Desemprego cai, mas informalidade ainda bate recorde

Desemprego cai, mas informalidade ainda bate recorde

A taxa de desemprego no país caiu para 9,1% no trimestre encerrado em julho — 1,4 ponto abaixo do verificado no trimestre anterior, terminado em abril. É o menor índice da série desde o trimestre encerrado em dezembro de 2015, quando também chegou a 9,1%. A alta foi puxada pelas contratações com carteira assinada, embora também tenha crescido o número de trabalhadores informais.

Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram, ainda, que o contingente de pessoas ocupadas foi de 98,7 milhões, um recorde na série histórica, iniciada em 2012. Mas um total de 9,9 milhões de brasileiros ainda continua em busca de uma vaga. O rendimento real habitual voltou a crescer e chegou a R$ 2.693 mensais.

O nível de ocupação (percentual de pessoas ocupadas entre a população em idade de trabalhar) ficou em 57%, queda de 1,1 ponto percentual em relação ao trimestre encerrado em abril e de 4,1 pontos na comparação com o mesmo período de 2021.

O número de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado (sem contar domésticos) subiu 1,6% contra o trimestre anterior, alcançando 35,8 milhões. Entretanto, o número de trabalhadores informais alcançou 39,3 milhões, o maior patamar da série histórica — 559 mil pessoas a mais do que no trimestre anterior. Com isso, a taxa de informalidade ficou em 39,8% da população ocupada.


Tendências

Para a economista-chefe da Reag Investimentos, Simone Pasianotto, em tese, quanto menor o desemprego, maior a pressão dos trabalhadores por maiores salários, o que pode provocar alta nos preços. "O que se observa, contudo, é que a recuperação no mercado de trabalho se deve majoritariamente a uma acomodação da massa de trabalhadores desocupados dentro do mercado, que tem repercutido pouco sobre um possível aumento do salário real", explicou. "Ademais, a Reag projeta que a taxa de desemprego deverá permanecer no patamar médio de 9%, com alguma movimentação para cima", afirmou Pasianotto.

De acordo com o economista do Banco Original Eduardo Vilarim, a queda no desemprego reflete o bom desempenho da atividade no curto prazo, reflexo das medidas de transferência de renda, como o Auxílio Brasil, e da diminuição de impostos. "A mobilidade urbana cada vez maior, após a fase aguda da pandemia, também contribuiu para o avanço do setor de serviços, sobretudo presenciais", disse.

Vilarim avaliou que a população ocupada tende a continuar avançando, mas a taxas decrescentes, acompanhando o ritmo heterogêneo das atividades setoriais, que tendem a sentir com mais força os efeitos defasados da alta das taxas de juros. "Indústria e varejo, mais intensivos em capital, tendem a desacelerar mais rápido os níveis de contratação do que o setor de serviços, mais intensivo em trabalho."

Destaques

Adriana Beringuy, gerente da pesquisa do IBGE, frisou que "nenhuma atividade dispensou trabalhadores ou registrou perdas no trimestre". Duas atividades se destacaram. No "comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas", houve acréscimo de 692 mil pessoas no mercado de trabalho (alta de 3,7%) em comparação com o trimestre anterior. Já no setor "administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais", o incremento foi de 648 mil pessoas (3,9%).


Saulo Batista, 22 anos, mora na Estrutural e foi contratado com carteira assinada em julho para uma vaga de vendedor em um comércio de automóveis. O jovem empreendia e almejava fazer intercâmbio no exterior, mas a crise econômica o fez deixar os planos de lado.

"Fiquei desempregado por um ano após fechar meu negócio, e ainda fui motorista de aplicativo. Tinha outras expectativas, só que a situação de saúde dos meus pais e o aperto nas contas me fizeram sair procurando emprego. Moro com eles e divido as contas, então foi um alívio em tudo quando consegui essa vaga", disse Saulo.