CNJ diz que juiz que trabalha em casa deve ter ajuda de servidor que já teve Covid

CNJ diz que juiz que trabalha em casa deve ter ajuda de servidor que já teve Covid

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) determinou que o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) encaminhe a um de seus magistrados um funcionário exclusivo para ajudá-lo durante o home office. A decisão é da conselheira Maria Tereza Uille Gomes e foi tomada em favor do desembargador Carlos Alberto Lopes. Ela exige ainda que o TJ providencie alguém para essa missão que "já tenha sido infectado pela covid-19 e esteja recuperado da doença".

O presidente do TJ-SP, desembargador Geraldo Francisco Pinheiro Franco, vai recorrer da decisão, que pode abrir precedente para outros tribunais. O jornal O Estado de S. Paulo procurou o CNJ, mas não obteve resposta.

Em sua decisão, a conselheira determinou ainda que o TJ-SP "avalie a pertinência de modificar o horário de início da sessões de julgamento da 18.ª Câmara de Direito Privado". É justamente nesta câmara que o desembargador Lopes trabalha.

Por fim, Maria Tereza determinou que, escolhido o funcionário para atender Lopes em casa, o tribunal deverá então oferecer os meios necessários para que o mesmo tenha "condições de contato com a equipe do gabinete do desembargador e de promover suporte ao magistrado, para fins de realização de seus deveres funcionais".

Em tese, para proferir decisões e registrar seus votos, todo desembargador deveria saber lidar com o sistema de processo digital do tribunal, até para poder usar a assinatura eletrônica

Segundo o jornal O Estado de S. Paulo apurou, logo no começo da pandemia, quando o TJ-SP decidiu adotar o trabalho virtual, o desembargador teria recorrido contra a medida ao presidente do tribunal, que negou seu pedido. Lopes alegava ter necessidade de um "funcionário exclusivo" para assessorá-lo.

De acordo com a assessoria do tribunal, o pedido de trabalho presencial estava em "absoluta dissonância com a recomendação de isolamento social". O TJ-SP afirma que as mudanças promovidas no modo de trabalho tiveram o objetivo de preservar o bem-estar e a saúde de todos. "O tribunal insiste que os protocolos estabelecidos devem ser seguidos por todos." Há 360 desembargadores no TJ-SP.

Para o diretor da Faculdade de Direito do Largo São Francisco e professor de Direito Administrativo, Floriano de Azevedo Marques, a decisão do CNJ deve ser reformada. "Provavelmente, essa decisão será reformada pelo pleno por ser inviável e incompatível com a isonomia de todos os magistrados. Onde vão encontrar tantos funcionários curados?"

O jornal O Estado de S. Paulo procurou Lopes por meio da assessoria do tribunal, mas não obteve resposta. Desembargadores ouvidos pela reportagem se mostraram inconformados com a decisão do CNJ, pois acreditam que ela expõe o tribunal e a magistratura a críticas, levando a sociedade a pensar "erroneamente" que a classe goza de privilégios e mordomias.

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