Frio no Sul aumenta vulnerabilidade de moradores de rua e periferias

Frio no Sul aumenta vulnerabilidade de moradores de rua e periferias

 

A amiga Kelly Danielle de Souza, 33, concorda. "Choveu dentro do quarto como se fosse na rua, minhas cobertas estão molhadas", conta. Ambas possuem companheiros que estão presos. "O meu está no semiaberto", diz Manuela. "Meu marido está no Presídio Central. Não quero que pense que esqueci dele, não esqueci", diz Kelly.

Depois de comer, os irmãos Magda Cristina, 55, e Vilson da Silva, 54, caminham uma hora até a Vila dos Papeleiros, onde moram.

"Não é longe", diz Magda. "O problema é que não tem mais nada de material reciclável na rua, desapareceu", diz Silva.

A Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) da prefeitura informa que disponibiliza 495 vagas de abrigo e tem capacidade para mais de 200 atendimentos de higienização e alimentação por dia, além de servir 700 refeições diariamente em diferentes regiões da cidade.

Já em Curitiba, capital mais fria do país, os abrigos da prefeitura tiveram recorde de acolhimento na primeira semana de julho, quando foram registradas temperaturas próximas de 0 °C. Cerca de 800 pessoas foram atendidas, mais do que o dobro de dias normais.

O número foi o mais alto desde o ano passado, quando a Fundação de Ação Social passou a notificar o trabalho de resgate. A ação mais intensificada de abordagem das pessoas em situação de rua é feita sempre que a temperatura fica abaixo de 9 °C na capital paranaense.

A prefeitura criou 270 novas vagas de acolhimento durante a pandemia – 120 em abrigos emergenciais, para pessoas com suspeita de Covid-19 ou em grupos de risco, e 150 em um hotel social. Também houve ampliação do número de unidades com atendimento 24 horas. Para expandir o serviço, foram contratados 48 educadores sociais e 120 cuidadores.

Entre os que passam frio no inverno, há quem tenha "casa". Mas os barracos das periferias são tão precários, relata Flores, que é como se as pessoas fossem sem teto. Crianças mal agasalhadas, muitas vezes com chinelos e vestindo camisetas apesar das temperaturas abaixo de 10°C são comuns.

A primeira-dama de Porto Alegre, Tainá Vidal, tem se esforçado para arrecadar roupas de inverno especialmente para crianças. A maior parte das doações para a Campanha do Agasalho são para adultos.

"Dois meninos estavam sentados. O menor, muito agarradinho no mais velho. Eu disse: "Que coisa boa, ele é apaixonado por ti". Mas daí vi o chinelo de dedo, a roupa fininha, a manga dobrada na mão para esquentar. Era frio. Me dá vontade de chorar", conta Vidal.

Por isso, juntamente com a plataforma "Moeda do Bem", Tainá lançou uma campanha para doação de roupas de inverno infantil. As pessoas podem fazer uma doação online para que Instituto Misturaí compre e doe as roupas.

Durante a pandemia, a Moeda do Bem já atuou no Morro da Cruz, em Porto Alegre. As doações eram revertidas em cestas básicas adquiridas em mercados da região para aquecer a economia local. As famílias retiravam as cestas nos mercados com hora marcada, evitando aglomerações.