Na Argentina, Fernández responde rápido contra pandemia e abafa inquietação

Na Argentina, Fernández responde rápido contra pandemia e abafa inquietação

 

Os que estão nas praias ou em suas casas de campo até hoje e não têm uma justificativa formal para terem feito a viagem terão de terminar a quarentena ali e não poderão voltar à capital.

A imagem mais significativa desses casos é a de um sujeito, carregando pranchas de surfe, que afirmava ter ido ao litoral para resolver "assuntos de trabalho". Foi detido e levado a uma delegacia.

Inicialmente, a quarentena na Argentina estava programada para terminar em 31 de março, mas o governo sinaliza que deve prolongá-la até pelo menos 12 de abril.

Cada vez há mais policiais vigiando a capital, com alto-falantes para ordenar que as pessoas voltem para casa.
Como medida para que a economia informal, responsável por quase 40% do mercado de trabalho na Argentina, não quebre, o governo ofereceu um bônus mensal de 10.000 pesos (cerca de R$ 780) enquanto a quarentena durar.

Também anunciou um aumento no valor pago por meio das bolsas assistenciais aos mais pobres.

Na quarta (25), iniciou um reforço de suprimentos aos refeitórios na periferia. As escolas permanecem abertas apenas para distribuir merendas às crianças, e só uma pessoa de cada família pode ir buscá-las.

Um dia antes, o governo informou que indultaria o pagamento das tarifas de água, luz e eletricidade da população carente por pelo menos seis meses.

Embora tudo isso tenha gerado uma boa reação da população, que em geral tem respeitado as regras e visto com bons olhos os benefícios e as isenções, há quem critique as medidas. São os que consideram as propostas exageradas e inconstitucionais pois violariam direitos como o de ir e vir.

"Criou-se uma cortina de fumaça para o verdadeiro problema do país, que é como negociar a dívida, baixar a inflação e voltar a dar emprego às pessoas", diz o analista político Marcos Novaro.

Além disso, os economistas questionam de onde virá o dinheiro para todas essas medidas. A resposta já está dada: o governo admitiu que vem imprimindo moeda.

O que, como se sabe, pode levar o país a uma hiperinflação ainda neste ano.

"A preocupação econômica é, principalmente, a de que não se pode emitir dinheiro indefinidamente, tem de haver um plano, uma emergência específica, um prazo para parar de fazer isso. Emissão de moeda por um ano? Imagine o que será o país no ano que vem?", afirma Novaro.

O analista critica a distribuição de recursos e diz que a Argentina tem gastado pouco para testar a população na tentativa de controlar a disseminação do vírus.

O governo ensaia um plano para repatriar médicos argentinos que estejam atuando ou estudando no exterior. Nesta semana, começou a construir hospitais no que antes, durante a ditadura (1976-1983), eram prisões clandestinas, como o Campo de Mayo.

Também estuda validar os diplomas de médicos venezuelanos refugiados na Argentina que trabalham como motoristas por meio de aplicativos de transporte ou em outras atividades, além de discutir um acordo de capacitação virtual com médicos chineses.

Para Novaro, Fernández está preocupado com a crise, de forma legítima, mas o analista também vê nela uma oportunidade de se descolar de Cristina, firmando-se como presidente e buscando "ao menos uma vitória no bolso".

"A questão é que não creio que ganharemos do coronavírus. Não haverá uma festa da vitória contra o vírus na Praça de Maio, essas imagens que ficam para a história", diz.

Segundo Novaro, a Argentina ainda terá problemas com o combate à crise na vizinhança.

"Temos [Jair] Bolsonaro e um país gigante ao nosso lado, que pode fazer com que todos os nossos esforços sejam em vão se não controlar a epidemia em seu território."