Suspeito de chefiar milícia pede atendimento de médico pessoal na prisão, Justiça nega, mas defesa tenta de novo

Suspeito de chefiar milícia pede atendimento de médico pessoal na prisão, Justiça nega, mas defesa tenta de novo

Defesa de Jamil Name apresentou nesta segunda-feira novo pedido, alegando que o suspeito tem diabetes, insuficiências vascular periférica, arritmia cardíaca e crise hipertensiva, além de idade avançada, 80 anos.

Chegada de Jamil Name, apontado pelo Gaeco como um chefes da milícia que agia em MS, ao Centro de Triagem, em Campo Grande

Reprodução/TV Morena

O empresário Jamil Name, que segundo investigação da polícia, é suspeito de chefiar uma organização criminosa do jogo do bicho que criou uma milícia para executar desafetos em Mato Grosso do Sul, pediu à Justiça uma autorização para que o seu médico pessoal preste assistência a ele no Centro de Triagem de Campo Grande, onde está preso desde o dia 28 de setembro. O primeiro pedido foi negado, mas um segundo foi apresentado nesta segunda-feira (7).

O advogado de defesa da família Name, Renê Siufi, disse ao G1 que as acusações de que Jamil e seu filho, Jamil Name Filho, lideram uma organização criminosa são uma "piada" e que está sendo apresentada somente a versão do Ministério Público. Disse que em juízo, os dois apresentarão os esclarecimentos necessários.

O primeiro pedido de Name para receber atendimento do seu médico na prisão foi feito no dia 1º de outubro. No mesmo dia o juiz Mário José Esbalqueiro Júnior, da 1ª Vara de Execução Penal, negou a autorização para que o cirurgião vascular que atende o suspeito entrasse no presídio.

No despacho, o juiz apontou que "existe médico no complexo penal" e que esse tratamento diferenciado precisaria de "o mínimo de verossimilhança de necessidade", para manter a "ordem, segurança e isonomia" na unidade. "Assim o preso deverá comprovar, requerendo necessidade de atendimento", concluiu o magistrado.

No dia seguinte ao pedido e negativa da Justiça, dia 2, uma médica e uma técnica de enfermagem da Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) foram até o Centro de Triagem para prestar assistência a Name, mas ele recusou atendimento.

Nesta segunda-feira (7), a defesa de Name apresentou um novo pedido para que ele seja atendido por seu médico pessoal no Centro de Triagem. Para reforçar a argumentação, o seu advogado listou uma série de doenças do suspeito: diabetes, insuficiências vascular periférica, arritmia cardíaca e crise hipertensiva, além da idade avançada, 80 anos.

Comando da milícia

No dia 28 de setembro, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), junto com a Delegacia de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros (Garras) e o Batalhão de Choque da Polícia Milita, fez uma operação, a Omertá, para desarticular a suposta milícia da organização criminosa do jogo do bicho.

Na ação foram presos o empresário Jamil Name e seu filho, Jamil Name Filho, quatro policiais civis, um policial federal, um militar do Exército aposentado, um funcionário de Jamil Name e guardas civis de Campo Grande, entre outros.

A representação que fundamentou os pedidos de prisão e de busca e apreensão, o Gaeco afirma que Jamil Name e Jamil Name Filho são os líderes da milícia e reforça essa argumentação apontado que a casa onde foi apreendido um arsenal pertence a família Name. Além disso, na casa onde estavam as armas foram encontrados bonés com câmeras ocultas, que tinham várias gravações que foram recuperadas pela perícia que citavam o nome de Jamil Name ou onde ele aparecia nas imagens.

A milícia, de acordo com a investigação, é suspeita de ter executado pelo menos três pessoas em Campo Grande desde junho do ano passado. Outras mortes também estão sendo investigadas.

Na representação, os promotores do Gaeco detalham que os três homicídios têm as mesmas características: foram cometidos por várias pessoas, usando mais de um veículo e com armas de grosso calibre, no caso, fuzis.

Com base nas investigações e em depoimentos, o Gaeco aponta que uma das execuções que teria sido cometida pela milícia seria a de Ilson de Figueiredo, de 62 anos, que era chefe de segurança da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul. Ele foi assassinado no dia 11 de junho de 2018, na avenida Guaicurus, no Jardim Itamaracá. Seu carro foi perseguido e ele foi morto a tiros por suspeitos que estavam em outro carro.

Conforme o Gaeco, Figueiredo foi morto porque teria tido participação no homicídio do filho de uma pessoa muito próxima aos dois homens que são apontados como os líderes da milícia, Jamil Name e seu filho, Jamil Name Filho.

Em uma conta na nuvem da internet, de um dos suspeitos presos na operação, a polícia encontrou, inclusive, 26 fotografias da execução de Figueiredo.

Outra execução que teria sido cometida pela milícia, conforme a representação do Gaeco à Justiça, foi a de Orlando da Silva Fernandes, em 26 de outubro de 2018. Ele foi segurança do narcotraficante Jorge Rafaat, executado em junho de 2016, em Pedro Juan Caballero, na fronteira com o Brasil.

Fernandes, que teria ligação com Figueiredo, foi morto no Jardim Autonomista, bairro nobre de Campo Grande, quando estava caminhando em direção ao seu carro. Os tiros atingiram principalmente a sua cabeça. Na carteira da vítima foi encontrado um cheque no valor de R$ 240 mil e ainda R$ 1,2 mil em dinheiro.

A terceira morte que teria sido cometida pela milícia, segundo o Gaeco, foi a do estudante Matheus Xavier, de 19 anos, Ele foi morto no dia 9 de abril deste ano, no bairro Jardim Bela Vista, quando manobrava a caminhonete do pai, o capitão aposentado da PM, Paulo Roberto Xavier.

A investigação aponta que Jamil Name, acreditava que Paulo Roberto Xavier tinha se aliado a um advogado, com quem ele tinha tido um desacordo em negociação de fazendas que pertenceram ao reverendo Moon localizadas em Jardim e em Campo Grande.

Por conta do revés nos negócios, Jamil Name, conforme o relatório da polícia, teria dado ordem para matar o advogado, a esposa dele e seu filho, além do ex-policial militar.