Estou muito triste! Como saber se isso é depressão ou não?

A perda de um ente querido, ser dispensado do emprego, convívio social limitado, esses motivos podem deixar qualquer pessoa triste. A pandemia já dura um ano e dois meses e não tem previsão para acabar. Os efeitos das medidas restritivas levantaram a preocupação da classe médica com uma possível epidemia paralela: a da saúde mental.

Em entrevista à Banda B, a psiquiatra Raquel Heep, professora da disciplina de Saúde Mental do curso de medicina da Universidade Positivo, ressaltou que a pandemia de Covid-19 gerou estímulos crônicos de ansiedade, o que resulta no aparecimento dela como doença no Brasil. “A pandemia dura dois meses, um ano, dois anos, isso está gerando a ansiedade como doença”, afirma a especialista.

Depressão vem acompanhada de vários sintomas. Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

Raquel define a ansiedade como um “estímulo vital diante do desconhecido que nós faz entrar em um mecanismo de luta ou fuga natural para a sobrevivência da espécie”. Além do fator pandêmico, ela cita que questões sociais, desemprego e fatores econômicos também têm prejudicado a saúde mental dos brasileiros.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), antes da pandemia, o Brasil já era o país mais ansioso do mundo, algo que têm se agravado em razão da Covid-19. A especialista destacou que houve aumento na procura por atendimentos psiquiátricos em 2021. No entanto, disse que nem todos os casos de tristeza podem ser classificados como depressão.

“Se torna um quadro depressivo quando além da tristeza tem outros sintomas juntos que causam prejuízo e sofrimento dessa pessoa”, explica Raquel.

Para diferenciar tristeza de depressão, a especialista lista que alguns sintomas específicos precisam aparecer no paciente. São eles: o desânimo profundo por mais de 15 dias, pensamentos suicidas, falta de vontade para desempenhar as tarefas do dia a dia e preguiça de fazer as atividades que dão prazer. Outros prejuízos da depressão são a insônia, alterações no apetite, libido, memória, entre outros.

Mudança nos hábitos

De acordo com a especialista, assim que o paciente perceber que há algo de errado, ele precisa procurar atendimento profissional. Contudo, aliado ao tratamento, existem algumas atitudes que podem ajudar na cura da depressão. A principal delas está nos hábitos saudáveis e em uma alimentação balanceada. Outro cuidado essencial para o dia a dia é com o sono. “Sono de qualidade é muito importante, é um tempo que a gente está ganhando”, afirma Raquel.

Atividades físicas são parte do processo de recuperação da depressão. Foto: Pixabay

A atividade física também é essencial para liberar substâncias que dão prazer e melhorar o humor do dia a dia. Além disso, Raquel cita que é importante limitar o tipo e o volume de informações cibernéticas que são recebidas no dia a dia. Segundo ela, essa pausa das tecnologias fará bem para a saúde mental do paciente. “Pausa para se cuidar, tomar aquele banho mais demorado, fazer aquela refeição sem olhar o celular e ver televisão, esses hábitos são aqueles que a gente mais escuta, mas não faz”, destacou a especialista.

Ajudar os outros

A especialista destaca que muitos pacientes tem dificuldade em procurar atendimento no momento em que entrar no estado depressivo. Quem tiver algum amigo ou conhecido com depressão pode ajudar por meio do diálogo. Para Raquel, é importante que o paciente seja sempre lembrado das características positivas de sua personalidade.

“Lembrar quem essa pessoa era, para que ela diga que ´estou doente´, mas eu não sou doente”, explicou Raquel

Por meio de terapias, trabalho multidisciplinar e com medicação, a psiquiatra destaca que é possível curar o paciente da depressão. Com isso, é preciso informar a pessoa doente sobre os sintomas que ela vem demonstrando e, ao mesmo tempo, mostrar que é possível ajudar esse indivíduo a procurar tratamento.

Para a psiquiatria, o aumento no diagnóstico de doenças mentais na pandemia alerta para a importância do tema. “A gente precisa cuidar da saúde mental hoje”, diz Raquel.