Amazônia tem dia com mais queimadas do que "dia do fogo", de 2019

A Amazônia teve o dia com mais queimadas para um mês de agosto desde 2017. No último 22 de agosto, 3.358 focos de calor foram detectados pelo programa Queimadas, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

O número supera o que ficou conhecido como “dia do fogo”, em 10 de agosto de 2019. Na ocasião, produtores rurais combinaram para o mesmo período queima de pasto e de áreas em processo de desmatamento.

O alerta foi dado pela pesquisadora Ane Alencar, diretora de ciência do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).

O combinado para a realização do “dia do fogo” foi revelado em 5 de agosto pelo jornalista Adécio Piran, do site paraense Folha do Progresso. O repórter chegou a ter que deixar a cidade após ameaças de morte. Todo o movimento foi combinado em grupos de WhatsApp, um deles chamado Sertão e outro com o nome Jornal A Voz da Verdade, integrado por autoridades locais.

Foto: AFP

Os dias que cercam 10 de agosto, de fato, tiveram registros elevados de focos de calor, especialmente o dia 11 de agosto, com 2.366 focos. Até o momento, esse era o maior valor para o mês de agosto. Apesar do recorde, o caso gerou poucas multas ambientais.

Os meses de agosto e setembro costumam ser os períodos com os níveis mais elevados de queimadas na Amazônia, pelo bioma estar em seu período seco.

As queimadas na Amazônia têm relação direta com o desmatamento no bioma. Em geral, após a derrubada da mata, espera-se que a vegetação seque e, em seguida, coloca-se fogo para “limpar” a área. O desmate tem sido constantemente crescente desde o início do governo Jair Bolsonaro (PL).

Em 2019, os elevados números de incêndios na Amazônia criaram uma crise internacional de imagem para o governo Bolsonaro, em seu primeiro ano.

Em 2022, os números de queimadas continuam elevados no país. Maio, por exemplo, um mês com tradicionalmente poucos focos de calor, teve mais de 2.200 queimadas registradas –a média para o mês é de pouco mais de 1.000. O valor é o segundo maior da história, ficando atrás apenas de maio de 2004, que detém o recorde com 3.131 focos.

Considerando o histórico recente, junho de 2022 também teve um número elevado de queimadas, o maior em 15 anos. Foram 2.562 focos, o maior valor para o mês sob o governo Bolsonaro.

O mês de julho, por sua vez, não chegou a bater recordes, mas teve uma elevação de cerca de 8%, em relação ao mesmo mês do ano anterior. Foram 5.373 focos de queimadas.

Agosto, pelo menos até o momento, caminha em proximidade com os anos anteriores sob Bolsonaro. Até o dia 23, foram registrados 21.649 focos de calor. A média para o mês, considerando somente os anos anteriores do governo atual, é de 29.422 focos.

Bolsonaro tem sido criticado, desde o início do seu governo, por menosprezar os dados de desmatamento e queimadas na Amazônia. Segundo pesquisadores e ambientalistas, as palavras de Bolsonaro em relação à Amazônia poderiam incentivar atuações criminosas na região.

O atual presidente já chegou a falar que a floresta não pega fogo e afirmou que as informações sobre queimadas não são verdadeiras -apesar dos dados produzidos pelo Inpe, instituto do próprio governo. “Essa história de que a Amazônia arde em fogo é uma mentira”, disse Bolsonaro em agosto de 2020, em meio a mais um aumento no fogo no bioma amazônico.