Homem sobrevive a vulcão e tsunami em Tonga depois de ficar 27 horas à deriva

Homem sobrevive a vulcão e tsunami em Tonga depois de ficar 27 horas à deriva

Era noite, continuou Folau, e a visibilidade estava bastante limitada. O carpinteiro disse que só conseguia ouvir a sobrinha pedindo socorro e seu filho o chamando. Neste momento, ele afirmou ter feito uma escolha difícil para salvar a vida do filho.

“Como pai, mantive o silêncio, pois se eu respondesse, ele pularia [no mar] e tentaria me resgatar”, disse. Ele se agarrou em um tronco entre as ondas, na esperança de que, se morresse, pudesse ter o corpo localizado pela família.

Começaram, então, o que seriam em torno de 27 horas à deriva após o tsunami. A princípio, Folau disse ter ficado próximo à ilha de Toketoke, a leste de Atata. Ainda flutuando, contou ter visto dois barcos de patrulha marítima e acenou aos agentes, que não o viram.

O carpinteiro então tentou chegar à ilha de Polo"a, em uma saga que ele estima ter durado cerca de oito horas a nado. O que o mantinha disposto, segundo seu relato, era a lembrança de outros familiares –a sobrinha cujo destino em alto mar ele desconhecia, uma irmã que tem diabetes e sua filha mais nova que tem problemas cardíacos.

Por volta das 22h do domingo, Folau conseguiu chegar a Sopu, que fica no extremo oeste da capital de Tonga, Nukualofa. Ele disse que estava praticamente se arrastando até uma estrada quando foi visto e resgatado por um motorista que passava pelo local.

Não há informações oficiais sobre o que aconteceu com os familiares de Folau, mas até esta quinta-feira (20), nenhum dos três óbitos confirmados em Tonga ocorreu em Atata.

Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, Erika Radewagen, presidente da Associação de Natação da Samoa Americana, descreveu o relato de Folau como “absolutamente impressionante”.

“Mesmo nadadores muito experientes têm limites físicos, mas é preciso uma mentalidade diferente para fazer o que ele fez”, disse Radewagen. “Não é como se ele tivesse caído de um barco. Ele estava escapando de um vulcão em erupção e foi varrido por um tsunami.”

Nas redes sociais, o relato de Folau viralizou e rendeu a ele o apelido de “Aquaman da vida real”, em referência ao super-herói dos quadrinhos e do cinema.

Moradores de Tonga podem ficar sem água potável Um levantamento das Nações Unidas estima que cerca de 84 mil pessoas, mais de 80% da população de Tonga, foram gravemente afetadas pelo desastre. Agora, segundo a ONU, o maior problema dos tonganeses é o risco de escassez de água potável.

“Cada casa tem seus próprios tanques de abastecimento de água, mas a maioria deles está cheia de cinzas [vulcânicas], então não é seguro”, disse à agência de notícias Reuters a jornalista Marian Kupu.

Os resíduos da erupção do vulcão Hunga Tonga-Hunga Ha"api também estavam impedindo o pouso de aviões carregados de ajuda humanitária enviados por países como Austrália e Nova Zelândia. Nesta quinta, porém, após um longo esforço de limpeza das pistas, as aeronaves conseguiram aterrissar.

Um avião Hercules C-130 da Força Aérea neozelandesa levou toneladas de suprimentos de emergência. O país vizinho também enviou, por meio de um navio, 250 mil litros de água potável e equipamentos para dessalinização capaz de produzir mais 70 mil litros por dia.

Já um Boeing Globemaster C-17 australiano carregou equipamentos para a construção de abrigos e cozinhas temporários, além de mais materiais para tornar potável a água do mar.

Em um discurso transmitido por uma rádio local, o rei de Tonga, Tupou 6º, pediu que a população tenha coragem e trabalhe duro para o processo de reconstrução do país.