Líder na vacinação, Dinamarca se prepara para decuplicar ritmo

 

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Meses antes de as vacinas começarem a chegar (no final de dezembro), equipes de diferentes áreas da esferas federal, regionais e municipais montaram juntas um plano de imunização.

Mapeou-se quem receberia primeiro as vacinas, quantas doses seriam necessárias em cada cidade e quais os caminhos mais curtos para fazer chegar as ampolas até os locais de vacinação.

O detalhamento era especialmente importante porque o primeiro imunizante a chegar era o da Pfizer, de manejo mais difícil: precisa ser mantido e transportado a menos 70 graus Celsius, e dura poucas horas depois de manipulado.

Para evitar perdas, cada uma das cinco regiões dinamarquesas levantou hospitais com ultracongeladores e traçou as rotas das vacinas dali até os postos de vacinação, nas quantidades exatas previstas.

Estabelecer esses volumes e prazos não era trivial com três produtos diferentes em uso, cada qual com intervalos diferentes entre a primeira e a segunda dose. Nesse passo, fez diferença outra ferramenta dinamarquesa: um registro centralizado pelo qual o governo sabe quantas pessoas de cada idade moram em cada local e um controle digital de imunização em operação desde 2013, diz a diretora-geral do departamentos de dados da Autoridade de Saúde da Dinamarca, Lisbeth Nielsen.

O sistema permite entrar em contato direto com cada habitante -por SMS ou e-mail, por exemplo-, informando quando e onde será a vacinação e informando o link para o agendamento. No começo, porém, houve uma dificuldade: um dos grupos mais prioritários -o dos idosos acima de 80 anos- tinha menos facilidade com os meios eletrônicos.

Foi preciso adaptar o esquema para enviar também cartas e oferecer um serviço de agendamento por telefone, o que atrasou um pouco o processo, diz Lundgren, também conselheiro do governo para o combate à Covid-19. Nos cerca de 1.000 asilos do país, um dos focos prioritários, a imunização foi combinada diretamente com os diretores.

Imprescindível para lidar com as vacinas mais perecíveis, como as da Pfizer e da Moderna, o agendamento e o controle detalhado da logística são importantes não apenas para a eficiência do processo, diz a diretora do departamento de dados: “Numa pandemia, você não quer dezenas de pessoa se aglomerando em filas”.

Os números mais recentes do Ministério da Saúde mostram que a meta de evitar desperdício foi até superada. Em 2 das 5 regiões -Nordjylland e Sjaelland- mais de 100% das doses recebidas foram aplicadas (isso é possível com agulhas específicas que conseguem tirar seis doses em vez de cinco dos frascos de imunizante).

Lundgren e Lisbeth afirmam que o “modelo dinamarquês” será ainda mais relevante nos próximos meses, não só porque o número de vacinas por dia vai escalar rapidamente, mas porque imunizantes de outros fabricantes -com prazos e necessidades diferentes- começarão a chegar.

Além disso, diz o especialista em Saúde Pública, devem ser necessárias novas rodadas de imunização no final deste ano, seja por causa de variantes, seja porque não se sabe ainda por quanto tempo dura a proteção da vacina.

Para dar o salto definitivo, falta garantir um fornecimento robusto de vacinas. Como todos os países da União Europeia, a Dinamarca também recebeu menos doses que as previstas, o que causou um dos principais problemas até agora, segundo Lisbeth: “Receber o convite para agendar a vacinação cria uma enorme expectativa, e é preciso estar preparado para atendê-la”.

Também serão necessários alguns ajustes técnicos, mostrou o teste de sexta-feira: nas primeiras horas, uma queda no sistema provocou filas nos postos. “Quando o processo é todo digitalizado, é preciso garantir que ele seja fácil de usar e confiável”, diz Lisbeth.