Socialite que encantou oficiais da Otan na Itália era espiã da Rússia, diz investigação

Socialite que encantou oficiais da Otan na Itália era espiã da Rússia, diz investigação

Horas depois da conversa dos oficiais de inteligência, Rivera comprou uma passagem só de ida de Nápoles para Moscou. De acordo com uma longa investigação publicada na última quinta-feira (25) pelo Bellingcat em parceria com o site russo The Insider, a socialite era, na verdade, uma espiã russa vivendo há anos sob uma identidade falsa.

Ela estava na Itália a trabalho, espionando a Otan, e tudo indica, segundo a apuração, que foi chamada de volta para a Rússia às pressas por seus superiores, que ficaram receosos de que ela também fosse descoberta. Ela vivia disfarçada há uma década.

Rivera era uma “ilegal”, como são conhecidos os agentes russos que chegam a viver décadas no exterior com uma identidade falsa. Estes profissionais são utilizados pela inteligência russa desde os primeiros anos da antiga União Soviética.

Seu nome real é Olga Kolova, e ela agora vive em Moscou num apartamento de luxo, de acordo com a investigação. A confirmação de sua identidade veio de uma maneira inusitada: a foto do Whatsapp de Kolova era a mesma do perfil no Facebook de sua alter ego Rivera.

Espiões como ela costumavam ser difíceis de serem descobertos por agências de contra-inteligência, mas num mundo de dados biométricos, software de reconhecimento facial e possibilidades de investigação online, tornou-se mais difícil para a Rússia manter seus infiltrados fora do radar.

Christo Grozev, investigador principal do Bellingcat, disse em uma entrevista que descobriu o rastro de uma possível infiltrada quando pesquisava em um banco de dados vazado por agentes de fronteira da Belarus e fornecido a ele por um grupo de hackers opositores do regime do ditador Aleksandr Lukachenko.

Grozev procurou números de passaportes russos em intervalos conhecidos por terem sido usados por agentes do GRU e encontrou vários resultados. A maioria tinha nomes russos, mas uma se destacou: Maria Adela Kuhfeldt Rivera.

Geralmente os espiões disfarçam suas ligações com a Rússia ou com a União Soviética, mas este não era o caso dela. Ao que tudo indica, uma tentativa anterior de Rivera de se passar como cidadã peruana deu errado: um documento de 2006 observa que seu pedido de cidadania ao Peru foi negado e considerado fraudulento.

A investigação descobriu ainda que, aparentemente, as joias que Kolova vendia à alta sociedade italiana eram na verdade compradas no AliExpress, uma das maiores plataformas de ecommerce da China.