"Não tiraram minha história", dizem atletas negros após exclusão de lista da Fundação Palmares

 

Os esportistas reagiram à decisão da Fundação Palmares, entidade ligada ao Ministério da Cultura, cuja presidência está nas mãos de Sérgio Camargo desde o início do mandato de Jair Bolsonaro (sem partido). A velocista paralímpica Terezinha Guilhermina, por exemplo, lamentou a decisão, mas ressaltou que as conquistas não podem ser esquecidas.

"Não deixo te ter feito as coisas que fiz. Com ou sem homenagem continuarei a ter a minha história, me tiraram da lista, mas não tiraram minha história. Tomara que eu volte para a lista, mas não vou poder presenciar. É desnecessário, dá para homenagear todo mundo. Caberia todo mundo", disse Terezinha, que é dona de oito medalhas paralímpicas, com dois ouros nos 200 metros rasos, em Pequim-2008 e Londres-2012.

Com 13 medalhas paralímpicas na carreira, incluindo três ouros nos 100 metros rasos, Ádria Santos também se mostrou incomodada com a situação. Para ela, a medida da Fundação Palmares atrapalha a busca de atletas negras por espaço no esporte.

"Fico triste, foi uma homenagem pelo meu feito no esporte. Excluir é uma palavra tão forte. Fiquei surpresa e ao mesmo tempo triste com isso. Acho que as pessoas estavam lá por mérito, como eu, por representar o país, por tudo que fiz", afirmou.

"A gente não deveria excluída, deveria ser incluída com homenagens. Fizemos tudo com dedicação, amor. É triste saber que abrimos mão de tantas coisas para colocar nosso país lá em cima. Sempre tive orgulho de usar as cores do país. É triste. A gente vem lutando para conseguir espaço e isso acontece. É complicado, é até difícil falar", completou Ádria.

Janeth, uma das referências do basquete nacional, também lamentou a atitude da Fundação Palmares. "Tudo isso só confirma que o nosso país não consegue valorizar o que nós atletas e outras pessoas fazem pelo Brasil. É triste, mas a gente respeita", frisou.

Em contato por telefone, Joaquim Cruz, que mora nos Estados Unidos, foi pego de surpresa pela exclusão. Ele também considerou anormal a medida da entidade. "Retiraram esses nomes por que nós não estamos fazendo mais nada? Não entendo. Precisa ter uma explicação melhor", ressaltou o campeão olímpico nos 800 metros rasos, em Los Angeles-1984 e prata em Seul-1988.

Já o ex-boxeador Servílio de Oliveira, que conquistou uma medalha de bronze nos Jogos de 1968, no México, disse acreditar que tal medida está ligada à polarização do país. Vanderlei Cordeiro de Lima, prata na maratona da Olimpíada de 2004, em Atenas, foi procurado para comentar a atitude da Fundação Palmares, mas não atendeu à ligação, tampouco retornou a mensagem enviada.

Matérias Relacionadas

Publicado primeiro em Banda B » "Não tiraram minha história", dizem atletas negros após exclusão de lista da Fundação Palmares