Justiça recebe denúncia contra Jamil Name e outros 20 por organização criminosa, milícia, jogos ilegais e homicídios

Justiça recebe denúncia contra Jamil Name e outros 20 por organização criminosa, milícia, jogos ilegais e homicídios

Na denúncia, o MP-MS detalha o papel de cada um dos suspeitos na suposta organização criminosa. Segundo o Ministério Público, Jamil Name, seria o principal chefe do grupo.

Chegada de Jamil Name, apontado pelo Gaeco como um chefes da milícia que agia em MS

Reprodução/TV Morena

A juiza May Melke Amaral Penteado Siravegna, da 4ª Vara Criminal de Campo Grande, recebeu nesta segunda-feira (21) à noite a denúncia do Ministério Público Estadual (MP-MS), contra o empresário Jamil Name e seu filho, Jamil Name, além de outras 19 pessoas, pelos crimes de organização criminosa e milícia armada, voltada à exploração de jogos ilegais, corrupção, extorsão e homicídios, entre outros.

Na denúncia, o MP-MS detalha o papel de cada um dos suspeitos na suposta organização criminosa. Segundo o Ministério Público, Jamil Name, seria o principal chefe do grupo. Abaixo dele estaria apenas seu filho, Jamil Name Filho.

Na hierarquia do grupo apareceriam então, conforme a denúncia, quatro gerentes da organização criminosa: o guarda municipal Marcelo Rios, que era responsável pelo arsenal do grupo e que teria envolvimento em execuções praticadas pela milícia; o policial civil aposentado Vladenilson Danilel Olmedo, o Vlad, apontado como o responsável pela segurança da família Name.

Também integrariam o núcleo de gerentes do grupo: Luis Fernando da Fonseca, que atuaria junto com Marcelo Rios na administração das armas da milícia e o policial civil Márcio Cavalcanti da Silva, o Corno, que é apontado como braço-direito do chefe do grupo, atuando nas funções de guarda e na garantia de transporte de armas.

Outras 15 denunciados, conforme o MP-MS, seriam encarregados de dar o apoio e fornecer a logística a atuação do grupo. Nesta lista estão os guardas municipais: Alcinei Arantes da Silva, Eronaldo Vieria da Silva, Igor Cunha de Souza, Rafael Antunes Vieira, Rafael do Carmo Peixoto Ribeiro e Roberto Vitor Kopetski.

Também foram denunciados pela suspeita de participarem do núcleo de apoio do grupo os policiais civis: Elvis Eliar Camargo Lima e Frederico Maldonado Arruda, o militar da reserva Andrison Correia, o policial federal Everaldo Monteiro de Assis e três funcionários da família Name: Elton Pedro de Almeira, Euzébio de Jesus Araújo e Flávio Narciso Morais da Silva.

A denúncia também é voltada para os dois homens que são apontados como os encarregados de executarem os de desafetos da organização, os ex-guardas municipais Juanil Miranda Lima e José Moreira Freires.

O G1 tentou entrar em contato com o advogado de defesa de Jamil Name, Jamil Name Filho, Márcio Cavalcanti da Silva e Vladenilson Danilel Olmedo, Renê Siufi, mas até a publicação da reportagem não obteve retorno. Em contatos anteriores ele tem negado as acusações contra seu cliente e disse que os esclarecimentos serão apresentados em juízo.

O advogado de Elton Pedro de Almeida, João Matheus Giacomini, negou o envolvimento do seu cliente com o suposto grupo. A defesa diz que ele é inocente e que apenas trabalhava na área de tecnologia da informação em uma empresa de Jamil Name. "Nunca teve ciência de nada ilícito ou praticou nenhuma ilegalidade. Ele cuidava dos computadores da empresa, digitalizava documentos. E vamos provar isso no processo".

Não retornaram as ligações: Márcio de Souza de Almeida que defende os guardas: Rafael Carmo Peixoto Ribeiro, Eronaldo Vieira da Silva e Igor Cunha da Silva. Também não foi localizado o advogado Edgar Calixto que defende: Luis Fernando da Fonseca e Euzébio de Jesus Araujo, assim como Alexandre Franzoloso, que defende Marcelo Rios.

O advogado Alício Garcez Chaves, que defende o policial federal Everaldo Monteiro de Assis, ficou de retornar o contato e o advogado Anderson Luiz Ferreira Buzo, que representa: Robert Vítor Kopetski, Rafael Antunes Vieira e Flavio Narciso Morais da Silva, diz que ainda não teve acesso aos autos e vai aguardar para poder se pronunciar

Prisões

Dos 21 denunciados, 19 foram presos no dia 28 de setembro, pela força-tarefa que desarticulou o grupo por meio da operação Omertá. Participaram da ação o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), junto com a Delegacia de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros (Garras), o Batalhão de Choque da Polícia Militar e o Batalhão de Operações Especiais (BOPE).

