Forças de segurança matam mais de 90 manifestantes contrários ao golpe militar em Mianmar

Forças de segurança matam mais de 90 manifestantes contrários ao golpe militar em Mianmar

 

O líder golpista, Min Aung Hlaing, disse nesse sábado (27/3) em discurso transmitido em cadeia nacional que iria “proteger a democracia”. Ele prometeu a realização de eleições, mas não estabeleceu um calendário para que isso ocorra.

Mais de 350 pessoas foram mortas na repressão aos protestos desde que os militares tomaram o poder em fevereiro.

Nesta sexta (26/3), a TV estatal de Mianmar emitiu um alerta em uma transmissão nacional afirmando que as pessoas “deveriam aprender com a tragédia de mortes horríveis que ocorreram que você (manifestante) corre o risco de levar um tiro na cabeça e nas costas”.

As grandes manifestações mais recentes ocorreram em ruas de Yangon, maior cidade do país com 7 milhões de habitantes, e outras localidades espalhadas pelo país.

Ativistas anti-golpe convocaram os atos apesar da ameaça dos militares de usar força letal contra eles. As forças de segurança atuaram com violência, tentando evitar comícios, principalmente em Yangon.

Há informações incompletas sobre o número de mortos neste sábado. O site de notícias The Irrawaddy disse que 59 pessoas, incluindo três crianças, foram mortas em 28 locais.

O Myanmar Now publicou que pelo menos 50 pessoas morreram em uma das regiões do país, incluindo quatro do lado de fora de uma delegacia de polícia no subúrbio de Dala, em Yangon.

A agência de notícias Reuters fala em mais de 90 mortos, citando testemunhas e veículos locais.

Mortes também foram relatadas nas ruas da segunda maior cidade de Mandalay, enquanto os manifestantes carregavam a bandeira da Liga Nacional para a Democracia (NLD), o partido da líder civil deposta em Mianmar, Aung San Suu Kyi. Ela e outros integrantes do governo derrubado continuam presos.

“Eles estão nos matando como passarinhos ou galinhas, até mesmo em nossas casas”, disse Thu Ya Zaw à Reuters. Ele mora na cidade central de Myingyan, onde pelo menos dois manifestantes foram mortos. “Continuaremos protestando apesar de tudo… Devemos lutar até a queda da junta militar.”

Um jornalista disse à agência de notícias AFP ter visto a polícia usar munição de verdade contra manifestantes na cidade de Lashio, no nordeste do país. Há relatos de um bebê de um ano atingido no olho por uma bala de borracha.

Sasa, porta-voz do grupo anti-junta militar CRPH, disse à Reuters: “Hoje é um dia de vergonha para as Forças Armadas. Os generais militares estão comemorando o Dia das Forças Armadas depois de terem matado mais de 300 civis inocentes”.

Em meio ao avanço da violência, um dos 20 grupos étnicos armados de Mianmar, a União Nacional Karen, afirmou ter invadido um posto do Exército perto da fronteira com a Tailândia, matando 10 pessoas.

As facções armadas étnicas de Mianmar dizem que não ficarão paradas em meio ao golpe e que não permitirão mais mortes de manifestantes, disse neste sábado o líder de um dos principais grupos armados.

O governo também tem cortado o acesso à internet, censurado veículos de comunicação e bloqueado redes sociais para tentar conter os protestos contra o golpe, que tem ganhado força entre estudantes, funcionários públicos, sindicatos e categorias profissionais organizadas.

“Ouvi histórias de pessoas que foram presas e pareciam ter sido torturadas, outras que receberam os corpos de seus parentes com órgãos faltando. Familiares meus estão na cadeia, pessoas que eu conheço foram mortas. Eu não quero virar mártir, eu quero poder usufruir da democracia em Mianmar quando enfim conseguirmos restabelecê-la”, relatou Aye Min Thant, jornalista que recebeu o Prêmio Pulitzer em 2019, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo.

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