Maternidade, perdas e sonhos: a trajetória de Renata Matos e sua loja de roupas

Maternidade, perdas e sonhos: a trajetória de Renata Matos e sua loja de roupas

Depois de perder o emprego de 10 anos, trazer Davi ao mundo e perder a mãe, Renata encontrou seu propósito de vida. Enquanto, para algumas pessoas, a caminhada rumo ao próprio negócio é cheia de dúvidas e medos, Renata Matos, 40 anos, sempre sentiu uma vocação natural para o empreendedorismo e os acontecimentos em sua vida foram mostrando o caminho para realizar esse sonho.

Natural de Dourados (MS), mas criada na capital Campo Grande, formou-se em Administração de Empresas com ênfase em Marketing e fez MBA em Gestão Empresarial e em Gestão de Pessoas.

A paixão de Renata por pessoas e por vendas a fez trabalhar como vendedora por um tempo, até chegar à consultoria de campo de uma grande franquia nacional, onde ficou por 10 anos. No entanto, o momento financeiro da empresa onde trabalhava, a chegada de Davi, seu primeiro filho, e a perda da mãe viraram as certezas de Renata de ponta cabeça e abriram um novo caminho.

Fachada com crianças.

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Nasce uma mãe, nasceu uma culpa

"Davi nasceu em 2013 e dali em diante comecei a sentir na pele as dificuldades de trabalhar o dia inteiro, às vezes ter até que viajar a trabalho, e, ao mesmo tempo, ser uma mãe presente e participativa. Me cortava o coração deixá-lo tão novinho em uma escola de período integral, me sentia culpada. Em 2015, um ano muito marcado pela crise econômica pela qual o Brasil passava, comecei a perceber mudanças na empresa, como algumas demissões, e pensei: "vai chegar a minha hora" e elaborei um plano B", relembra Renata.

E o plano B da Renata envolvia algumas das coisas que ela ama:o mundo infantil e vendas. A administradora começou a comprar roupas infantis para revender, "no sistema sacoleira mesmo", como ela mesma diz.

Com o apoio e a torcida do pai, do irmão e do marido, abriu seu MEI no início de em 2016, mas continuou trabalhando na empresa até a metade daquele ano, quando a já esperada demissão aconteceu. O ano de 2017 foi dedicado a passar mais tempo com Davi, tempo esse que foi dividido com algumas tarefas, como aumentar o fluxo de clientes, cuidar das redes sociais e desenvolver a marca da Renata Matos - Moda Infantil.

Com a demanda crescendo cada vez mais, alugou uma sala comercial no Carandá Bosque para ser estoque de suas mercadorias e atender alguns clientes com hora marcada (sempre no período da tarde porque de manhã ficava com Davi). Nessa época, passou a comprar as roupas diretamente com as fábricas - para negociar valores e prazos - e melhorou a variedade dos seus produtos: atendendo aos pedidos dos clientes, ampliou dos tamanhos RN (recém-nascido) a 6 anos, para 8, 10 e hoje trabalho com roupas RN até os 16 anos.

Davi.

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Uma perda, um novo caminho

Abril de 2018 também foi outro período bem marcante e definitivo na vida de Renata, foi quando perdeu sua mãe, que estava saudável, de repente. "O luto, além de um momento de muita união com meu pai e meu irmão, foi também um momento de reflexão porque pra morte não tem volta. Nessa hora eu pensei: "eu já tive meu filho, já sou mãe e já perdi a minha mãe, que são momentos divisores de água na vida de qualquer mulher, não tenho mais medo de nada nessa vida, além do mais, eu sempre ajudei as outras pessoas a realizarem seus sonhos de ter o próprio negócio"" e foi então que eu me joguei de vez e decidi atender aos pedidos dos clientes, que queriam um ponto mais central e com horário mais estendido", conta.

Renato Matos

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Ajuda extra

Em um mês, Renata encontrou o ponto comercial, fechou contrato de locação, reformou e montou sua loja. Com a inauguração, que aconteceu em 24 de novembro de 2018, Renata se deparou com uma nova realidade: custos fixos, encargos trabalhistas, a migração do MEI para o Simples Nacional, entre outras novidades.

"Foi nessa hora que saiu o edital Mulher de Negócios do Sebrae e eu me inscrevi, sabia que o Programa era pra mim. Fui selecionada, participei de cursos, palestras, workshops, oficinas, consultorias, fui pra missão em São Paulo, tive mentoria com Google e com Avon, participei de tudo que pude, porque eu precisava de ajuda nessa parte financeira porque a loja estava em um período de mudanças, crescendo e eu quero crescer com solidez pra durar no mercado. O programa me ajudou a abrir a cabeça e desconstruir coisas que eu considerava certas, tinha convicção. Sou feliz e grata pelo programa, foi tudo muito válido, consegui implementar muita coisa na prática e desde que abrimos há um ano, mesmo com as dúvidas, a loja teve aumento no faturamento todos os meses", comenta Renata.

Um dos motivos desse crescimento consistente é a estratégia de Renata de promover eventos na loja, como festa junina, carnaval, troca de brinquedos, feira do livro, entre outros, e firmar parcerias, até mesmo com a loja de roupas infantis que fica exatamente ao lado da sua e com outros parceiros focados no público infantil.

"Eu vejo a concorrência como algo saudável, acho importante, porque ninguém ganha dinheiro sozinho. Além disso, eu sou muito otimista, evito ver as coisas como um problema, vejo sempre uma oportunidade", explica.

Festa Junina.

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Verbalizando sentimentos

Com a ajuda do Programa Mulher de Negócios, Renata conseguiu, inclusive, definir o que era a sua empresa e traduzir em palavras essa essência. "Somos a loja de roupa infantojuvenil mais afetiva, aconchegante e divertida de Campo Grande-MS. Vestimos crianças de RN até 16 anos com looks confortáveis, alegres, estilosos e com preço acessível. Oferecemos um atendimento amigável, solucionando as necessidades de cada cliente. O Amor está em cada detalhe, é de mãe para mãe", diz o manifesto da empresa

Atualmente, a empresa tem duas funcionárias, uma vendedora e uma coordenadora de vendas. Davi, um dos principais motivos da loja existir, hoje com 5 anos, é o modelo e digital influencer da marca. Com quadros da sala da casa própria Renata, cadeiras da casa do pai e um arranjo de flores que era da mãe, a decoração da loja acolhe com carinho quem chega. Mas acolhe principalmente a empreendedora, que afirma viver um sonho.

"Hoje talvez eu até ganhe menos dinheiro que antes, mas sou infinitamente mais feliz", finaliza.

Renato Matos

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