Justiça rejeita ação contra Pazuello por crise de oxigênio em Manaus

A Justiça do Amazonas considerou improcedente uma ação de improbidade administrativa do MPF (Ministério Público Federal) contra o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que esteve à frente da pasta entre 2020 e 2021. O processo pedia a responsabilização de Pazuello pela crise de oxigênio em Manaus em janeiro de 2021, no ápice da pandemia de Covid-19.

A decisão de rejeitar a ação contra o ex-ministro, a ex-secretária de Gestão do Trabalho do ministério, Mayra Pinheiro, e seu sucessor, Helio Angotti, foi tomada com base nas alterações na Lei de Improbidade Administrativa. Essas mudanças na legislação foram decididas no ano passado.

Anteriormente, a lei considerava como comportamentos criminosos “retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício” e “revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que se deva permanecer em segredo”, ambos parte das acusações contra os réus no processo da crise de oxigênio.

*arquivo* BRASÍLIA, DF, 20.05.2021 – O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello presta depoimento aos senadores na CPI da Covid. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)

No entanto, as alterações revogaram esses itens, entre outros, e, dessa maneira, “atualmente, as condutas descritas na petição inicial não se amoldam a nenhuma das hipóteses previstas nos incisos artigo 11 da Lei de Improbidade Administrativa”, escreveu o juiz Diego Oliveira, da 9ª Vara Federal do Amazonas, na sentença.

Sobre as mudanças na Lei e seu papel na inocência dos réus, Oliveira não permitiu questionamentos, afirmando que é “estranho à função típica jurisdicional a adoção de interpretações ampliativas ou a prática de ativismo judicial”.

“Boa ou ruim, a nova lei de improbidade administrativa foi democraticamente concebida pelo Poder Legislativo e ratificada pelo Poder Executivo, por meio da sanção presidencial, sendo estranho à função típica jurisdicional a adoção de interpretações ampliativas ou a prática de ativismo judicial”, apontou o juiz.

Relembre o caso

Em 14 de janeiro faltou oxigênio nos hospitais públicos de Manaus, resultando em superlotação das unidades de saúde e na morte de 60 pessoas no estado do Amazonas.

Com filas nas empresas fornecedoras e ápice no número de casos de covid-19, a crise só foi solucionada por operação que transportou pacientes amazonenses para hospitais em outros estados.

MANAUS, AM, 15.01.2021: CILINDROS-AM – Parentes de pacientes internados nos hospitais com o quadro de Covid-19, fazem fila para recarregar cilindros de oxigênio na frente da empresa Nitron da Amazônia, no Distrito Industrial II de Manaus (AM), na tarde desta sexta-feira (15). (Foto: Sandro Pereira/Folhapress)

Ações contra Pazuello, a ex-secretária de Gestão do Trabalho do ministério, Mayra Pinheiro, e seu sucessor, Helio Angotti, foram iniciadas em diversos órgãos, de maneira a responsabilizar o Ministério da Saúde pela crise.

No processo, afirma-se que “os réus se omitiram no cumprimento de seus deveres funcionais” devido a diversas movimentações citadas por completo abaixo.

  • Retardar o início das ações do Ministério da Saúde no estado do Amazonas;
  • Não supervisionar o controle da demanda e do fornecimento de oxigênio medicinal nas unidades hospitalares do Amazonas;
  • Não prestar ao estado a necessária cooperação técnica quanto ao controle de insumos;
  • Retardar a determinação da transferência de pacientes à espera de leitos para outros estados;
  • Realizar pressão pela utilização “tratamento precoce” de eficácia questionada no Amazonas;
  • Omitir apoio no cumprimento das regras de isolamento social durante a pandemia.