Jamil Name, Jamil Name Filho, o policial aposentado Vladenilson Daniel Olmedo, o Vlad, e o investigador da Polícia Civil, Márcio Cavalcanti da Silva, foram transferidos no dia 12 de outubro do Centro de Triagem do Complexo Penitenciário em Campo Grande, para o presídio federal da cidade.

A transferência ocorreu depois que o MP-MS apontou a Justiça de que a cúpula da suposta organização criminosa estaria tramando durante o período em que permaneceu no Centro de Triagem um atentado com o delegado do Garras, Fábio Peró, que comandou as investigações que levaram a desarticulação do grupo.

Dois dias depois da transferência para a unidade federal, em 14 de outubro, a Justiça Federal autorizou que os quatro sejam encaminhados para o presídio federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte. A remoção, entretanto, ainda não ocorreu.

Comando da milícia

No dia 28 de setembro, o Gaeco, junto com o Garras, o Batalhão de Choque e o Bope, fez uma operação, a Omertá, para desarticular a suposta milícia da organização criminosa do jogo do bicho.

Na ação foram presos o empresário Jamil Name e seu filho, Jamil Name Filho, quatro policiais civis, um policial federal, um militar do Exército aposentado, um funcionário de Jamil Name e guardas civis de Campo Grande, entre outros.

A representação que fundamentou os pedidos de prisão e de busca e apreensão, o Gaeco afirma que Jamil Name e Jamil Name Filho são os lideres da milícia e reforça essa argumentação apontado que a casa onde foi apreendido o arsenal pertence a família Name. Além disso, na casa onde estavam as armas foram encontrados bonés com câmeras ocultas, que tinham várias gravações que foram recuperadas pela perícia que citavam o nome de Jamil Name ou onde ele aparecia nas imagens.

A milícia, de acordo com a investigação, é suspeita de ter executado pelo menos três pessoas em Campo Grande desde junho do ano passado. Outras mortes também estão sendo investigadas.

Na representação, os promotores do Gaeco detalham que os três homicídios têm as mesmas características: foram cometidos por várias pessoas, usando mais de um veículo e com armas de grosso calibre, no caso, fuzis.

Com base nas investigações e em depoimentos, o Gaeco aponta que uma das execuções que teria sido cometida pela milícia seria a de Ilson de Figueiredo, de 62 anos, que era chefe de segurança da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul. Ele foi assassinado no dia 11 de junho de 2018, na avenida Guaicurus, no Jardim Itamaracá. Seu carro foi perseguido e ele foi morto a tiros por suspeitos que estavam em outro carro.

Conforme o Gaeco, Figueiredo foi morto porque teria tido participação no homicídio do filho de uma pessoa muito próxima aos dois homens que são apontados como os líderes da milícia, Jamil Name e seu filho, Jamil Name Filho.

Em uma conta na nuvem da internet, de um dos suspeitos presos na operação, a polícia encontrou, inclusive, 26 fotografias da execução de Figueiredo.

Outra execução que teria sido cometida pela milícia, conforme a representação do Gaeco à Justiça, foi a de Orlando da Silva Fernandes, em 26 de outubro de 2018. Ele foi segurança do narcotraficante Jorge Rafaat, executado em junho de 2016, em Pedro Juan Caballero, na fronteira com o Brasil.

Fernandes, que teria ligação com Figueiredo, foi morto no Jardim Autonomista, bairro nobre de Campo Grande, quando estava caminhando em direção ao seu carro. Os tiros atingiram principalmente a sua cabeça. Na carteira da vítima foi encontrado um cheque no valor de R$ 240 mil e ainda R$ 1,2 mil em dinheiro.

A terceira morte que teria sido cometida pela milícia, segundo o Gaeco, foi a do estudante Matheus Xavier, de 19 anos. Ele foi morto no dia 9 de abril deste ano, no bairro Jardim Bela Vista, quando manobrava a caminhonete do pai, o capitão aposentado da PM, Paulo Roberto Xavier.

A investigação aponta que Jamil Name, acreditava que Paulo Roberto Xavier tinha se aliado a um advogado, com quem ele tinha tido um desacordo em negociação de fazendas que pertenceram ao reverendo Moon localizadas em Jardim e em Campo Grande.

Por conta do revés nos negócios, Jamil Name, conforme o relatório da polícia, teria dado ordem para matar o advogado, a esposa dele e seu filho, além do ex-policial militar.

Habeas corpus

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou pedido de revogação da prisão preventiva ou conversão da detenção em prisão domiciliar para o empresário Jamil Name. A decisão é do dia 9 de outubro de 2019 e foi publicada nesta segunda-feira (21) pelo tribunal.

No pedido, a defesa de Name alega que ele estaria sofrendo constrangimento ilegal diante da decisão do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul que indeferiu a liminar que pedia a libertação dele.