Gaeco diz que policiais civis são suspeitos de trazerem armas do Paraguai para arsenal da milícia em MS

Gaeco diz que policiais civis são suspeitos de trazerem armas do Paraguai para arsenal da milícia em MS

Investigação aponta que policiais estavam lotados em Ponta Porã e se aproveitaram do cargo e da proximidade com a fronteira para prestarem serviço ao crime organizado.

Arsenal da milícia apreendido em Campo Grande foi feito com armas vindas do Paraguai e trazidas, conforme investigação do Gaeco, por policiais civis que trabalhavam para o grupo

Polícia Militar/Divulgação

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) aponta dois policiais civis que estavam lotados em Ponta Porã, são suspeitos de trazerem armas do Paraguai para abastecer a milícia que agia como um grupo de extermínio em Mato Grosso do Sul. O grupo foi desarticulado na sexta-feira passada (28) na operação Omertá. A suspeita é que seus integrantes tenham executado pelo menos três pessoas em Campo Grande desde junho do ano passado. Outras mortes também estão sendo investigadas.

Na representação encaminhada a Justiça para fundamentar os pedidos de prisão preventiva e temporária dos integrantes da milícia, bem como os mandados de busca e apreensão, os promotores do Gaeco apontam que esses dois policiais civis que trabalhavam em Ponta Porã estariam se utilizando dos cargos em benefício dos líderes da organização criminosa.

De acordo com o Gaeco, os policiais, mesmo em horário de serviço, foram flagrados tratando de assuntos de interesse da milícia. Ele também teriam se aproveitado da proximidade de Ponta Porã com Pedro Juan Caballero, no Paraguai, para trazerem armas e munições do país vizinho para o arsenal da organização criminosa.

No dia 19 de maio deste ano, policiais da Delegacia de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros (Garras) e do Batalhão de Choque da Polícia Militar apreenderam um arsenal com um guarda municipal, em uma casa no Jardim Monte Libano. Foram apreendidos 18 fuzis de calibre 762 e 556, espingarda de calibre 12, carabina de calibre 22, além de 33 carregadores e quase 700 munições.

Segundo as investigações do Gaeco, esse arsenal pertencia ao grupo preso nesta sexta-feira. A força-tarefa investiga se as armas foram usadas em crimes de execução nos últimos meses.

Mortes

O Gaeco aponta que desde junho do ano passado a milícia é suspeita de ter executado pelo menos três em Campo Grande. Os promotores do grupo detalham que os três assassinatos têm as mesmas características: foram cometidos por várias pessoas, usando mais de um veículo e com armas de grosso calibre, no caso, fuzis.

Com base nas investigações e em depoimentos, o Gaeco aponta que uma das execuções que teria sido cometida pela milícia seria a de Ilson de Figueiredo, de 62 anos, que era chefe de segurança da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul. Ele foi assassinado no dia 11 de junho de 2018, na avenida Guaicurus, no Jardim Itamaracá. Seu carro foi perseguido e ele foi morto a tiros por suspeitos que estavam em outro carro.

Conforme o Gaeco, Figueiredo foi morto porque teria tido participação no homicídio do filho de uma pessoa muito próxima aos dois homens que são apontados como os líderes da milícia, Jamil Name e seu filho, Jamil Name Filho.

Em uma conta na nuvem da internet, de um dos suspeitos presos na operação, a polícia encontrou, inclusive, 26 fotografias da execução de Figueiredo.

Outra execução que teria sido cometida pela milícia, conforme a representação do Gaeco à Justiça, foi a de Orlando da Silva Fernandes, em 26 de outubro de 2018. Ele foi segurança do narcotraficante Jorge Rafaat, executado em junho de 2016, em Pedro Juan Caballero, na fronteira com o Brasil.

Fernandes, que teria ligação com Figueiredo, foi morto no Jardim Autonomista, bairro nobre de Campo Grande, quando estava caminhando em direção ao seu carro. Os tiros atingiram principalmente a sua cabeça. Na carteira da vítima foi encontrado um cheque no valor de R$ 240 mil e ainda R$ 1,2 mil em dinheiro.

A terceira morte que teria sido cometida pela milícia, segundo o Gaeco, foi a do estudante Matheus Xavier, de 19 anos, Ele foi morto no dia 9 de abril deste ano, no bairro Jardim Bela Vista, quando manobrava a caminhonete do pai, o capitão aposentado da PM, Paulo Roberto Xavier.

