Grupo percussivo As Calungas divulga cultura do NE e estimula produção musical feita por mulheres na PB

Grupo percussivo As Calungas divulga cultura do NE e estimula produção musical feita por mulheres na PB

Banda surgiu em 2012, em João Pessoa, e fundou um bloco de carnaval que reuniu 170 mulheres tocando percussão em 2020. Apresentação do grupo As Calungas no carnaval 2020 do Conde, PB

Beto Jorge/Divulgação

Divulgar a cultura nordestina e estimular a produção musical feita por mulheres. Esse é o foco do grupo de percussão As Calungas, fundado em 2012 em João Pessoa. O grupo começou com oito mulheres tocando em bandas e blocos de carnavais e, atualmente, tem cerca de 140 pessoas participando de oficinas e se apresentando na avenida com um estandarte próprio.

"Nós começamos como artistas e professoras de música que queríamos fazer shows e pesquisar o universo da cultura popular. Com o tempo, fomos evoluindo nosso trabalho que se expandiu para a produção de oficinas, a criação do bloco e também produção textual de artigos e eventos percussivos, todos focados na mulher", diz Priscila Fernandes, uma das idealizadoras do projeto.

Integrantes d'As Calungas em 2020

Mingareli Comunicação/Divulgação

O nome da banda veio a partir das bonecas calungas, que são os brinquedos de pano tradicionais do Nordeste. Além disso, a Calunga também é uma divindade das religiões afro-brasileiras, que toma a forma de uma boneca de madeira nas nações de maracatu. O símbolo foi escolhido por representar a relação com a ancestralidade negra que o grupo traz consigo.

"Como percussionistas, nosso universo sempre foi esse, dos tambores, dos batuques, do maracatu e da cultura popular. O diferencial é que fazemos isso de mulheres para mulheres. A gente sabe que são poucas as mulheres que tocam percussão e por isso fazemos esse trabalho como incentivo para que elas entrem na música", comenta Priscila.

O bloco carnavalesco com o nome do grupo surgiu em 2015. Todo ano as oito integrantes fixas d"As Calungas fazem uma série de aulas gratuitas com as inscritas para que possam sair no carnaval. Para entrar, não precisa sequer saber tocar um instrumento. Os únicos pré-requisitos são ser mulher e ter acima de 16 anos.

As Calungas fazem oficinas de percussão para mulheres em João Pessoa

Gleison Dias/Divulgação

"Normalmente a gente inscreve em setembro e as aulas já começam em outubro. As oito "Calungas", que também são professoras e pesquisadoras de música, estudam novas técnicas e também a história dos ritmos para repassar para as demais e esses encontros, sempre aos domingos, são muito gratificantes", comenta a artista.

Durante os encontros, focados em fortalecer o protagonismo da mulher por meio da aprendizagem musical, as alunas aprendem ritmos como maracatu, ciranda, coco de roda e ijexá.

"A mudança que elas passam quando participam desse processo é muito grande. Muitas encontram no espaço uma atividade de lazer e libertação, enquanto que outras levaram para a vida o aprendizado das oficinas, seguindo em outros grupos e bandas. Para mim, como mulher, é muito especial, pois toda semana estamos lá, nos reunindo e compartilhando experiências. Isso fortalece nossa auto estima", diz Priscila.

Homenagens

O repertório da banda As Calungas é diferenciado para os shows e para o carnaval. O grupo oficial, com oito mulheres, faz apresentações com músicas tradicionais da cultura brasileira e latina: cacuriá, samba, salsa, funk, samba-reggae, entre outros. Já no carnaval, o foco do bloco é divulgar as mulheres mestras das artes, da música e da cultura popular.

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"Para o carnaval, a gente faz questão de escolher um grande nome feminino para homenagear e divulgar o seu trabalho. Os estudos são feitos durante as oficinas e na saída do bloco, a gente faz a homenagem desde o estandarte até a confecção das roupas e do repertório", explica a percussionista.

Da primeira edição do bloco até este ano, já foram homenageadas Dona Lenita, do coco das comunidades quilombolas de Gurugi e Ipiranga (no Conde); a cirandeira Vó Mera, de João Pessoa; Dona Teca, do tradicional coco de roda de Cabedelo; Zabé da Loca, consagrada tocadora de pífano; e Mestra Tina, do Cavalo Marinho Infantil do Bairro dos Novais.

"Estamos aqui para fortalecer o nome dessas mulheres que são importantes para a cultura da Paraíba e do Nordeste. A gente não quer resgatar a cultura, porque ela está viva, não está perdida. A ideia é divulgar e mostrar o trabalho delas, por isso sempre que dá a gente também convida as mestras para participar do lançamento do bloco e até do desfile", conta Priscila.

Planos para 2020

Além das tradicionais oficinas para o carnaval 2021, As Calungas também têm outros planos para este ano. O grupo lançou recentemente três canções de autoria própria, focadas em ressignificar a importância do batuque feminino.

"Agora a gente vai gravar mais duas faixas, escritas por integrantes do grupo, e também cair em campo para levantar fundos para, quem sabe, gravar um disco todo. Nós somos um grupo independente e cheio de ideias, por isso vamos cair em campo para expandir nosso trabalho e mostrar para todos a força da mulher na música", completa a artista.