Moradores de Manaus se aglomeram em fila por cilindro de oxigênio

Moradores de Manaus se aglomeram em fila por cilindro de oxigênio

A maioria dos que ocupam um lugar na fila adquiriram o cilindro por conta própria. Mas há casos em que as próprias unidades de saúde cedem o equipamento para a família do paciente arcar com o abastecimento.

Para aguentar o calor à espera do oxigênio engarrafado, muito guaraná e a solidariedade do vizinho de fila que, vez ou outra, oferece água e até uma cadeira para um descanso rápido.

Michele Alves, 37, empresária do ramo gráfico, buscava encher um cilindro para levar oxigênio ao cunhado, que se recupera em casa da Covid-19 e não quis enfrentar os percalços de uma unidade hospitalar da cidade.

“Nem que eu saia amanhã, mas só deixarei essa fila com o oxigênio para ele” disse a empresária.

A reportagem passou algumas horas na fila e percebeu que ela andou para as pessoas que tinham o receituário de uma unidade pública recomendando a compra do produto.

Parentes de pacientes internados nos hospitais com o quadro de Covid-19, fazem fila para recarregar cilindros de oxigênio na frente da empresa Nitron da Amazônia, no Distrito Industrial II de Manaus (AM), na tarde desta sexta-feira (15). (Foto: Sandro Pereira/Folhapress)

Como em toda fila que se preze, os rumores de “o oxigênio acabou” eram constantes e deixavam os ânimos exaltados.

A Polícia Militar do Amazonas estava no local para manter a segurança das pessoas e controlar uma possível invasão da fábrica que já disse operar acima de sua capacidade.

Ao acompanhar os cilindros em fila indiana, a reportagem notou que todos eles têm um nome e um contato telefônico.

A nomeação do cilindro faz sentido: para o abastecimento avançar, eles são empilhados e levados numa carroceria para dentro da fábrica. Ao final do processo, os donos certificam do abastecimento, fazem o pagamento e os levam para o uso.

O engenheiro Josiney Vicente, 49, busca oxigênio para a mãe, de 69 anos, que está com Covid-19. “Minha mãe ficou 16 horas esperando atendimento no hospital”, lembra.

Vicente estava na fila e buscava encher um cilindro de 1 metro cúbico. “Mas não pense você que porque é um cilindro menor que a vida é mais fácil. Não é”, disse.

A reportagem deixou o local por volta das 19h, início do toque de recolher imposto pelo governo do Amazonas, e nem Josiney nem Michele tinham conseguido abastecer seus cilindros.

Uma equipe de policiais militares percorreu a fila e avisou: o toque de recolher começaria logo em seguida, e não seria mais disponibilizado oxigênio nesta sexta-feira.

“Caso os senhores não deixem o local, serão conduzidos à delegacia”, disse um policial.

COLAPSO DA SAÚDE

A explosão de novos casos da Covid-19 fez com que a demanda por oxigênio chegasse a 76 mil metros cúbicos diários no Amazonas.

Por outro lado, a produção diária de White Martins, Carbox e Nitron, que são as três fornecedoras do insumo para o governo do Amazonas, é 28,2 mil metros cúbicos por dia. A White Martins tenta importar o produto da Venezuela.

Na madrugada dessa sexta-feira, a Força Aérea Brasileira desembarcou em Manaus uma carga de 6.000 litros de oxigênio líquido da empresa White Martins, fornecedora do Governo do Estado.

A carga veio de São Paulo, transportada em seis isotanques de mil litros, e vai ser distribuída nos hospitais da rede estadual.

Falta de oxigênio para os paciente da Covid-19 em hospitais de Manaus (AM), nesta quinta-feira (14). Familiares de internados precisam comprar oxigênio para manter os seus parentes vivos. (Foto: Junio Matos/A Crítica/Folhapress)

A previsão é que um total de 22 mil metros cúbicos de oxigênio sejam encaminhados ao longo da semana para Manaus, em operação a partir de Guarulhos, cidade da Grande São Paulo.

Com o apoio da FAB, o governo do Amazonas iniciou nesta sexta-feira a transferência de pacientes com Covid-19 para hospitais de outros estados.

Em uma mudança do plano previsto inicialmente, apenas nove pacientes que estavam internados na rede pública estadual foram transferidos para Teresina, no Piauí. A expectativa era que fossem enviados 30.

De acordo com o governo do Amazonas, quatro pacientes apresentaram instabilidade e, por isso, não puderam ser embarcados. Outro paciente desistiu.

Estes foram os primeiros pacientes 235 que serão enviados para cinco estados brasileiros. Um segundo grupo de 15 pacientes deve ser encaminhado para São Luís, no Maranhão, também nesta sexta-feira.