Travesti sem-teto queimada em ataque no Recife tem segundo braço amputado

Travesti sem-teto queimada em ataque no Recife tem segundo braço amputado

Já Roberta batalha pela vida no Hospital da Restauração, unidade pública vinculada à Secretaria de Saúde de Pernambuco que possui um centro para tratamento de queimados.

Com 40% de seu corpo comprometido -muitos dos ferimentos provocados por queimaduras de segundo e terceiro graus-, os braços da vítima foram as partes mais afetadas pelas chamas.

O Hospital da Restauração disse, por nota, à Folha de S.Paulo que as queimaduras comprometeram a vascularização dos braços da vítima, que entraram em processo de necrose.

Sem apresentar recuperação, a equipe médica fez a primeira amputação do braço esquerdo da travesti no último sábado (26). O corte do membro afetado foi feito até a altura do ombro.

Na tarde desta quarta, foi a vez do braço direito, amputado até o cotovelo. Ainda de acordo com o hospital, Roberta se recupera das cirurgias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

A previsão é que ela seja transferida nos próximos dias para o Centro de Tratamento de Queimados do hospital para seguir com o tratamento previsto. A paciente, segundo o hospital, está consciente e sabe dos motivos que levaram às amputações. Ela é acompanhada por uma equipe de psicólogos e assistentes sociais.

E também por ativistas da causa LGBTQIA+, que disseram ter sido necessária uma intervenção junto à diretoria do Hospital da Restauração para garantir a internação correta à paciente.

Assim que foi resgatada por uma ambulância do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), a travesti foi perguntada como se chamava.

Com muita dificuldade, conseguiu dizer o nome de registro, e acabou sendo levada para a ala masculina do hospital. “Quando cheguei ao hospital, ela estava na ala masculina. Prontamente conversamos com ela e intervimos na situação”, disse Robeyoncé Lima, codeputada do PSOL de Pernambuco.

O Hospital da Restauração informou que ao tomar conhecimento do fato fez as mudanças no cadastro de internação e colocou a travesti na ala feminina conforme a identidade de gênero dela.

A recuperação da travesti também será importante para se saber a versão dela sobre o ataque e qual relação tinha com o adolescente apontado como autor do crime.

Segundo a Polícia Civil, o adolescente foi “autuado por ato infracional análogo à tentativa de homicídio qualificado”. Após avaliação do Ministério Público, o jovem foi encaminhado para a Unidade de Atendimento Inicial, da Secretaria de Criança e Juventude.

A Promotoria também diz apurar se houve motivação transfóbica no ataque à travesti. “Estamos acompanhado, na qualidade de órgão de apoio, o ato infracional semelhante a transfeminicídio, na modalidade tentada e qualificado pelo motivo torpe, perpetrado em desfavor da mulher trans identificada como Roberta, inclusive considerando as repercussões nas áreas de cidadania, direitos humanos e infância e juventude”, disse Carolina Moura, promotora que coordena o Núcleo de Direitos LGBTQIA+ da instituição.

Em resposta ao prefeito do Recife, João Campos (PSB), que disse numa rede social acompanhar o caso de Roberta por meio de sua Secretaria de Desenvolvimento Social, a Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) afirmou que “o estado de Pernambuco está entre os dez mais violentos e com os maiores dados de assassinatos de pessoas trans do Brasil, com muitos casos na capital”.

“Precisamos de políticas específicas para enfrentar essa violência que segue negligenciada”, disse a entidade.

PROTESTO E COMOÇÃO

A violência contra Roberta uniu grupos e entidades da sociedade civil num protesto nas imediações do Palácio Campo das Princesas, sede do governo Pernambucano, no Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, celebrado no dia 28 de junho.

Artistas também se manifestaram sobre o caso. O comediante e youtuber Whindersson Nunes disse em uma rede social que enviou, por meio de um amigo, flores e um bilhete a Roberta.

“Tenho uma amiga trans que falou de Jesus para mim [de uma forma] muito bonita quando eu tinha perdido a fé, e esse amor voltou. […] Toda vez que eu penso nela, tenho medo que alguém faça algo assim do nada, porque é uma realidade”, disse Whindersson.

O comediante Marcelo Adnet classificou o caso como “um horror” e disse que se prontificava a prestar ajuda à vítima.