Cidades grandes passam, em média, 40 dias com crescimento acelerado de casos de Covid

As cidades grandes brasileiras passam, em média, 40 dias seguidos com crescimento acelerado de novos casos de Covid-19 até que a contaminação se estabilize ou comece a retroceder. Esse período cresce para 47 dias quando são consideradas apenas as 27 capitais.

Os dados são do monitor da aceleração da Covid do jornal Folha de S.Paulo, que mede o ritmo de crescimento da doença nos municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes.

Nesta quinta-feira (29), o Brasil ultrapassou a marca de 400 mil mortos pelo coronavírus. O número de casos confirmados passa de 14 milhões.

Todo sistema respiratório com sintomas pode ser suspeito de Covid, segundo especialistas. Foto: Agência Brasil

Atualmente, 75 (23%) das 324 cidades com mais de 100 mil habitantes estão no estágio acelerado, em que o número de novas infecções cresce de maneira acentuada.

Das capitais, apenas o Rio de Janeiro se encontra nessa situação, acumulando 25 dias seguidos com crescimento acentuado de contaminações.

A capital fluminense é uma das 13 cidades do Rio atualmente na fase acelerada. Nelas moram mais de 10 milhões de pessoas, ou 63% dos fluminenses. O estado é o que mais concentra população em municípios onde o ritmo de crescimento de casos de Covid está descontrolado.

Já 14 estados não têm nenhuma cidade grande com crescimento acelerado de casos, caso de Amazonas, Santa Catarina e Minas Gerais.

O monitor da Folha de S.Paulo avalia e classifica a situação em cada local de acordo com cinco possibilidades: inicial, acelerado, estável, desacelerado e reduzido.

A fase inicial é aquela em que surgem os primeiros doentes. O Brasil já não tem nenhuma cidade com mais de 100 mil habitantes nessa situação.

A etapa acelerada é aquela em que há aumento rápido do número de novos casos. Na estável, ainda há número significativo de pessoas sendo infectadas, mas a quantidade de novos casos é constante.

Quando o número de novos casos cai ao longo do tempo de maneira considerável, tem-se a fase de desaceleração. Já na etapa reduzida há poucos casos novos (ou nenhum), levando em consideração o histórico da epidemia naquele lugar –não há nenhum município nessa fase atualmente.

Um município que passou por um período de aceleração e chegou à estabilidade ou desaceleração pode retornar ao estágio acelerado caso a pandemia se descontrole.

A cidade que passou mais tempo consecutivo em estágio acelerado foi Uberaba, em Minas Gerais. Foram 160 dias de aumento rápido de infectados, entre maio e outubro do ano passado.

Nas primeiras semanas de maio, o município tinha um novo caso diagnosticado diariamente. Em setembro, a média de testes positivos passava de cem por dia.

Aquela não foi a única vez em que a pandemia esteve fora de controle na cidade mineira. Entre o início de novembro e o começo de março, Uberaba contou 54 dias seguidos de crescimento acelerado da Covid.

Nesse período, os casos explodiram e a ocupação de leitos de UTI na cidade ultrapassou os 90%. Sediada no município e prevista para esta semana, a Expozebu, principal feira agropecuária do país, teve suas atividades presenciais canceladas e acontecerá somente de forma virtual.

Ao todo, Uberaba registrou mais de 700 mortes (210 a cada 100 mil habitantes) e mais de 20 mil infectados. Hoje, o município está na etapa desacelerada, com queda de novos casos.

Das 75 cidades em aceleração atualmente, 25 estão nessa fase há mais de um mês.

A maior é Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo. Com 1,4 milhão de habitantes, o município vê os diagnósticos crescerem desenfreadamente há um mês e meio.

No estado, Guarulhos é a segunda cidade com mais mortes, com mais de 3.400 óbitos.

A campeã é a capital, com quase 27 mil vidas perdidas. Neste momento, São Paulo se encontra na fase estável: os casos continuam crescendo, mas em ritmo constante.

Na quarta (28), o governo estadual flexibilizou medidas de isolamento social e estendeu o horário de funcionamento dos setores de comércio e serviços, que poderão funcionar das 6h às 20h.

Já Maracanaú, na região metropolitana de Fortaleza, acumula 82 dias seguidos em aceleração, maior período entre as 25 com crescimento acelerado há mais de um mês.

Em março, a cidade chegou a ter ocupação de 100% dos leitos hospitalares reservados para pacientes com Covid.

O município reflete a situação do Ceará, que tem alta de casos há quase três meses, apesar das medidas de restrição determinadas pelo governo de Camilo Santana (PT) desde fevereiro.

Considerando toda a pandemia, a cidade de Ponta Grossa, no Paraná, é a que mais acumula dias em estágio acelerado. São 255 (ou oito meses e meio), que se distribuem entre três períodos.

O maior deles ocorreu entre maio e outubro do ano passado. Foram 156 dias, o terceiro maior marco do país em dias consecutivos. Fica atrás de Uberaba e de Joinville, em Santa Catarina, com 159. Todas as três cidades estão atualmente em desaceleração.

Na semana passada, a Câmara Municipal ponta-grossense aprovou um projeto para distribuir pelo SUS um kit de tratamento precoce contra a Covid-19.

Os medicamentos não têm eficácia comprovada contra a doença, e há casos de mortes notificadas pela Anvisa pelo uso abusivo e indevido das drogas.

Dos 5.570 municípios brasileiros, apenas 70 nunca entraram na fase de aceleração. São municípios pequenos (o maior tem 12 mil habitantes), que registraram poucos casos, em geral espalhados ao longo do último ano.

Nas cidades pequenas, contudo, a qualidade dos dados costuma ser menor, com notificações nem sempre regulares. Frequentemente há períodos de represamento, com divulgação de acumulados que não traduzem adequadamente o comportamento da Covid ao longo dos dias.

Por essa razão, para medir diariamente o ritmo de crescimento da pandemia, o monitor da Folha de S.Paulo analisa apenas as informações dos municípios com mais de 100 mil habitantes, com volume de dados mais constante.

O monitor parte de um modelo estatístico desenvolvido pelos pesquisadores da USP Renato Vicente e Rodrigo Veiga e se baseia na evolução dos casos em cada local. Tem como parâmetro um intervalo de 30 dias, com mais peso para o período mais recente.

Com isso, é medida a aceleração da epidemia, ou seja, a forma como o número de novos casos cresce ou diminui. Os números são atualizados diariamente (a cada atualização, o dia mais antigo da série de 30 dias sai do cálculo).