bill" como uma única história.

*Com EFE