Covid-19 e o esporte: Quais os efeitos e riscos da doença em atletas profissionais?

Um ano após os primeiros casos da Covid-19 serem diagnosticados na China, em dezembro de 2019, o mundo do esporte segue sofrendo com os efeitos da pandemia. Além de [...]

Covid-19 e o esporte: Quais os efeitos e riscos da doença em atletas profissionais?

Um ano após os primeiros casos da Covid-19 serem diagnosticados na China, em dezembro de 2019, o mundo do esporte segue sofrendo com os efeitos da pandemia. Além de jogos sem torcida, times perdem atletas por pequenos períodos devido à infecção. No Campeonato Brasileiro já foram mais de 300 casos, a Premier League viu a rodada do fim de ano bater 60 exames positivos da doença e a NBA segue adiando jogos por número insuficiente de jogadores para atuar. Os efeitos do coronavírus em atletas ainda são nebulosos para uma parcela da população que acredita que ter algum tipo de “histórico de atleta” já elimina as chances de contrair a doença de forma grave, mas a vida real mostra que não é bem assim. Em outubro do ano passado, o goleiro e capitão do Brusque – SC, Zé Carlos, foi diagnosticado com a doença e teve muitas complicações. “Foi extremamente preocupante, porque não dá para sabe o que pode acontecer com você, como vai reagir a esse vírus. Fiquei por volta de 20 dias me recuperando. Tive 10% do pulmão afetado, pneumonia, muita febre todos os dias, peguei bactéria e muita moleza no corpo”, revelou o atleta em entrevista à Jovem Pan. Segundo o presidente eleito da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), Dr. Ivan Pacheco, ainda são poucos os estudos sobre o efeito da doença em atletas, mas já há embasamentos em relação a outras bactérias.

“Não existe nenhum estudo, tem apenas pessoas que estão coletando dados preliminares, mas nós temos algumas respostas baseadas em outras doenças causados por outros vírus. Nosso grande medo hoje é o retorno ao esporte por causa da miocardite. Ela pode causar morte súbita, porque o vírus e até algumas bactérias causam alterações no músculo cardíaco, inclusive pode ser origem de arritmias e esse é um fator que predispõe a morte súbita”, explica Ivan. Além disso, outras sequelas podem ser associadas ao vírus Sars-Cov-2. “Se o atleta tem uma forma grave da doença, ele pode ficar com fibrose no pulmão e vai perder capacidade pulmonar, afetando o rendimento. Durante a doença, ele perde rendimento porque as viroses, em geral, consomem energia muscular. O vírus tem predileção por enzimas que estão no pulmão e no rim, então ele também pode ficar com sequela renal, ou seja, com a capacidade renal diminuída”, completa.

Felizmente, Zé Carlos não teve sequelas após a infecção, mas sofreu ao retornar às atividades. “Voltei muito debilitado, perdi 7 kg em 20 dias e demorei mais do que os meus companheiros para retornar às atividades. Só comecei depois de fazer os exames cardiológicos, porque como eu fui um pouco mais afetado tive que fazer, e mais uns de sangue que a CBF pediu para me liberar aos trabalhos com bola. Graças a Deus nos exames deu tudo certo, sem nem um tipo de sequelas, e fui liberado a fazer o que mais amo novamente que é jogar futebol. Só tenho a agradecer por passar por essa, a gente sabe que muitos não conseguiram”, contou. De acordo com o Dr. Ivan esse é o caminho correto para quem teve a doença, monitorar periodicamente o funcionamento do coração.

Como retornar aos exercícios físicos?

Preparador físico do Palmeiras assim que a pandemia chegou ao Brasil e atualmente no Vasco, Antônio Mello teve contato com algumas atletas que testaram positivo para a doença e explica como precisa ser feito o retorno às atividades. “Evidentemente que volta com um treino mais leve e cuidadoso porque o atleta parou por 14 dias. Você faz uma readaptação e recondicionamento físico que envolve trabalho de resistência, orgânica, trabalho de musculação e depois trabalha o específico do futebol. Os cuidados são como se fosse uma ligeira pré-temporada”, afirma. Para quem não é atleta de alto nível, mas se exercita com relativa frequência, o retorno precisa ser feito de acordo com a gravidade da doença. “Se a pessoa teve coronavírus e só perdeu apetite, paladar, olfato ou teve dor de garganta, assim que sentir que o organismo recuperou o fôlego está apto para voltar. As pessoas que foram ao hospital e tiveram pneumonia vão demorar mais tempo. Pode demorar 3 ou 4 meses e depende de avaliações médicas. Quem ficou internado precisa muito mais dessas avaliações até que o médico diga "Você está curado e apto para voltar". A verdade é que não existe um tempo igual para todo mundo”, conclui o Dr. Ivan.