Estudo detecta coronavírus em esgoto de SC em novembro

Estudo detecta coronavírus em esgoto de SC em novembro

 

As amostras estavam congeladas e o resultado da pesquisa foi divulgado ontem. A descoberta inédita é descrita na pesquisa SARS-CoV-2 in human sewage in Santa Catarina, Brazil, November 2019, de pesquisadores da instituição federal no Estado, da Universidade de Burgos (Espanha) e da startup BiomeHub. O artigo científico passa por revisão e teve versão preliminar distribuída pelo site MedRxiv.

A pesquisadora Gislaine Fongaro, do Laboratório de Virologia Aplicada da universidade, explicou que a descoberta não significa que a pandemia teve origem no Brasil, mas que ela começou antes do que se imagina. Ela lembra que estudos semelhantes encontraram o SAR-CoV-2 no esgoto de Wuhan, na China, em outubro, e na Itália no início de dezembro, antes do vírus ser descrito, em 31 de dezembro. "Devemos, sim, olhar para amostras retroativas de pacientes também, se tivermos essas amostras, para entender o fluxo do vírus", indicou Gislaine. A pesquisadora diz que o desconhecimento da doença mundialmente antes de dezembro pode ter impedido o diagnóstico correto em pacientes.

"Antes disso (da descrição do vírus), não se tinha como desconfiar porque não se sabia que o vírus existia. Talvez com esse estudo a gente consiga, agora, olhar para amostras retroativas também de pacientes para saber desde quando o vírus circulava. É possível que pacientes com problemas pneumônicos ou outros problemas respiratórios poderiam estar com SAR-CoV-2, mas não se buscava ele", explicou ela nesta quinta. O estudo também é o primeiro nas Américas a analisar o esgoto de forma retrospectiva. Em quatro coletas seguidas, o estudo apontou um avanço na presença de genomas do vírus nas amostras analisadas.

A carga constatada em 27 de novembro foi considerada baixa: 100 mil cópias de genoma do vírus por litro. Depois disso, em 11 de dezembro e 20 de fevereiro, as amostras deram positivo em doses mais elevadas. Até que em 4 de março a carga de SARS-CoV-2 chegou a 1 milhão de cópias por litro de esgoto.

"As pessoas não precisam ficar apavoradas com contaminação. O esgoto só é uma representatividade do que já tem na população", disse a pesquisadora. Questionadas se a amostra pode apontar a origem do vírus e se ele poderia ter sido trazido por uma única pessoa, as pesquisadoras dizem que estudos futuros podem ajudar a descobrir de forma mais precisa a origem do vírus. "Estamos trabalhando no genoma completo dos vírus dessa amostra e podemos fazer análise comparativa com o que já se tem de estudos em banco de dados", explicou Patrícia Hermes Stoco, do Laboratório de Protozoologia da UFSC.