Superando obstáculos: conheça Tathi Piancastelli e como ela tornou a Síndrome de Down a principal aliada

Nós estamos em 2023, passamos por uma pandemia arrasadora, mas ainda tem gente que acredita que ter algum tipo de deficiência limita alguém. Nesta terça-feira (21), milhares de famílias se unem para lembrar o Dia Internacional e Nacional da Síndrome de Down. Entre estas pessoas está Tathiana Piancastelli, a prova viva de que a deficiência não é uma condição capaz de prendê-la na casa dos pais. Pelo contrário, a levou bem mais longe do que poderia imaginar: se casou e estabeleceu vários planos para o futuro.

Foto: Divulgação/Marcus Ribeiro.

Aos 37 anos, Tathi, como é conhecida, é atriz, escritora, empresária, palestrante, digital influencer e uma das ativistas brasileiras mais envolvidas com uma causa que deixou de ser só dela: a pessoa com Síndrome de Down. 

Tathi, que é a primeira pessoa com Síndrome de Down do mundo a escrever e a protagonizar uma peça de teatro profissional, busca trazer luz à deficiência, de uma maneira que sequer podemos afirmar que a torna diferente das outras pessoas. Afinal de contas, tudo que ela fez até hoje é absolutamente o que uma mulher faria – se ela quisesse – aos 30 e poucos anos.

“Eu tenho uma peça que fala sobre isso, sobre a pessoa com deficiência. Se casar, se formar, morar sozinho. Toda pessoa com deficiência pode morar sozinha. Hoje eu sou casada. Casei em março, por ser o mês que lembramos da Síndrome de Down. O dia 21, pra mim, significa lutar por meus direitos”.

comenta Tathi Piancastelli

O casamento de Tathi foi só a ponta dos grandes sonhos que ela conquistou. A artista conta que sempre buscou, junto à família, mostrar ela poderia fazer o que quisesse, quando quisesse, e no momento em que bem entendesse.

“Na verdade, minha irmã é casada, minha outra irmã mora em Londres e eu sempre quis ter os meus direitos. Como é que não se pode lutar pelos direitos? Eu posso sim, o preconceito não me atinge mais”. 

diz comenta Tathi Piancastelli
Foto: Divulgação/Marcus Ribeiro.

Rompendo paradigmas e influenciando

Fernando Heiderich, o pai de Tathi, conta que o processo de a família entender a liberdade daquela criança com Síndrome de Down aconteceu naturalmente. Mas nem sempre é assim. Ele destacou que, no começo, a luta era interna contra a necessidade de proteção.

“A tendência da gente é querer proteger as filhas. E daí se você pensa numa maior necessidade de apoio, você quer proteger mais ainda, mas não tem nada a ver […]. É um exercício que todos os responsáveis têm que fazer, e não se deixar cair na tentação egoísta só para você se sentir bem, só para você dizer que está protegendo, você não está protegendo nada. Um filho com deficiência ou não, se você ficar super protegendo, você vai criar uma pessoa dependente”. 

comenta Fernando Heiderich, o pai de Tathi

Após entender que precisavam libertar aquela criança que se tornara adolescente, jovem e que mais tarde chegaria à maioridade, a família também percebeu que deveria incentivar que Tathi vivesse sua vida em plenitude.

“Foi de uma importância enorme, porque a Tathi rompe paradigmas. Ela é um exemplo de que eles podem muito mais do que a gente imagina. Sempre que me perguntam, em palestras ou em aula, "quanto é que a gente dá de apoio?", eu digo sempre assim: "a gente tem que dar no máximo o mínimo que elas precisam para fazer por elas". Porque daí vem o protagonismo, que é a vontade de fazer”. 

explica Fernando Heiderich, o pai de Tathi

Segundo o pai de Tathi, em qualquer relação familiar, resta aos pais trabalharem a autoestima e fazerem com que os filhos tenham o protagonismo da própria vida. No caso da pessoa com down, a mesma coisa.

Foto: Divulgação/Marcus Ribeiro.

Visibilidade em falta

Embora pouco a pouco a sociedade preconceituosa vá deixando de lado os olhares tortos e aquela preocupação de pensar que aquela pessoa seja incapaz, Tathi e o pai são unânimes em dizer que o dia 21 de março é muito importante. É o momento em que se dá luz ao assunto que, no dia-a-dia, acaba jogado para debaixo do tapete.

“Visibilidade. No mundo chegamos agora a 8 bilhões de pessoas. Com algum tipo de deficiência, é estimado entre 1 e 1.1 bilhão, então é um para oito. É gente para caramba, mas você não vê, porque a sociedade ainda convive com esses paradigmas, as famílias super protegendo, a falta de acessibilidade em toda infraestrutura, então o dia 21, quem sabe um dia não precise mais existir, mas ainda é muito importante”.

diz Fernando Heiderich, o pai de Tathi

O dia 21 de março faz analogia à chamada trissomia do 21: a Síndrome de Down é uma condição genética que causa alteração no cromossomo 21 das células, fazendo com que existam três cromossomos no lugar de dois. Por isso 21 (cromossomo 21) e 3 (março). 

É importante ressaltar que a Síndrome de Down não é uma doença. Segundo o IBGE, cerca de 300 mil brasileiros nascem nessa condição.

“A importância desse dia é de que a gente possa ganhar mais visibilidade e oxalá todas as organizações e pessoas façam isso de forma positiva. Tem é que tratar com igualdade. Dar um pouco mais para quem precisa de um pouco mais para que todos enxerguem por cima do muro igualzinho”. 

comenta Fernando Heiderich, o pai de Tathi

Segundo Fernando e Tathi, o jeito mais prático e mais leve de dar visibilidade ao assunto é tratando com a leveza e a naturalidade que merece: a artista passou a morar sozinha há quase três anos, se casou há dez dias, está cheia de planos e a vida está ganhando ainda mais luz para ela.

“Nunca deixe de sonhar. Se tem vontade de fazer alguma coisa, vai à luta. Se as outras pessoas com deficiência podem, porque eu não posso? Tem muita coisa para acontecer, a peça, minhas palestras, exposição de fotos. Planejo viajar o Brasil com a minha peça também. Eu posso tudo”.

finaliza Tathi Piancastelli

Dar luz à Síndrome de Down e as pessoas que vivem com essa condição é falar de sonhos, como diria a música do Rouge:

“Há uma luz em algum lugar
Que vai fazer seu sonho se realizar
É só você acreditar
Que uma nova estrela vai poder brilhar”.

Foto: Divulgação/Marcus Ribeiro.