Deputados americanos pedem a Biden recuo na relação Brasil-EUA "até novo líder ser eleito"

Mais de 60 deputados americanos assinam uma carta em que pedem ao presidente Joe Biden um recuo nas relações entre Estados Unidos e Brasil até que “um novo líder, mais alinhado a valores democráticos e direitos humanos, seja eleito”.

Na mensagem, com data desta quinta-feira (14), o parlamentar democrata Hank Johnson (Geórgia) e outros 63 legisladores apontam para as tentativas do presidente brasileiro Jair Bolsonaro de deslegitimar as eleições presidenciais de 2022 e para o apoio dele à contestação da vitória de Biden no pleito americano de 2020.

“Bolsonaro apoiou as declarações falsas de [Donald] Trump sobre fraude na eleição e foi um dos últimos líderes globais a reconhecer sua vitória eleitoral, o que põe em dúvida a disposição dele de aceitar os resultados da eleição brasileira em 2022”, escrevem os legisladores.

Foto: Mandel Ngan/AFP

“O filho de Bolsonaro, um proeminente legislador, esteve presencialmente em atividade ligadas ao "Stop the Steal" em 6 de janeiro, em Washington.” O texto se refere ao fato de o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) ter participado de um encontro, no dia 5 de janeiro, com o empresário Mike Lindell, um dos grandes patrocinadores da campanha de contestação do resultado eleitoral que culminaria na invasão do Capitólio.

O ato, um dia depois da reunião que teve a presença do brasileiro, terminou com cinco mortos.

Na missiva, os legisladores reforçam ainda pedidos para que Biden anule a designação de aliado preferencial extra-Otan, concedida ao Brasil durante o governo Trump; retire a oferta de apoio para o país se tornar um sócio global da Otan (aliança militar ocidental); e reveja outros programas de cooperação entre as duas nações.

“Bolsonaro usou essa designação [aliado preferencial extra-Otan] para seu benefício político, citando-a como um grande feito e um selo de aprovação dado pelo governo dos EUA”, diz a carta.

“Oferecer ao Brasil apoio para se tornar sócio global da Otan sinalizaria que os EUA não veem as violações a direitos humanos, os ataques à democracia e ao meio ambiente que estão acontecendo no Brasil.”

O apoio para que o país se torne sócio global da Otan foi oferecido durante a visita do assessor de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, em agosto, e gerou críticas no Congresso americano.

Tanto a designação de aliado preferencial extra-Otan como a de sócio global dão ao país maior acesso para compra de equipamentos e treinamentos militares.

No fim de setembro, o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado americano, o democrata Bob Menendez, e outros três parlamentares enviaram uma carta instando o governo Biden a deixar claro para Bolsonaro que qualquer ruptura democrática no Brasil “terá sérias consequências”.

Na missiva então enviada ao secretário de Estado, Antony Blinken, os senadores advertiam que o presidente brasileiro vem fazendo ameaças de rompimento da ordem constitucional no país, usando uma linguagem “irresponsável” e gestos de intimidação contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Parlamentares do Partido Democrata já haviam apresentado uma emenda ao orçamento de Defesa para proibir o governo americano de usar recursos públicos para beneficiar o Brasil em decorrência do status do país de aliado prioritário extra-Otan. A emenda não foi aprovada.

Na carta desta quinta ao presidente americano, os 63 deputados relembram atos de Biden como vice-presidente de Barack Obama, citando que foi ele que selou a reconciliação com o Brasil após o escândalo de espionagem da NSA ao levar documentos sobre a ditadura à então presidente Dilma Rousseff.

Eles apontam ainda que Bolsonaro, quando era deputado federal, homenageou o general Brilhante Ustra, apontado pela Comissão da Verdade como um dos maiores torturadores do regime militar brasileiro.

A carta cita que o mandato do presidente brasileiro tem sido marcado por “políticas antidemocráticas” e “insultos odiosos contra afro-brasileiros, indígenas, a comunidade LGBTQIA+ e sindicatos, e elogios à ditadura militar brutal que mandou no Brasil de 1964 a 1985”.

Em seu governo, diz o texto, Bolsonaro implementou políticas que “ameaçam minorias, criaram desemprego historicamente alto, prejudicaram o meio ambiente, põem em perigo a democracia relativamente jovem do Brasil e levaram a centenas de milhares de mortes desnecessárias por Covid-19”.

Os deputados também criticam o ex-embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chapman, dizendo que ele mantinha “uma amizade problemática com Bolsonaro”.