Prefeitura de SP anuncia desistência de 25% dos blocos que se inscreveram para o carnaval de rua: 644 farão desfiles

Prefeitura de SP anuncia desistência de 25% dos blocos que se inscreveram para o carnaval de rua: 644 farão desfiles

Em carta publicada nas redes sociais, cerca de 300 blocos se dizem 'desrespeitados' pela Secretaria da Cultura, que organiza a folia de rua. Multidão de foliões toma conta da Rua da Consolação, na região central de São Paulo, durante a passagem do bloco Acadêmicos do Baixo Augusta, em 2016

Renato S. Cerqueira/Futura Press/Estadão Conteúdo

A Prefeitura de São Paulo divulgou nesta sexta-feira (7) um número de blocos de carnaval de rua 25% menor do que os inscritos no ano passado. O total passou de 865 para 644. Já a previsão de desfiles caiu de 960 para 678 (um bloco pode desfilar mais de uma vez).

Em janeiro, a administração municipal já havia informado algumas desistências, e tinha dito que o número oficial era de 786 blocos em 861 desfiles. Embora o valor divulgado nesta sexta seja menor, ainda deve bater o recorde em relação a 2019, quando 464 blocos saíram em 490 desfiles.

Mais cedo, a prefeitura também divulgou a lista oficial dos blocos, mas a página contém erros em datas e desfiles de alguns blocos.

Segundo os organizadores dos blocos, um dos principais motivos para as desistências é a dificuldade para conseguir patrocínio. Mas os representantes também reclamam de problemas com a Prefeitura de São Paulo na organização do evento.

Também nesta sexta, preocupados com o que chamam de incertezas sobre o carnaval de rua na capital paulista neste ano, cerca de 300 blocos que formam o Fórum Aberto de Blocos de Rua de São Paulo divulgaram uma carta aberta destinada à Secretaria Municipal da Cultura onde reprovam a forma como está sendo conduzida a organização da festa de rua.

Na carta publicada nas redes sociais, os membros do fórum criticam a comissão intersecretarial criada pela prefeitura para organizar o carnaval e pedem mais "diálogo e respeito" no atendimento de reivindicações feitas em seminários realizados pela própria comissão organizadora no ano passado.

Os blocos alegam que, a uma semana do início dos cortejos de rua do pré-carnaval, que começa dia 15 de fevereiro, ainda há muita desinformação sobre os serviços públicos prometidos pela administração municipal para a realização dos cortejos.

Entre as reclamações expressas na carta, os blocos alegam que eles ainda sofrem com redução de horários de desfiles e "remanejamentos autoritários por parte da equipe de produtores da Secretaria da Cultura, sem critério técnico ou formalização por escrito, o que configura total insegurança jurídica e perda de confiança no processo de interlocução".

Os representantes de blocos também afirmam que até agora não foram informados pela administração municipal sobre demandas importantes para os foliões na área de Saúde, Segurança e infraestrutura para os cortejos. Entre essas demandas estão a instalação de 20 postos médicos estruturados na cidade, a criação de 20 torres de controle da polícia nas áreas de grande presença de foliões, contratação de mais banheiros químicos e a redistribuição deles também nas periferias onde há desfiles.

"Quem faz o Carnaval de Rua somos Nós, Os Blocos. Só o que precisamos é Respeito", diz a carta.

No manifesto publicado pelo fórum, os blocos também cobram contrapartidas financeiras prometidas pela Secretaria da Cultura para ajudar nas despesas dos cortejos, como o cadastro dos próprios blocos entre os ambulantes autorizados a vender alimentos e bebidas.

Eles alegam que, pela promessa da administração municipal, cada bloco poderia cadastrar ao menos dois ambulantes próprios. O dinheiro arrecadado ajudaria a financiar parte do cortejos dos blocos já que, como o G1 já mostrou, muitos blocos não recebem financiamento direto do Poder Público e não têm acesso a patrocínios para se viabilizarem.

Centro de Sp

Segundo os organizadores de blocos, a fim de atender demandas de associações de bairros que não queria receber o carnaval em suas regiões, a prefeitura remanejou vários blocos para a área da Subprefeitura da Sé, gerando tensão com os moradores dessa região e causando a desistência de blocos que gostariam de desfilar neste ano.

"Sem respeito às tradições estabelecidas pelos vários Blocos que construíram a retomada do Carnaval de Rua na Cidade, o aumento excessivo de desfiles autorizados nas regiões da Sé aumentou desnecessariamente a tensão entre moradores e o Carnaval. (...) Apenas para 'fazer caber' nas regiões centrais o 'maior carnaval do Brasil', que não necessariamente se mostrará melhor ou será sustentável para os blocos que trabalham o ano todo para realizá-lo, resultando em um processo de desistência recorde em 2020 de 30% menos em relação ao anunciado em outubro", afirma a carta.

Blocos reclamam da organização do Carnaval 2020

Mudanças na comissão

O Fórum de blocos alega que os desentendimentos e a "falta de timing e diálogo entre o Coordenador e Produtores da SMC com os Órgãos Públicos" começaram após a substituição de membros importantes da equipe de coordenação de carnaval no meio do processo de decisão.

Segundo eles, em dezembro de 2019 o secretário da Cultura, Alê Youssef, exonerou os principais coordenadores da pasta, que dialogavam com os blocos, assumindo pessoalmente a conversa deles com a comissão organizadora da prefeitura.

Porém, os blocos se dizem frustrados com a ação do secretário Youssef e a equipe responsável pela gestão e contratação dos serviços que serão ofertados durantes os desfiles de rua.

"Tem ficado claro que muitos tópicos apresentados nos Seminários de Agosto e bem aceitos pelos Blocos, foram deixados de lado em consequência de uma mudança no modelo de gestão, cuja coordenação foi assumida pessoalmente pelo Secretário e que, por este ou aquele motivo, vem levantando muitas questões que entendemos ser falta de preparo ou capacidade limitada de articulação. (...) A maior frustração se dá ao constatarmos que, no processo de planejamento do Carnaval de Rua 2020, a falta de consideração delegada aos representantes de Blocos que se dispuseram a colaborar com o planejamento da Cidade, foi a mais grave desses últimos tempos", afirmam.

O secretário de Cultura de SP, Alê Youssef, alvo de crítica dos organizadores de blocos de SP.

Reprodução/Acervo Pessoal

Reunião de emergência

Procurada para responder as críticas, a Secretaria de Cultura ainda não se manifestou sobre a carta do Fórum Livre de Blocos. A Secretaria da Cultura convocou para a noite desta sexta-feira uma reunião com os blocos, a fim de apresentar o plano de ação da prefeitura para os cortejos de rua. O encontro ocorre na noite desta sexta na Galeria Olido, no Centro.

A convocação, segundo as lideranças de blocos, foi feita no final da noite desta quinta-feira (07) e muitos blocos alegam que foram pegos de surpresa, atropelando o calendário de eventos fechados e ensaios finais dos blocos, que ainda buscam dinheiro para se financiarem para os desfiles.

A expectativa da gestão municipal é que 15 milhões de pessoas movimentem mais de R$ 2,6 bilhões em todos os dias de evento, nas ruas da cidade e também no sambódromo.

Em 2019, o balanço oficial foi de 14 milhões de participantes, que movimentaram mais de R$ 2,1 bilhões nas ruas e, no geral, R$ 2,3 bilhões, segundo a SPTuris.

Com esses números, a cidade de São Paulo pode se consolidar como a detentora do título de maior carnaval de rua do país, passando capitais como Rio de Janeiro e Recife.

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