Apelidos como Nelly e "saladas de letras" tentam evitar que variante da Covid-19 se ligue a país

Apelidos como Nelly e

O problema é que não existe uma forma padronizada para se referir aos novos mutantes. VoC 202012/01, N501Y.V1, B.1.1.7 e 20I / 501Y.V1 são todos nomes usados para a variante que apareceu no sul da Inglaterra e que, entre os britânicos, é chamada de “variante de Kent”.

Para evitar a pecha, cientistas britânicos têm chamado a nova versão de “Nelly”, um apelido da mutação mais preocupante encontrada, de nome técnico N501Y. Nelly aparece também nas variantes encontradas na África do Sul e no Brasil, mas nessas duas ela é acompanhada por Erick (apelido de E484K), outra mutação que ajuda o vírus a se espalhar.

Os nomes técnicos se referem a quais letras do código genético foram mudadas e em que posição. N501Y indica que, na posição de aminoácido 501, a asparagina (N) foi substituído por tirosina (Y). Já na mutação Erick, ou E484K, houve uma troca de glutamato por lisina na posição 484. As duas alterações na cadeia de letras genéticas do coronavírus afetam a proteína conhecida como Spike, que facilita a entrada do patógeno na célula humana.

O adendo V1 (variante 1) no nome N501Y.V1 indica que a mudança relatada no Reino Unido foi a primeira a ser descrita. É isso que a distingue do nome técnico da versão identificada pela África do Sul, chamada de N501Y.V2, por ter sido a segunda a ser registrada com a mesma mutação (embora não haja certeza sobre qual aconteceu primeiro).

Os outros nomes pelos quais a variante do Reino Unido é conhecida têm explicações diversas. VoC 202012/01 é a abreviatura de “variante de preocupação de dezembro de 2020”, mês em que o Reino Unido detectou cerca de 20 mutações no genoma do coronavírus.

Mutações em vírus são frequentes e a maioria é inofensiva ou até prejudicial ao micro-organismo, mas algumas lhe dão vantagens de sobrevivência e por isso ganham atenção especial dos sistemas de vigilância sanitária.

Foi o caso da mutação que permitiu ao Sars-Cov-2 ficar mais abundante no trato respiratório superior, potencializando sua transmissão e chamando a atenção ao provocar um pico anômalo de casos nas regiões inglesas de Kent e Medway. A origem dessa variante é ainda desconhecida, mas acredita-se que ela surgido em meados de setembro. O pico veio em novembro, e a Saúde Pública da Inglaterra a chamou de VUI 202012/01 (VUI é a abreviação de variante sob investigação, em inglês).

Em dezembro, depois que ela foi mapeada e teve seu risco avaliado, o “sob investigação” virou “de preocupação” e o VUI passou a ser VOC.

B.1.1.7, por fim, refere-se à linhagem da nova variante -uma linhagem é um agrupamento de sequências genéticas que aparecem em uma região geográfica específica, com evidências de transmissão contínua naquela região. De forma mais ampla, a versão faz parte da linhagem B, e cada um dos números seguinte indica uma divisão subsequentes nesse ramo da árvore genealógica do vírus. A variante descrita na África do Sul é a B.1.351, nessa classificação.

A identificação de cada variante por sua posição na árvore de linhagens foi sugerida já em julho do ano passado por um grupo de cientistas, na revista Nature, já prevendo o aparecimento de um número grande de mutações. Depois disso, passou a ser usado pelo banco de dados internacional Gisaid, que reúne mais de 400 mil genomas de todo o mundo.

Mas, para embolar ainda mais o meio de campo, um outro sistema de classificação criado por outro grupo de cientistas chama a B.1.1.7 de 20I / 501Y.V1.

No Brasil foi identificada uma variante B.1.1.28, também chamada de N501Y.V3, e logo em seguida outra variante da mesma linhagem, a B.1.1.28.1, que se espalhou rapidamente na região de Manaus e acabou recebendo um novo apelido, P1.

Para a líder técnica da OMS para Covid-19, Maria van Kerkhove, é preciso criar uma nomenclatura que seja facilmente compreendida e evite “nacionalizar” os vírus. “Queremos remover qualquer questão geopolítica desse tema”, afirmou ela na última sexta.