"Ele disse que queria o remédio do Bolsonaro", diz filha de paciente morto que recebeu kit covid

Leia o relato:

“Fui diagnosticada com covid no início de dezembro e meu pai, como morava comigo, decidiu fazer o teste. Ele fez o PCR no dia 5 em uma unidade da Prevent Senior e foi orientado a esperar o resultado em casa. Mesmo sem sintomas nem teste positivo, ele já saiu de lá com o kit covid. Tinha
azitromicina, cloroquina, vitaminas, corticoide. Eu e minha mãe também recebemos o kit. Eu cheguei a tomar um comprimido de cloroquina no
primeiro dia, mas passei muito mal e decidi parar. Minha mãe também não tomou.

O corticoide eu sabia que, se dado na fase inicial, pode até piorar a resposta imune, mas não adiantava falar. Ele ficava o dia inteiro vendo esses vídeos do Bolsonaro no YouTube, não queria nem ouvir a gente criticando ele.

No dia 13 de dezembro, depois que ele já tinha tomado cinco dias de remédios, ele começou a ter sintomas e fez um novo teste. Esse deu positivo. Deram mais um kit para ele, mas, três dias depois, ele piorou e foi internado.

Ele nem queria ir ao hospital, achava que estava bem. Esse kit dá uma falsa sensação de segurança. A pessoa vê os outros falando que deu certo e acha que vai funcionar para ela também. Mas não tem nada provado que esses medicamentos funcionam. Tanto é que eu e minha mãe não tomamos e evoluímos melhor que ele.

No dia 19 de dezembro, um dia depois da internação, ele teve duas paradas cardíacas e foi intubado. Três dias depois, ele morreu. A causa foi covid, mas a gente sempre fica pensando se esse monte de remédio pode ter diminuído as chances dele.”

Adoção de qualquer terapia é responsabilidade dos médicos, diz Prevent Senior

Questionada sobre o caso do paciente, a Prevent Senior afirmou que ele “lamentavelmente faleceu em decorrência da covid-19 depois de chegar ao atendimento médico com mais de 50% do pulmão comprometido”.

Sobre os remédios prescritos, a operadora disse que “a adoção de qualquer linha terapêutica é de responsabilidade dos médicos” e destacou que, tanto na primeira quanto na segunda consulta e posterior acompanhamento do paciente, “não houve queixa de qualquer alteração ou eventos adversos
dos remédios”.

A empresa disse ainda que tem monitorado, por meio do seu instituto de ensino e pesquisa, “os resultados e evidências clínicas de mais de 130 mil beneficiários testados para covid-19 nos últimos 12 meses”.

A Prevent defende que “os dados trazem evidências robustas que o conjunto de tratamentos com diversas medicações evita o agravamento da covid-19 por reduzir a inflamação provocada pelo vírus”.

As informações não foram publicadas em formato de artigo científico, mas a empresa afirma que estão disponíveis para “qualquer instituição de pesquisa que queira examiná-los”.