Lentidão do Governo Federal e críticas são entraves para vacina da Pfizer

Lentidão do Governo Federal e críticas são entraves para vacina da Pfizer

 

Ao falar com apoiadores na segunda-feira, o presidente questionou a razão de nenhum fabricante ainda ter pedido o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para distribuir vacinas no País: “O Brasil tem 210 milhões de habitantes, um mercado consumidor de qualquer coisa enorme. Os laboratórios não tinham que estar interessados em vender para a gente? Por que eles não apresentam documentação na Anvisa?”.

Após a declaração, a Pfizer reagiu e divulgou nota em que justifica a ausência de um pedido de uso emergencial do seu imunizante justamente pela falta de acordo com o Brasil. O laboratório disse que só poderia cumprir exigências da Anvisa, como definição de quantidade de doses e cronograma, após a “celebração do contrato definitivo”, o que ainda não ocorreu.

A empresa chegou a afirmar que havia desistido do aval emergencial e que entraria apenas com o pedido de registro definitivo – sob a alegação de que os dados de desenvolvimento do imunizante já estão sob análise da Anvisa, no processo chamado de “submissão contínua” -, mas ontem disse que voltaria a avaliar a estratégia (mais informações nesta pág.).

Em audiência pública na Câmara, o presidente da Pfizer, Carlos Murillo, citou que a demora em fechar contrato com o País criava “limitações” sobre a disponibilidade de doses. Procurada anteontem, a Pfizer disse que “em momento algum perdeu interesse no Brasil”.

O secretário executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco, questionou a justificativa dada pela empresa. Segundo ele, a avaliação para uso emergencial da Anvisa é semelhante à da FDA, agência federal dos EUA. “Me causa espécie o pronunciamento de que estava com dificuldade pelas solicitações da Anvisa. Os aspectos são os mesmos da FDA para uso emergencial.”

Reserva

Mesmo sem o contrato, o plano de imunização do Ministério da Saúde prevê que a Pfizer reserve 500 mil doses em janeiro. O documento ainda estima 2 milhões de doses da farmacêutica no primeiro trimestre. A soma até a metade do ano seria de 8,5 milhões e no segundo semestre, mais 61 milhões.

Antes de firmar um memorando de entendimento com a Pfizer, Pazuello chegou a comentar nos bastidores, de forma irônica, que a proposta da farmacêutica não servia nem para imunizar Brasília, que tem cerca de 3 milhões de habitantes.

Bolsonaro também tem tratado a proposta da Pfizer com desdém. “Lá no contrato está bem claro: "Não nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral. Se você virar um jacaré, é problema de você'”, disse no dia 17, em Porto Seguro.

A principal aposta do governo federal é a vacina desenvolvida pela farmacêutica AstraZeneca e pela Universidade do Oxford, que será produzido na Fiocruz. Além disso, o ministério tem acordo para receber doses para 10% da população por meio do consórcio internacional Covax Facility, que ainda não definiu qual imunizante ofertará. Em relação à Coronavac, desenvolvida pela chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantã, o governo também possui apenas um memorando de entendimento, sem obrigação de compra.

Laboratório volta a estudar pedido de uso emergencial

Após reunir-se ontem com dirigentes e técnicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a farmacêutica Pfizer mudou de posição e afirmou que voltou avaliar se pede autorização para uso emergencial de sua vacina contra a covid-19 no Brasil.

A Anvisa estima que levará até dez dias para avaliar um pedido de uso emergencial. Ainda não há solicitação desse tipo em tramitação na agência.

A farmacêutica também informou que, mesmo se optar pela avaliação para o uso emergencial, manterá ainda as tratativas junto à Anvisa para obter registro definitivo.