Cardeal investigado por fraude gravou ligação com papa Francisco sem consentimento

Cardeal investigado por fraude gravou ligação com papa Francisco sem consentimento

Na audiência desta quinta, repórteres tiveram de sair da sala do tribunal durante a reprodução do áudio, mas advogados presentes no momento disseram que Becciu pediu a Francisco que confirmasse ter autorizado um pagamento, a fim de ajudar a libertar uma freira sequestrada no Mali.

“Você me deu, ou não, a autorização para iniciar as operações de libertação da religiosa?”, perguntou Becciu, segundo a transcrição publicada, entre outros veículos, pelo jornal italiano Il Messaggero. “Tínhamos estabelecido o resgate em EUR 500 mil euros (R$ 2,81 mi), não mais que isso, porque nos parecia imoral dar mais dinheiro para os terroristas. Acho que já o havia informado de tudo isto. Lembra?”.

Francisco teria respondido que se lembrava vagamente e pedido ao cardeal que enviasse a pergunta por escrito.

Em maio deste ano, numa fase anterior do processo, Becciu disse ao Tribunal do Vaticano que Francisco aprovou gastos de até EUR 1 milhão (R$ 5,62 mi) para libertar a missionária Gloria Cecilia Narvaez –sequestrada pelo movimento jihadista malinês Frente de Libertação de Macina em 2017 e solta em 2021.

O caso remete à 2018, quando Becciu era a terceira pessoa mais poderosa na hierarquia do Vaticano. À época, ele contratou Cecilia Marogna, uma autodenominada analista de segurança, para operar o resgate.

Marogna recebeu EUR 575 mil (R$ 3,23 mi) da Secretaria de Estado, departamento mais importante do Vaticano, de 2018 a 2019, época em que Becciu estava no cargo. O dinheiro foi enviado para uma empresa fundada por ela na Eslovênia.

Posteriormente, a polícia descobriu que a analista gastou parte dos recursos para uso pessoal, na compra de roupas de grife e em hotéis luxuosos. Marogna é corréu no processo, acusada de desvio de dinheiro.

Nesta quinta, Becciu enfrentou no tribunal a principal fonte da acusação, seu ex-assistente, monsenhor Alberto Perlasca.

Perlasca contou ao tribunal como recebeu ordens para fazer pagamentos que considerava incomuns: o envio de EUR 100 mil (R$ 556 mil) para uma instituição de caridade na Sardenha –sem saber na época que era ligada à família do cardeal. Becciu alegou que a instituição ajudou a criar empregos numa área pobre.