Reino Unido se prepara para sair do lockdown após queda de 81% nos casos de Covid-19
A partir de 8 de março, as escolas devem reabrir no país e, no final do próximo mês, encontros entre amigos e familiares serão permitidos, como resultado de uma queda nos casos de Covid-19, auxiliada por uma das campanhas de vacinação mais rápidas do mundo.
“Hoje traçarei um roteiro para nos tirar do lockdown com cautela”, escreveu Boris, em uma publicação no Twitter, antes de apresentar seu projeto ao Parlamento. “Nossa prioridade sempre foi trazer as crianças de volta à escola, que sabemos ser crucial para sua educação e bem-estar. Também priorizaremos maneiras de as pessoas se reunirem com seus entes queridos com segurança.”
Com mais de 120 mil mortes por Covid-19, o Reino Unido é o quinto país com o maior número de óbitos no mundo, atrás de Estados Unidos, Brasil, México e Índia. Mas o ritmo acelerado das vacinações associado a um rígido bloqueio nacional -o terceiro do tipo na Inglaterra, que já dura 49 dias- colaborou para uma queda significativa no número de novas infecções.
Quando Boris decretou o bloqueio, em 4 de janeiro, a média móvel de casos diários beirava os 55 mil. Cinco dias depois, alcançou o pico de 59 mil, o maior já registrado no Reino Unido desde o início da pandemia.
A partir de então, iniciou-se um declínio acentuado na curva de infecções e, segundo os dados mais recentes compilados pela Universidade Johns Hopkins, a média móvel estava em 11.200 no último sábado (20) -o que representa uma queda de aproximadamente 81% no período mencionado.
Ainda assim, o premiê britânico tem adotado uma postura mais cuidadosa se comparada ao que se viu no passado. “Nossas decisões serão tomadas com base nos dados mais recentes em cada etapa e seremos cautelosos quanto a essa abordagem para não desfazer o progresso que alcançamos até agora e os sacrifícios que cada um de vocês fez para se manterem seguros”, disse Boris.
Embora alguns detalhes do plano, como a reabertura das escolas inglesas, já tivessem sido antecipados por ministros, o premiê apresentou o projeto completo ao Parlamento britânico na tarde desta segunda. Autoridades da Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, que são responsáveis por suas próprias políticas de saúde pública, também devem aliviar as restrições nos próximos meses.
O roteiro proposto por Boris tem quatro estágios, com intervalos de cinco semanas entre eles. A etapa final, quando quase todas as restrições estarão suspensas, deve começar, no mínimo, em 21 de junho.
Esses intervalos já haviam sido anunciados previamente pelo ministro da Saúde britânico, Matt Hancock. Segundo ele, as pausas servirão para reavaliar possíveis impactos dos relaxamentos, de modo que o cronograma pode ser alterado de acordo com o cenário epidemiológico do país.
Ao Parlamento, Boris disse que não há um caminho confiável para um Reino Unido livre da Covid-19, ou mesmo um mundo livre da doença. No entanto, segundo o premiê, o país não pode “persistir indefinidamente com restrições que debilitam nossa economia, nosso bem-estar físico e mental e as chances de vida dos nossos filhos”.
“E é por isso que é tão importante que esse roteiro seja cauteloso, mas também irreversível”, prosseguiu Boris. “Estamos iniciando o que eu espero e acredito que seja uma estrada de mão única para a liberdade.”
Escolas serão reabertas em 8 de março, quando será possível duas pessoas de famílias diferentes voltarem a se encontrar. A partir de 29 de março, será possível se encontrar com familiares em parques e praticar esportes ao ar livre.
Cabeleireiros e lojas não essenciais e lugares que servem refeições ao ar livre reabrem a partir de 12 de abril. Restaurantes e pubs poderão atender em ambientes fechados a partir de 17 de maio. Até seis pessoas de duas famílias poderão se encontrar dentro de casa.
Viagens internacionais não essenciais continuam proibidas até 17 de maio, pelo menos. O governo espera que todas as restrições a contatos sociais estejam encerradas em 21 de junho, data em que casas noturnas poderão reabrir.
O premiê afirmou que os britânicos, no longo prazo, deverão aprender a conviver com a Covid-19 da mesma forma que aprenderam a conviver com a gripe. No discurso aos parlamentares, ele louvou a capacidade do país para a produção de vacinas e buscou amenizar as preocupações acerca da eficácia contra as variantes do coronavírus já identificadas.
O Reino Unido fez um acordo com a farmacêutica CureVac, da Alemanha, para garantir a compra de 50 milhões de doses de vacinas contra as variantes do coronavírus. Outros desenvolvedores, como a AstraZeneca/Oxford, também estão procurando redesenhar seus imunizantes para garantir a proteção contra as novas versões do vírus.
“Não temos razão para duvidar de que [as vacinas] são eficazes na redução de mortes e casos graves com as novas variantes”, disse Boris. “Ao longo de alguns meses, veremos novas vacinas para derrotar essas variantes que escapam da vacina.”
Boris tem enfrentado dupla pressão no processo de reabertura. De um lado, colegas do Partido Conservador insistem em uma retomada da economia para recuperar a perda estimada em US$ 3 trilhões (R$ 16,5 trilhões), a pior do país em 300 anos. De outro, a comunidade científica teme novas ondas de contaminação por coronavírus se o fim do lockdown for acelerado demais.
Espera-se que Boris também condicione a flexibilização a fatores como a velocidade e o sucesso do programa de imunização, os índices de infecção e o impacto provocado pelas variantes do coronavírus.
O Reino Unido aplicou cerca de 18,2 milhões de doses da vacina contra a Covid-19 até o último sábado (20), o que coloca o país atrás apenas de Estados Unidos, China e União Europeia no ranking que compara o número absoluto de doses aplicadas.
Já na lista proporcional ao tamanho de cada população, o Reino Unido aparece na terceira posição, logo após Israel e Emirados Árabes Unidos.