Reconhecimento facial pode detectar orientação política, diz estudo

Reconhecimento facial pode detectar orientação política, diz estudo

“Provavelmente, o algoritmo está detectando padrões e fazendo combinações que passam despercebidas aos olhos humanos”, explica ele ao Estadão. No estudo, a IA determinou 2.048 atributos de descrição da face, embora não seja possível saber o que a máquina captou – é algo que reforça a crítica de que a IA é uma tecnologia pouco transparente.

Críticas

Os resultados e a própria existência da pesquisa devem replicar críticas já feitas anteriormente aos trabalhos de Kosinski. Em 2017, ele publicou na revista The Economist uma pesquisa que afirmava ser possível usar o reconhecimento facial para detectar a orientação sexual das pessoas. Na época, grupos LGBTQ+ dos EUA consideraram o estudo falho e perigoso, enquanto pesquisadores questionaram seu método, linguagem e propósito.

“Eu espero que as pessoas tenham a cabeça mais fria desta vez. A maioria das críticas acontecem por não entenderem o que estou fazendo. Eu estou apontando os problemas da tecnologia e os riscos que ela traz para privacidade e direitos civis”, diz.

A argumentação para a existência do trabalho e os métodos adotados são problemáticos, dizem especialistas de diferentes áreas.

“Você não precisa explodir uma bomba para saber que ela é perigosa”, afirma Sérgio Amadeu, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC) e especialista em políticas públicas e inclusão digital. “Me preocupo muito com o tipo de incentivo e sinalização que esse tipo de pesquisa nos traz”, diz.

“Isso recicla velhas práticas. É uma atualização do positivismo de Cesare Lombroso”, diz ele, em referência ao psiquiatra e criminologista italiano que viveu no século 19 e que dizia ser possível identificar criminosos a partir de suas características físicas. “Agora, porém, a computação é usada para justificar velhos preconceitos.”

“É absurdo dizer que é possível extrair uma construção social, como orientação política, a partir de características genéticas e fenotípicas”, diz Roberto Hirata Junior, professor da USP. Segundo ele, é possível que exista viés nos dados e nas classificações para indicar orientação política.