Demanda por atendimento cai, e hospitais reduzem alas de Covid no Rio

Demanda por atendimento cai, e hospitais reduzem alas de Covid no Rio

 

Isso não quer dizer, porém, que o Rio está em uma situação confortável. A ocupação de leitos públicos de UTI para a Covid na cidade e no estado tem variado entre 80% e 90%, e a maioria dos hospitais de referência está cheia, com rotatividade apenas quando há alta ou óbito.

Na rede privada, a Aherj também estimou um índice de 80% e 82% nas 110 unidades associadas -na semana retrasada, eram 85%.

A Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro informou que, até domingo (7), o estado tinha registrado 67.756 casos confirmados e 6.707 óbitos por Covid-19.

As altas taxas de ocupação, junto à decisão de retomar a economia em algumas cidades, têm criado um clima de tensão e medo entre os profissionais de saúde, que atribuem o recente recuo da doença ao isolamento social.

"As pessoas estão querendo transformar a redução em "já passou". Não passou. A epidemia não desapareceu, a taxa de contágio continua importante. Qualquer deslize pode ocupar 100% dos leitos", diz Graccho, diretor da Aherj, lembrando que algumas regiões ainda são críticas.

"Os hospitais privados da Baixada Fluminense ainda estão muito cheios. São Gonçalo, por exemplo, está numa posição extrema. Se o contágio aumentar demais, obviamente vai encher a vizinha Niterói, que está só com 70% de ocupação."

Alexandre Telles, presidente do sindicato de médicos (Sinmed-RJ), concorda: "A fila pode ter diminuído, mas os hospitais ainda estão lotados. Dá alta, entra outro. É uma temeridade reabrir nesse momento com a alta ocupação que temos", afirma ele, que trabalha no hospital de referência municipal do Rio, Ronaldo Gazolla.

Além do coronavírus, agora a cidade começa a lidar com uma onda de pacientes com outras doenças que, sem atendimento, desenvolveram complicações. Esse é um dos argumentos para o início da reabertura citados por Crivella -que na terça surpreendeu seu comitê científico incluindo camelôs na liberação.

O médico Júlio, por exemplo, conta que recentemente tem recebido muitos pacientes hipertensos e diabéticos descompensados e bebês desidratados na clínica da família de Ramos (zona norte). As visitas domiciliares ainda estão suspensas e muitos ainda têm medo de ir às clínicas, deixando de renovar receitas médicas e de usar medicações.

Segundo Raphael Câmara, conselheiro do Cremerj (conselho regional de medicina) e integrante do comitê científico do município, a própria prefeitura sabe que não há garantia de que a retomada das atividades não vá inundar o sistema de saúde novamente.

"Está muito claro que não tem garantia de nada. Segundo a prefeitura isso vai ser acompanhado dia a dia e, se tiver que voltar a essa quarentena meia boca que vínhamos fazendo, eles devem voltar", diz.