"Não podemos viver numa caverna": turistas ignoram covid e dizem não se arrepender das festas

“Não podemos viver numa caverna com medo de tudo”, diz Peter* (nome fictício) sobre a pandemia de covid-19. “Não me arrependo de ter vindo para cá. Estou me divertindo muito. Eu e meus amigos estamos indo a todas as festas”, acrescenta ele, que vive em Londres e viajou ao Brasil de férias para o Ano Novo.

Festas de fim de ano no Rio – reprodução redes

Peter refere-se a festas como a Revolution Party, que aconteceu em um beach club do Rio de Janeiro na semana passada e foi interrompida pelas autoridades por não cumprir as exigências para sua realização, como uso de máscaras e distanciamento social.

Imagens que circularam nas redes sociais mostram o espaço lotado e frequentadores dançando perto um dos outros.

“Acho que o que as pessoas esquecem é o custo de conter a covid-19: suicídio, desemprego, problemas mentais, violência doméstica”, enumera Peter. “Levando tudo isso em consideração, é melhor deixar o coronavírus correr solto”, completa.

Questionado se tem tomado precauções, como uso de máscaras ou distanciamento social, ele diz que usa proteção facial “quando é solicitado”.

“Mas aí todo mundo beija todo mundo nas festas”, ri.

A BBC News Brasil conversou com outros estrangeiros que viajaram ao Brasil de férias para o período de festas, também sob condição de anonimato por temerem represálias. Alguns contam ter decidido “fechar” o perfil no Instagram (quando as imagens só ficam disponíveis para os seguidores aprovados), especialmente após contas na rede social terem sido criadas para expor os que violam as regras.

Um deles que passou o Ano Novo em Trancoso disse que os brasileiros “pouco se importam com o coronavírus”.

“As ruas estavam cheias de gente sem máscara”, destacou.

Ele ressalvou, no entanto, que tenta evitar multidões. “Não me meto em grupos e evito festas com desconhecidos”.

Na semana passada, uma reportagem da BBC News Brasil alertou para os riscos de pessoas participarem de aglomerações e aumentarem a transmissão do vírus.

O impacto, segundo epidemiologistas, começa no local da festa e depois coloca em risco familiares, colegas de trabalho e outras pessoas do convívio social que não necessariamente participaram de comemorações.

“Nem todo mundo tem a percepção de que o problema é que ele vai ser o transmissor para o pai dele ou que vai passar doença para o amigo, que vai passar para o pai. As pessoas não têm percepção de quanto fazem parte dessa cadeia”, disse o epidemiologista Márcio Bittencourt.

À reportagem ele destacou o risco para as pessoas do entorno que não têm a opção de controlar o contato, como familiares e colegas de trabalho.

“Tenho uma amiga que mora com os pais de 90 anos. Se ela pegar e passar para os pais, eles têm risco de morrer pela atitude dela. E não é questão de se ela vai ter ou não um caso complicado (de covid-19). Se ela, depois de voltar da festa, for viver no convívio familiar com os pais que moram com ela, não há escolha. O risco está presente”, acrescentou.

O Brasil já registrou quase 200 mil mortes devido à covid-19 e segue como o segundo país com maior número de mortes na pandemia do novo coronavírus, depois apenas dos Estados Unidos.

Leia a reportagem completa da BBC AQUI