China diz que declaração de independência de Taiwan significa guerra

China diz que declaração de independência de Taiwan significa guerra

As Forças Armadas chinesas disseram nesta quinta (28) que uma declaração de independência de Taiwan “significa guerra” e que está se exercitando em torno da ilha para evitar “influência estrangeira” -ou seja, dos Estados Unidos.

Ainda que sempre faça gestos asseverando sua posição sobre o que considera uma província rebelde, a retórica militar nunca foi tão explícita.
“Nós alertamos: quem brinca com fogo vai se queimar, e "independência de Taiwan" significa guerra”, afirmou Wu Qian, porta-voz do Ministério da Defesa chinês.

Ele respondia a uma questão sobre os recentes movimentos de aviões e navios militares no estreito de Taiwan, que coincidiram com a posse do presidente americano Joe Biden na semana passada e o envio de um porta-aviões dos EUA para a região.

 

 

“As atividades são ações necessárias para tratar da situação de segurança atual no estreito de Taiwan. São uma resposta solene à interferência externa e às provocações das forças de independência de Taiwan”, disse.

A elevação de tom segue a mudança de governo nos EUA. Durante a gestão de Donald Trump, Washington fez uma aproximação grande com a ilha, governada desde a Revolução Chinesa de 1949 por forças derrotadas pelos comunistas.

Embora mantenha relações diplomáticas com a China desde 1979, o que implica reconhecer a demanda de Pequim de soberania sobre Taiwan, os EUA mantêm um acordo de proteção militar à ilha e a tem como cliente de material de defesa.

Ao mesmo tempo, não a reconhece como um país independente. Taiwan se autodenomina República da China e diz ser independente, mas com o cuidado de não fazer uma proclamação formal.

Pequim sempre disse que poderia usar a força para retomar o controle da ilha, embora do ponto de vista militar essa seja uma tarefa que analistas consideram extremamente custosa e que implicaria o risco de uma guerra com os EUA.

Ainda assim, a fala sem rodeios de Wu é inusual e sinaliza um teste para a administração Biden. Trump havia passado 2020 enviando altos funcionários do seu governo para visitar a ilha, irritando os chineses, mas não chego ao ponto de promover uma visita de seu secretário de Estado.

O Pentágono, por sua vez, afirmou que a Marinha americana será mais agressiva contra a expansão de Pequim neste ano.

O governo Biden ainda não delineou claramente o que quer em sua relação com os chineses, embora tenha dito que a relação com Taiwan é “sólida como uma rocha”.

O americano tirou um bode da sala ao estender um acordo nuclear pendente com a Rússia e está promovendo uma agenda ambiciosa na área climática, mas as pendências da Guerra Fria 2.0 iniciada por Trump estão à espera.

Seu novo chefe diplomático, Antony Blinken, apenas confirmou em depoimento ao Senado que concordava com a qualificação dada pela gestão Trump ao tratamento dispensado por Pequim a muçulmanos no oeste chinês: genocídio.

Enquanto isso, os tambores de guerra do líder Xi Jinping vão sendo tocados nas águas em torno da China, sua principal preocupação estratégica por serem a linha vital de entrada e saída de comércio.

Nesta quinta, seis aviões, inclusive quatro caças J-10, foram enviados até a zona de defesa aérea de Taiwan para testar a rapidez operacional de resposta da ilha.

No mar do Sul da China, foco de tensão porque a ditadura comunista o considera 85% seu e os EUA não reconhecem isso, um grupo de porta-aviões americano está em manobras. Pequim reagiu promovendo exercícios militares relâmpago na área.

Enquanto analistas não acreditam ser do interesse das potências rivais um embate militar, o risco de um choque acidental permanece nessas regiões disputadas. No caso de Taiwan, pelas implicações diplomáticas e a importância política para a China, a situação é ainda mais delicada.

A presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen, eleita democraticamente, tem insistido em que seu país é livre, mas enfrenta pressão interna por uma declaração formal. A China deixou nesta quinta claro o que todo mundo já sabia: o que tal movimento significa para o país.