De acordo com o Gaeco, o estudante foi morto por engano, o alvo do grupo seria o seu pai. O PM aposentado foi preso em 2009 por envolvimento em jogos de azar. Na época, a loja de materiais de construção que ele mantinha com a esposa também foi alvo da Polícia Federal.

Conforme o Gaeco, Paulo RobertoXavier também já havia sido segurança de um dos líderes da milícia, Jamil Name Filho.

Prisões

Na operação desta sexta-feira foram presos o empresário Jamil Name e seu filho, Jamil Name Filho, quatro policiais civis (incluindo os dois lotados em Ponta Porã), um policial federal, um militar do Exército aposentado, um funcionário de Jamil Name e guardas civis de Campo Grande, entre outros.

A representação do Gaeco afirma que Jamil Name e Jamil Name Filho são os lideres da milícia e reforça essa argumentação apontado que a casa onde foi apreendido o arsenal pertence a família Name. Além disso, na casa onde estavam as armas foram encontrados bonés com câmeras ocultas, que tinham várias gravações que foram recuperadas pela perícia que citavam o nome de Jamil Name ou onde ele aparecia nas imagens.

Crime organizado

As investigações do Gaeco apontam que os presos na operação tinham funções e tarefas bem definidas. Extremamente organizado e aparelhado o grupo contava com agentes treinados, muitos das forças de segurança do estado, da ativa e aposentados, que praticavam homicídios qualificados, contando com a impunidade e para demonstrar força e intimidar. As investigações apontaram que o grupo criminoso está estruturado em ao menos quatro grandes núcleos.

O grupo da liderança, com os líderes. O da liderança, com os líderes. O da gerência, com os gerentes operacionais. O grupo de atividade de apoio, com logística, segurança e suporte e o grupo da execução, formada pelos executores de homicídios.

O empresário Jamil Name e o filho dele, Jamil Name Filho, apontados como os chefes da organização criminosa chegaram ao Centro de Triagem, no complexo penitenciário de Campo Grande, na noite desta sexta-feira (27). É no local que a maioria dos presos da operação está.

Chegada de Jamil Name, apontado pelo Gaeco como um chefes da milícia que agia em MS, ao Centro de Triagem, em Campo Grande

Reprodução/TV Morena

O advogado de defesa dos Name, René Siufi, disse neste sábado (28) que o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJ-MS) negou a liminar no pedido de habeas corpus para os dois empresários. O desembargador de plantão, Sideni Soncini Pimentel se declarou impedido de analisar a ação e o plantonista substituto, Eduardo Machado Rocha, negou a liminar. O mérito do pedido ainda será analisado pelo TJ-MS.

Armas na casa de Name

No total 19 pessoas foram presas. Jamil Name e o filho dele, foram presos na casa deles, em um condomínio de luxo de Campo Grande. Os policiais também apreenderam R$ 160 mil em dinheiro, além de armas de fogo, munições, celulares e computadores.

Por conta das armas achadas em sua casa, nesta segunda-feira (30) a Justiça promoveu uma audiência de custódia da prisão em flagrante de Jamil Name. Questionado sobre um carregador de pistola glock municiado com 17 cartuchos do mesmo calibre, ele ressaltou que "não sabia como os objetos foram parar na casa dele".

Sobre a espingarda de calibre 12, achada na haras dele, Name teria dito que tal arma "pode ter sido dele e ele pode ter cedido ao funcionário Adelino para ele se proteger". No entanto, não tinha "certeza absoluta" e ainda disse que acredita que o objeto tenha registro na Polícia Federal (PF).

A prisão foi convertida e Jamil responde agora pelos crimes de porte ilegal e munição de arma de fogo. Além do flagrante, ele ainda continua investigado pelos crimes apontados pela operação Omertá.

O advogado de Jamil Name, Renê Siufi, diz que não acompanhou a audiência de custódia porque não foi avisado, apesar de o suspeito ter dito que ele o representava e insistido que fosse chamado. Segundo a defesa, Jamil Name acabou sendo assistido pelo advogado de outro suspeito que estava lá. Agora ele vai analisar o caso para verificar quais providências vai tomar.