'Meu sonho é ser brasileiro', diz boliviano que passou 3 anos em MS para filho tratar de câncer no braço

'Meu sonho é ser brasileiro', diz boliviano que passou 3 anos em MS para filho tratar de câncer no braço

Segundo Jesus Almendras Yavary, que mora em Puerto Quijaro, o desejo ficou mais forte após o filho ser curado em um tratamento que fez. O jovem, hoje com 18 anos, perdeu um dos braços por conta da doença. Josué Eliazer precisou amputar o braço direito por conta de um tumor. Ele recebeu o diagnóstico da cura em 2018.

Jesus Almendras Yavary/Arquivo pessoal

"Sonho verde e amarelo". É assim que o funileiro boliviano Jesus Almendras Yavary, chama o ideal de sua vida e o de sua família. Se tornar um cidadão brasileiro. Tudo, por conta de ter sido no Brasil que ele encontrou assistência médica para salvar a vida do seu filho.

Morador de Puerto Quijarro, cidade boliviana que fica a 266 quilômetros de Corumbá, em Mato Grosso do Sul, Jesus conta que teve que buscar no Brasil o socorro para salvar o filho que havia sido diagnosticado com um câncer no braço em 2015, quando tinha apenas 14 anos. Três anos depois, ele recebeu o diagnóstico de cura.

A descoberta da doença

De acordo com o funileiro, Josué começou com pequenas dores no braço direito no final de dezembro de 2014. Ele conta que na época pegou todo o recurso que tinha para ficar o período necessário para iniciar o tratamento.

Conforme Jesus, a peregrinação para o tratamento do filho, Josué Eliazer Almendras Fernandez, hoje com 18 anos, começou após ele sentir fortes dores no braço direito: "Nossa vida teve uma reviravolta em 2014 quando na Bolívia confirmaram sobre essa doença terrível. Vendemos nossas coisas e fomos para Santa Cruz. Mas tudo era muito difícil".

O pai ainda acrescenta: "Eu lembro como se fosse hoje, quando descobrimos que seria possível tratá-lo eu chorei. Os médicos me chamaram e me contaram que teria que amputar o braço dele. Para um pai isso é muito difícil, mas tivemos que aceitar para que meu filho pudesse estar vivo até hoje".

Com dificuldade para manter a luta contra a doença sem seu país, o boliviano diz que a alternativa foi cruzar a fronteira em busca do socorro. A família teve que fazer diversas e longas viagens até um hospital em Campo Grande em busca do tratamento.

Família sonha em residir no Brasil, após filho fazer tratamento de um câncer, em Campo Grande (MS).

Jesus Almendras Yavary/Arquivo pessoal

Em busca de socorro no Brasil

Na época, a família vivia na cidade de Puerto Soares, a 13 quilômetros até a fronteira com Corumbá. Na imigração ele e a esposa e o filho conseguiram tirar CPF brasileiro e a imigração deu um visto de permanência de 90 dias.

Com esses documentos eles conseguiram ser atendidos pelo SUS, porém não conseguiram retirar medicamentos por esse mesmo sistema, o que dificultava ainda mais a estadia aqui no país. A ajuda chegou por meio de doações: " Para conseguir os remédios gratuitamente, o sistema solicitava uma declaração de permanência no Brasil", relembra.

Jesus ainda conta que a família teve a ajuda de uma família brasileira, na qual até hoje mantém contato: "Graças a Deus pessoas maravilhosas nos acolheram e depois de toda essa dificuldade, tentamos trabalho em Corumbá, mas não foi possível por que não tínhamos a documentação necessária. Sempre quando ainda precisamos ir até a capital de Mato Grosso do Sul, sou imensamente grato ao Brasil", finaliza.

Adolescente tinha 14 anos quando família veio para MS em busca de ajuda.

Jesus Almendras Yavary/Arquivo pessoal

"Meu sonho é ser brasileiro, justamente porque foi aí [Brasil] que consegui algo: o tratamento para curar o meu filho. Ele perdeu um braço por conta da doença, mas mesmo assim, essa estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS), ajudou a salvar uma das pessoas mais importantes da minha vida", explicou ao G1.

"Aqui, as coisas não são tão avançadas, principalmente quando o assunto é saúde. Eu pude sentir isso na minha pele. Tive medo de perder meu garoto e é por isso que desejo sempre o melhor para minha família", relembra.

Estrangeiros que buscaram atendimento em MS

De acordo com dados do Datasus, de 1º de janeiro até 31 de agosto, 497 estrangeiros foram internados em unidades de saúde em Mato Grosso do Sul.

A maior parte, 233, foi de paraguaios. Depois, com 129 pessoas, aparece a Bolívia, na sequência o Haiti, com 27 e Cuba, com 22.

O Datasus indica que em Corumbá, foram atendidos 112 pacientes estrangeiros, todos bolivianos. Seis pessoas morreram, uma por desnutrição.

Em Campo Grande, capital do estado, 50 pessoas de 19 nacionalidades diferentes procuraram auxílio médio do sistema público brasileiro. A maior parte, foi de paraguaios, com 23 internações.

As autoridades de saúde do estado apontam que o número de atendimentos de saúde a estrangeiros no estado é bem maior, já que alguns serviços como vacinação, curativos, inalação e outros pequenos procedimentos não são computados na rede de assistência.