Jovem negro diz ter sido torturado ao tentar comprar celular em supermercado de Maceió

Jovem negro diz ter sido torturado ao tentar comprar celular em supermercado de Maceió

 

A Polícia Civil informou que vai requisitar imagens das câmeras de segurança sobre o episódio. O boletim de ocorrência foi registrado dois dias após José Alberto Silveira Freitas, 40, ter sido espancado e morto por seguranças em um supermercado da rede Carrefour de Porto Alegre (RS), em um caso que repercutiu no país, na véspera do Dia da Consciência Negra.

O supermercado, no bairro do Tabuleiro, pertence à rede G Barbosa, presente no Nordeste. A rede afirmou, em nota, que o rapaz foi pego furtando um celular -o que ele nega. Mas a própria empresa disse no mesmo comunicado que a Polícia Militar, ao ser acionada para o local, liberou o jovem por falta de flagrante.

Já o jovem diz que levava dinheiro em espécie para comprar um celular. Enquanto escolhia o aparelho, ainda segundo ele, um homem se identificou como policial e o acusou de ter cometido um assalto em um dia anterior.

"Quando cheguei lá, não demorou muito e um homem me pegou pela cintura, dizendo que era policial, e que eu tinha roubado dois celulares. Falei que não tinha roubado, mas me levaram para uma sala e começaram a me bater", disse o jardineiro à reportagem. "Até mostrei o dinheiro que tinha do auxílio [emergencial], mas o homem disse que eu tinha conseguido esse dinheiro depois de vender os dois telefones roubados".

Ainda pelo relato do jovem, o homem, então, o levou para uma sala, dentro do supermercado, e o agrediu por quase três horas, principalmente com golpes na cabeça. Foram socos e tapas no rosto, e até um saco plástico foi colocado na cabeça dele, conta a vítima.

O jardineiro disse haver outros dois homens na sala, que aparentavam ser funcionários do supermercado, e que assistiram às agressões do suposto policial.

O jovem conta que foi obrigado a gravar um vídeo admitindo o crime que não cometeu. Depois, ainda segundo contou, policiais militares chegaram ao local e o liberaram.

"É constrangedor que isso tenha acontecido. Humilhante. Estavam três pessoas na sala comigo e o gerente da loja estava no corredor. Só uma pessoa bateu em mim. Ninguém pediu que ele parasse", contou o rapaz.

O laudo pericial deve ser concluído em dez dias. A assessoria da Polícia Civil disse que foi aberto inquérito e que serão ouvidas as testemunhas, acusados e a vítima. Ainda segundo o órgão, é cedo para definir alguma tipificação de crime.

A mãe do jardineiro disse à reportagem que, por volta das 14h do sábado, passou a ficar preocupada, porque o rapaz havia saído de casa perto das 10h, sem lhe dar notícias.

"Ele chegou em casa com marcas de tapa no rosto, além de machucados nas costas e no pescoço. Quando a gente vê isso, fica pensando: "Parece que negro não pode existir no Brasil. Aqui é lugar só para branco". Eu sou cardíaca, então acho que eles quiseram me contar pouco no começo. É muito doloroso", disse ela.

O advogado Basile Christopoulos, que defende o jardineiro, afirmou que a família vai processar o supermercado.

OUTRO LADO

A rede GBarbosa afirma, por nota, que o jovem furtou um aparelho celular conforme as imagens que eles têm no circuito interno de câmeras. Ele foi reconhecido por testemunhas porque esteve lá em horários distintos, segundo a empresa, e foi abordado.

A Polícia Militar foi acionada e, segundo a empresa, o liberou por falta de flagrante. A rede GBarbosa fez um boletim de ocorrência no sábado, sobre o suposto furto.

A GBarbosa diz ainda está apurando internamente se houve agressões e liberará as imagens do circuito de TV interno para que a Polícia Civil prossiga com as investigações.

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