Brasil tem "legião de bebês prematuros" com alta de covid em grávidas

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“Minha irmã falou para eu morar na casa dela durante a gravidez, enquanto eu construía a nossa própria casa. Aqui é todo mundo vizinho, é uma vilinha”, conta o servente de pedreiro.

Mas os planos mudaram de repente, quando Aline, de 31 anos, começou a sentir dor de cabeça, febre e fraqueza. Fez o teste de covid, mas, antes mesmo de receber o resultado positivo, começou a sentir falta de ar e deu entrada no Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA), em Campina Grande.

Três dias depois, sofreu uma parada cardiorrespiratória e os médicos iniciaram uma cesárea de emergência. Foram seis horas tentando salvar mãe e bebês. As meninas nasceram sem respirar, foram reanimadas e levadas para a UTI neonatal. Mas a mãe morreu no mesmo dia, em 30 de maio.

As duas filhas, que nasceram com 26 semanas de gestação, continuam internadas sem previsão de alta.

“Foi um choque muito grande perder Aline assim. A gente não esperava”, diz Expedito. Ao ver as filhas na incubadora pela primeira vez, tão pequenininhas, ele sentiu um misto de emoções.

“Fiquei de coração aliviado de ver minhas filhas e de coração partido, porque perdi minha esposa.”

UTIs neonatais lotadas com "legião de prematuros"

Casos como o de Aline e as gêmeas prematuras estão se tornando rotina na vida de obstetras e pediatras em todo país. A epidemia de covid-19 no Brasil já matou pelo menos 1.461 grávidas, sendo 1.007 apenas neste ano, segundo dados oficiais compilados pelo Observatório Obstetrício Covid-19.

Mas o número é bem maior, segundo especialistas, porque muitos casos de Síndrome Respiratória Aguda (Sars) acabam não sendo testados para covid.

Além disso, as altas nos casos de infecção pelo coronavírus em 2021, com a variante P.1 como cepa prevalente, tem provocado uma “avalanche” de nascimentos de bebês prematuros, lotando maternidades e UTIs neonatais em diferentes cidades do país, segundo neonatologistas e obstetras ouvidos pela BBC News Brasil.

A P.1, primeiro identificada em Manaus e rebatizada de Gamma pela Organização Mundial da Saúde (OMS), é mais transmissível e capaz de driblar parcialmente anticorpos produzidos pela vacina ou por infecções anteriores de covid.

Enquanto em 2020, foram reportados 6.805 casos de grávidas infectadas pelo coronavírus, só nos primeiros cinco meses de 2021, o número foi de 7.679.

“Estamos enfrentando um problema terrível de superlotação, principalmente nos leitos de UTI neonatal covid, porque a gente não pode misturar. É uma legião de prematuros e, muitas vezes, órfãos de mãe”, diz à BBC News Brasil a obstetra Melania Amorim, do Instituto de Saúde Elpídio de Almeida, hospital que realiza cerca de 600 partos por mês na Paraíba.

“Houve aumento muito grande esse ano de internações e casos de covid-19 em gestantes. Se têm aumento em gestantes, também temos número maior dos nascimentos prematuros.”

Pesquisas apontam qque a covid-19 aumenta o risco de morte neonatal e de parto prematuro. E, em alguns casos, quando a grávida desenvolve quadro muito grave da doença, os médicos precisam fazer cesárea de emergência e antecipar a gestação, como ocorreu com Aline.

“A gente tenta levar a gestação adiante, mesmo com a grávida intubada, estabilizando o quadro dela. Mas em alguns casos, é necessário interromper prematuramente, para tentar salvar a vida da mãe e dos bebês”, explica Melania Amorim.

A obstetra paraibana coordena uma pesquisa que envolve sete hospitais em três Estados do Nordeste – Pernambuco, Ceará e Paraíba. Entre esses hospitais estão o ISEA, em Campina Grande, a Maternidade Frei Damião, em João Pessoa, e o hospital da Universidade Federal do Ceará, em Fortaleza.

“Posso dizer com toda certeza que em todos esses centros a taxa de nascimentos prematuros disparou por conta da covid-19”, diz.

“Já aconteceu de ter que recorrer a hospitais de cidade vizinha para arrumar leito para bebê prematuro nascido em cesárea de emergência.”

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