Kansas mantém direito ao aborto em 1º grande teste após decisão da Suprema Corte dos EUA

Kansas mantém direito ao aborto em 1º grande teste após decisão da Suprema Corte dos EUA

O presidente dos EUA, Joe Biden, comemorou o resultado. “É uma vitória importante para o Kansas, mas também para todos os americanos que acreditam que as mulheres devem poder tomar suas próprias decisões de saúde sem interferência do governo”, escreveu no Twitter;

Ativistas pelos direitos reprodutivos do Kansas apontaram que a emenda buscava abrir caminho para a proibição total do procedimento. Ashley All, porta-voz da Moradores de Kansas pela Liberdade Constitucional, disse à agência AFP que a medida seria um “golpe à autonomia pessoal”.

A decisão desta terça, de certa forma, também influencia a vida de mulheres de outros estados americanos. Pela proximidade, moradoras do Texas, Oklahoma e Missouri vão a clínicas de aborto do Kansas. Os três estados têm leis que dificultam ou proíbem procedimentos abortivos. No Kansas, o aborto é legal nas primeiras 22 semanas de gravidez.

Antes dos resultados, houve reclamações sobre a forma de votação, com apontamentos de que a cédula foi elaborada de maneira confusa. Aqueles que quisessem apoiar a emenda que deve reduzir os direitos reprodutivos deveriam votar “sim”. Já os que fossem contrários e defendessem o direito ao aborto, deveriam assinalar “não”.

A associação americana Valorize os Dois, que apoia a emenda, recebeu mais de US$ 4,7 milhões (R$ 24 milhões) este ano, com doações de dioceses locais contabilizando a fatia de pelo menos US$ 3 milhões, segundo relatórios divulgados em julho e vistos pela agência Reuters.

Outros estados, como Califórnia e Kentucky, votam ainda neste ano sobre questões semelhantes, em pleitos marcados para novembro, perto das eleições de meio de mandato do Congresso (midterms).

Apesar do resultado desta terça, o Kansas tem atuado historicamente como reduto de movimentos contra direitos reprodutivos. Em 1991, manifestantes de todo o país se reuniram em Wichita, a cidade mais populosa do estado, e bloquearam o acesso a clínicas que realizavam o procedimento por semanas.

Anos antes, em 1986, uma clínica local foi atacada com uma bomba improvisada. Em agosto de 1993, o médico George Tiller, pró-direito à interrupção da gravidez, foi ferido nos dois braços na região. Mais recentemente, em 2009, outro médico pró-aborto foi assassinado a tiros em Wichita.

Também nesta terça, os moradores do estado votaram nas primárias para as midterms. Entre os republicanos, foi escolhido o candidato apoiado pelo ex-presidente Donald Trump, Derek Schmidt.

Idaho Ainda nesta terça, a administração federal, por meio do Departamento de Justiça, moveu uma ação contra o estado de Idaho. A Casa Branca tenta bloquear uma lei estadual que proíbe quase absolutamente o aborto -na primeira contestação legal a uma legislação estadual sobre o tema desde a suspensão do direito constitucional ao aborto pela Suprema Corte.

O processo, aberto em um tribunal federal em Idaho, diz que a proibição do aborto no estado viola a Lei do Trabalho e Tratamento Médico de Emergência, uma lei federal que obriga os hospitais que recebem fundos federais a fornecer cuidados médicos de emergência.

Também pede à corte que impeça Idaho de criminalizar médicos ou cassá-los de suas licenças médicas se realizarem um aborto de emergência.

“A mensagem do Departamento de Justiça é clara. Se uma paciente chega ao pronto-socorro com uma emergência médica que põe em risco sua vida ou sua saúde, o hospital deve dispensar o tratamento necessário para estabilizar a paciente”, afirmou o secretário de Justiça, Merrick Garland.
“Isso inclui aborto, quanto este for o tratamento necessário”, acrescentou.

O processo ocorre apenas um dia antes de a Suprema Corte de Idaho ouvir os argumentos sobre a legalidade da lei estadual, que deve entrar em vigor em 25 de agosto.