Annita contra coronavírus: o que se sabe sobre vermífugo defendido pelo ministro da Ciência
O que comprovaria este sucesso seria, segundo o governo, um ensaio clínico (envolvendo humanos) com o medicamento — normalmente uma etapa mais importante e criteriosa em experimentos com remédios, um passo além de testes in vitro. Entretanto, o governo ainda não divulgou, nem para a imprensa e nem para a comunidade científica, qualquer documento com resultados do estudo.
Mas não carece de publicação apenas este estudo coordenado pelo Ministério da Ciência e da Tecnologia. Segundo dados do sistema COVID-NMA, em que são registrados projetos de pesquisa de todo o mundo, não foi publicado ainda qualquer estudo com a nitazoxanida envolvendo pacientes. Dos mais de 1,9 mil ensaios com vários remédios registrados ali, 24 projetos envolvem o antiparasitário — a maioria deles no Brasil (7 ensaios), Egito (7) e Estados Unidos (3). Alguns destes já estão recrutando pacientes, mas nenhum deles foi concluído e publicado.
Um artigo publicado por cientistas egípcios no periódico Journal of Genetic Engineering & Biotechnology indicou que a nitazoxanida seria uma boa candidata para ensaios clínicos por ter mostrado, em algumas pesquisas in vitro, ação contra o coronavírus. Também favoreceria sua ação antiviral já documentada contra outros coronavírus, vírus da influenza, hepatite C e B.
Entretanto, mesmo in vitro o sucesso da nitazoxanida não pareceu unânime: um estudo divulgado em plataforma de pré-print (ainda sem a chamada revisão de pares e publicação em revista científica) por pesquisadores brasileiros afastou sua eficácia contra o coronavírus
Hoje, este medicamento é comercializado no Brasil por várias empresas, inclusive como genérico, e na bula serve para tratar gastroenterites virais e vermes intestinais, entre outros. Seu uso é contraindicado para pessoas com diabetes, doenças no fígado e no rim, além daqueles com alergias a componentes da fórmula.
O uso proposto pelo governo seria de "reposicionamento" — ou seja, o uso de um remédio já existente nas farmácias com outra finalidade original que não o tratamento de covid-19.
Segundo afirmou em vídeo institucional, o ministro da Ciência e Tecnologia (MCTIC), Marcos Pontes, a nitazoxanida tem os benefícios de ser produzido no Brasil, barato e com efeitos colaterais reduzidos. Em julho, Pontes anunciou que teve covid-19 e se tratou voluntariamente usando a nitazoxanida.
Responsável por coordenar os ensaios, a médica e professora Patrícia Rocco, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, afirmou no evento desta segunda-feira (19/10) que os ensaios clínicos com o antiparasitário envolveram 1.575 voluntários em sete unidades de saúde de São Caetano; Barueri; Juiz de Fora; Sorocaba; Distrito Federal; Bauru; e Guarulhos. Eles foram divididos em um grupo que recebeu, entre junho e agosto, o antiparasitário e, outro, placebo (um medicamento inócuo).
Segundo anunciado, pacientes que receberam a nitazoxanida tiveram maior redução da carga viral e resultados negativos para coronavírus mais rápido.
De acordo com a assessoria de imprensa do MCTIC, os detalhes do ensaio ainda não foram apresentados porque estão sendo analisados para publicação em um periódico científico internacional — caso contrário, sua divulgação romperia com o ineditismo da pesquisa, o que é desejável neste meio.
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