"Justiça francesa é irresponsável e coloca dinheiro à frente da vida", diz pai de vítima voo 447

“A Justiça francesa é irresponsável e essa decisão deixou a todos nós familiares inconformados. Por isso, eu rebato a frase do Charles de Gaulle [ex-presidente da França], que disse que "o Brasil não é sério”. A França não é séria. Ela está contradizendo toda aquela revolução da Bastilha, e eles são altamente capitalistas. Eles estão botando o dinheiro à frente da vida das pessoas”, afirmou.

Marinho classificou os juízes franceses como “parciais”, considerando que os magistrados são pagos pelo governo do país que sedia ambas as empresas. A Airbus foi formada em conjunto por várias empresas europeias, e a Air France foi fundada na França.

Se condenadas, a Airbus e a Air France teriam que pagar uma multa de 225 mil euros (R$ 1, 25 milhão) cada uma. Mas, segundo as conclusões da investigação, o acidente ocorreu após gelo bloquear as sondas de medição da velocidade do avião, o que fez com que os pilotos não tivessem acesso a esses dados quando passaram por uma zona de turbulência.

Por isso, eles não aplicaram o protocolo adequado e subiram o avião até que ele perdeu a sustentação do ar, virou para baixo e seguiu em queda livre até o mar, a 1.150 quilômetros da costa do Recife.

“É um avião assassino esse A-330. Ele estava com defeito e caiu de 10 mil metros de altura em três minutos. Quando essa aeronave apresenta defeito, ela vai para o chão, não tem o que fazer. Mesmo assim, deixaram decolar”, disse Marinho, que conta ter conversado com mais de 80 pilotos de países diferentes.

As caixas-pretas confirmaram que os pilotos, desorientados pela pane técnica que interferiu nas medições de velocidade do avião no meio da noite, não conseguiram impedir a queda da aeronave, que ocorreu em menos de cinco minutos.

“Eles só culpam o piloto, que não tem culpa de nada. O problema foi só no mecanismo mesmo, eu posso te afirmar isso. Mas a decisão deles [da Justiça francesa] foi absurda”, completou.

O voo AF447 mergulhou no oceano Atlântico, quase quatro horas após decolar do Rio de Janeiro. O filho do presidente da associação de vítimas, também Nelson Marinho, seguia para Angola, onde trabalhava em uma plataforma de petróleo, e faria a conexão em Paris. “Foi um coice que eu levei”, disse, ao relembrar o dia da tragédia. “Meu filho saiu daqui num domingo e no dia seguinte eu vi pelos jornais que um avião da Air France tinha sumido, e começou todo esse pesadelo”, afirmou.

O caso foi arquivado o caso em 2019, mas os familiares das vítimas e sindicatos de pilotos recorreram. Em maio de 2021, a Justiça ordenou o julgamento das duas empresas por homicídios culposos.

Para o tribunal de apelações, que reverteu o arquivamento do processo, a Air France não implementou o treinamento adaptado ou as informações necessárias para que os pilotos pudessem reagir a essa pane técnica.

Questionado sobre o que a associação fará quanto à decisão da Justiça francesa, Marinho respondeu que ainda não sabe se caberá recurso contra a decisão. “Se houver, com certeza vamos recorrer. Todas as associações de familiares vão, a nossa, a francesa, a da Alemanha”, frisou.