Governo francês pede punição de militares que ameaçaram "intervenção" em carta aberta

Governo francês pede punição de militares que ameaçaram

 

A carta diz que a França está em perigo e que a ausência de ação contra o islamismo e as “hordas suburbanas” -uma referência aos residentes, em sua maioria de imigrantes, das periferias das cidades francesas- levará o país a uma guerra civil.

Os oficiais então acenam com uma intervenção caso Macron não aja para “erradicar os perigos” que estariam levando o país ao declínio.

Não se sabe exatamente as filiações políticas de todos os signatários, mas, segundo o jornal Libération, vários deles têm elos com a RN (Reunião Nacional), sigla liderada por Marine Le Pen, herdeira da antiga Frente Nacional, fundada por seu pai, Jean-Marie Le Pen, no fim da Guerra da Argélia.

O governo e os partidos de esquerda condenaram veementemente a carta, e Florence Parly disse que os militares na ativa desrespeitaram uma lei que proíbe que eles se posicionem politicamente.

“Dois princípios imutáveis orientam a ação dos militares em relação à política: neutralidade e lealdade”, escreveu a ministra em suas redes sociais, embora tenha dito que a “imensa maioria” das tropas francesas não endossam a posição do texto.

O analista político Jean-Yves Camus também minimizou o significado da carta e disse à agência de notícias AFP que os signatários “não eram pesos pesados” no Exército.

A candidata de ultradireita Marine Le Pen, por sua vez, demonstrou seu apoio à carta e convidou os militares a “se juntarem” a ela. Em um artigo de opinião no jornal Libération, Parly criticou o posicionamento da candidata, afirmando que “politizar as Forças Armadas é um insulto” e que isso só enfraquece o país.

Em resposta, Le Pen disse à France Info nesta segunda que não se arrepende das declarações e que o país está afligido por “áreas sem lei, crime” e pela “rejeição do patriotismo” pelos líderes de governo, mas concordou que “esses problemas só podem ser resolvidos pela política”.

A divulgação da carta acontece num momento em que a França debate temas considerados polêmicos, como segurança, terrorismo e islamofobia, assunto que ganhou mais força após um homem ter matado uma policial a facadas Rambouillet, a cerca de 60 km de Paris, na última sexta (23). O suspeito é de origem tunisiana e foi morto a tiros pela polícia.

A França ainda se prepara para as eleições presidenciais em 2022, e uma pesquisa realizada pelo Ifop para o Journal du Dimanche no domingo (25) aponta que a segurança e a luta contra o terrorismo estão entre as prioridades dos eleitores após uma nova onda de ataques, com a decapitação de um professor e a morte de três pessoas em um ataque a faca na basílica de Nice, no sul do país, em outubro.