Entenda a relação entre o vírus Epstein-Barr, contraído por Anitta, e a esclerose múltipla
No último sábado (3), Anitta anunciou que foi diagnosticada com o vírus Epstein-Barr, causador da mononucleose ou “doença do beijo”. A revelação foi feita no lançamento do documentário “Eu”, em que Ludmila Dayer retrata a esclerose múltipla.
O relato da cantora suscitou dúvidas acerca da relação entre o vírus e o desenvolvimento de esclerose múltipla. Porém, as duas doenças são diferentes e a relação entre elas é investigada pela comunidade científica.
O EBV, com também é conhecido o Epstein-Barr, é um vírus comum entre os seres humanos. Segundo a médica imunologista Ana Paula Castro, sua prevalência entre adultos pode ser de 80% até 95%, o que significa que quase toda a população tem contato e é infectada em algum momento da vida.
A mononucleose aguda é a principal manifestação clínica desse vírus, transmitido pela saliva e contato próximo com pessoas infectadas. É por causa desse método de propagação que ficou conhecida como “doença do beijo”. Mas o EBV também pode ser transmitido por outras formas de contato.
“É uma infecção pediátrica extremamente comum e atinge principalmente até o início da fase adulta”, explica Castro.
A infecção pode gerar sintomas como febre, mal-estar, dor de garganta e cansaço. Uma vez que estes se assemelham aos da gripe ou da amigdalite, muitas vezes a doença é confundida com outras.
Segundo Castro, a evolução é benigna na maior parte das vezes e, depois de alguns dias, os sintomas geralmente passam.
Da família do herpesvírus, o EBV não está relacionado com a transmissão da herpes, mas os vírus compartilham um ponto: “Depois da infecção, "mora na gente'”, diz Castro. Ou seja, mesmo com o fim dos sintomas da mononucleose, o vírus permanece no corpo humano.
Isso é o que pode causar o desenvolvimento do EBV crônico. “Quando existe algum fator específico que leva a uma baixa da imunidade, pode haver a reativação do vírus”, explica Castro. Se houver esse quadro, a pessoa pode apresentar febre persistente, gânglios, baço e fígado aumentados e síndromes inflamatórias. E esses sintomas persistem por meses.
Mais raro do que a mononucleose, o EBV crônico é associado a fatores muito específicos que resultam em uma intensa diminuição da imunidade, como câncer.
E a esclerose múltipla? A esclerose múltipla é uma doença rara em que a cobertura protetiva dos neurônios, a bainha de mielina, é agredida pelo próprio sistema imune. Ela não tem cura, mas existem tratamentos para retardar a progressão da doença e amenizar os sintomas.
Uma possível relação entre a infecção pelo EBV e o desenvolvimento de esclerose múltipla foi investigada por um estudo liderado por pesquisadores da Universidade Harvard, publicado em janeiro deste ano na Science.
Os pesquisadores analisaram dados de mais de 10 milhões de militares americanos, dos quais 955 desenvolveram esclerose múltipla. Segundo o estudo, grande parte desses casos ocorreu em pessoas que haviam sido infectadas pelo EBV. Porém, os sintomas da esclerose múltipla só começam a aparecer em média dez anos após o primeiro contato com o vírus.
Apesar dessa relação, não é necessariamente a infecção pelo EBV que leva ao desenvolvimento da esclerose múltipla. Ela deve ser vista mais como um fator de risco. “Talvez, por algumas características genéticas, o EBV pode ser um gatilho, mas a esclerose múltipla é uma doença autoimune que pode ser causada por muitos fatores,” afirma Castro.