UE fala em "horas finais" para acordo do brexit, e Reino Unido pede concessões

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Reino Unido e União Europeia (UE) subiram o tom, nesta sexta-feira (18), sobre a negociação para o acordo que definirá como ficam as relações entre os dois lados após o brexit. Mesmo assim, não houve avanços claros que possam indicar um final feliz para as conversas que se arrastam desde o início do ano.

Após mais de três anos de negociações, o brexit foi oficialmente realizado em janeiro, mas com um grande asterisco: até 31 de dezembro, as regras de comércio seguem as mesmas de antes.

Pelo cronograma, as conversas para encontrar uma maneira de resolver os impasses deveriam ter sido encerradas no último domingo (13), mas o prazo foi estendido, fazendo com que um cenário de consenso entre os envolvidos pareça cada vez mais distante.

 

 

Com a indefinição, não se sabe quais regras de comércio valerão a partir de 1º de janeiro de 2021, e os esforços em busca de soluções devem prosseguir neste sábado (19). “É o momento da verdade”, disse Michel Barnier, negociador-chefe da UE, ao Parlamento Europeu, em Bruxelas, nesta sexta. “Há uma chance de conseguir um acordo, mas o caminho é muito estreito.”

“Temos muito pouco tempo sobrando, apenas algumas horas para trabalhar nestas negociações se quisermos que um acordo entre em vigor em 1º de janeiro”, afirmou.

O negociador observou que “os pontos que permanecem em aberto nesta hora crucial são fundamentais para a UE” e pediu “nada mais do que um equilíbrio entre direitos e obrigações”. O Parlamento Europeu disse que precisa de um acordo até a meia-noite de domingo (20) para dar seu consentimento a uma votação ainda neste ano.

O premiê Boris Johnson afirmou que o Reino Unido está disposto a manter as negociações, mas reiterou que não pretende ceder em dois pontos importantes: a não-submissão de seu país às regras da UE e a limitação da pesca feita por embarcações de outros países em águas britânicas.

“As coisas estão parecendo difíceis. Esperamos que nossos amigos da UE tenham senso e venham para a mesa com algo”, disse Boris a jornalistas, acrescentando que “nenhum governo sensato” aceitaria abrir mão do controle de suas leis e direitos comerciais.

Caso não haja acordo, os britânicos não terão mais condições especiais para comprar e vender produtos dos países da UE, como possuem há decadas. Nesse cenário, as regras da OMC (Organização Mundial de Comércio) é que terão validade, o que o premiê considera uma situação que “pode ser difícil no início”. “Mas este país vai prosperar muito, como eu já disse muitas e muitas vezes, em quaisquer termos e sob qualquer acordo”, disse.

Atualmente, há livre circulação de mercadorias e serviços entre os dois lados, que movimenta cerca de US$ 1 trilhão por ano (mais de R$ 5 trilhões). A expectativa é de que um acordo possa isentar de tarifas ao menos metade desse montante.

Com a saída sem uma decisão conjunta, os negócios entre Reino Unido e países da UE terão muito mais exigências e restrições, como cotas de importação e tarifas. O primeiro impacto visível da mudança poderá ser as filas de caminhões parados perto dos postos de fronteira, aguardando que fiscais de alfândega liberem as cargas de acordo com as novas – e ainda indefinidas – regras.

Na verdade, algo semelhante já começou a acontecer. Segundo o jornal britânico The Guardian, há correria entre as empresas para escoar suas produções antes do fim do ano e evitar as possíveis barreiras alfandegárias.

Caminhoneiros relatam esperas de até seis horas para liberação devido aos congestionamentos.

Na prática, a UE busca evitar que o Reino Unido fique com acesso livre aos países do bloco, com 450 milhões de consumidores, sem ter os ônus de seguir as normas e políticas definidas em Bruxelas, como fazem os 27 membros. Barnier disse que a UE precisa ser capaz de impor barreiras comerciais caso o Reino Unido mude seus regulamentos para oferecer produtos abaixo do padrão de mercado do bloco.

Na noite de quinta, Boris falou por telefone com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e ambos admitiram os impasses da negociação. Em outras ocasiões semelhantes, os dois líderes emitiram notas conjuntas sobre suas conversas, mas, desta vez, cada um divulgou comunicado com sua versão.

Boris afirmou que “o tempo disponível é muito curto e parece altamente provável que um acordo não será alcançado a menos que a posição da UE mude substancialmente”. Na mesma linha de pensamento, von der Leyen disse que “superar as divergências que persistem será muito difícil”.

Há temores de que haja problemas na economia europeia durante esta transição, porque as novas barreiras romperão cadeias de suprimentos e negócios financeiros que envolvem as ilhas britânicas e o continente europeu – isso logo após um ano difícil para a economia, freada devido à pandemia de coronavírus.