Jovem que precisa de 18 bolsas de plaquetas por dia pede ajuda para tratamento

Jovem que precisa de 18 bolsas de plaquetas por dia pede ajuda para tratamento

Segundo a família, Rebeca Lodi não está recebendo a quantidade necessária de bolsas de plaquetas para manter seu organismo regular. Eles culpam o processo de separação de hemocomponentes, que tem que ser feito em São Paulo. Família de Rebeca relata que jovem não está recebendo plaquetas suficientes em Santos, SP

Arquivo pessoal

Uma jovem de 29 anos sofre com a falta de bolsas de plaquetas suficientes, para se manter saudável, enquanto trata uma Leucemia Amniótica Aguda no Hospital Guilherme Álvaro, em Santos, no litoral de São Paulo. A doença é uma espécie de câncer no sangue. Rebeca Lodi precisa receber 18 bolsas de plaquetas por dia e a família alega que ela não tem recebido o suficiente para manter o seu nível de plaquetas alto.

Em entrevista ao G1 nesta terça-feira (21), o marido da paciente, Harlley Harison, disse que uma das principais razões para ela não conseguir receber a transfusão necessária é porque o sangue coletado no Hemonúcleo de Santos é transferido, para São Paulo, para fazer a separação da hemocomponentes. Esse trabalho seria otimizado se o equipamento público possuísse a máquina de aférese para uso transfusional, que colhe o sangue diretamente do doador, centrifuga, separa as plaquetas ou as hemácias, e devolve o restante para o corpo.

Rebeca foi internada no dia 27 de dezembro na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Enseada, no Guarujá, com diversos hematomas pelo corpo e com hemorragia. Ela foi transferida para o Hospital Santo Amaro e, após diversos exames, a leucemia foi confirmada. No dia 3 de janeiro, ela foi levada para o Guilherme Álvaro, por meio da Central de Vagas (Cross).

A jovem deu início ao tratamento e fez quatro sessões de quimioterapia, processo que fez com que o número de plaquetas baixasse. Ela passou a necessitar de nove bolsas de plaquetas a cada 12 horas, para que mantivesse o nível normal em seu sangue – entre 150 mil e 450 mil. Todo o processo foi feito normalmente até semana passada, quando começou a faltar bolsas no Hemonúcleo, segundo Harlley.

"A gente tem mandado em média 15 pessoas por dia para doar sangue. É essencial para o tratamento dela. Nos dias de semana, ela tem conseguido receber certinho, mas aos fins de semana não. Hoje ela ainda não recebeu e não sabemos se vai conseguir", conta o marido.

Rebeca tem Leucemia Amniótica Aguda

Arquivo pessoal

A família está fazendo uma campanha para conseguir doadores, tanto para Rebeca, quanto para outros pacientes que precisam receber plaquetas e hemácias. "Tem igrejas envolvidas, pessoas que não conhecemos também estão ajudando, policiais militares, bombeiros. A gente está preocupado. Recentemente, o parente de uma cunhada minha estava com as plaquetas baixas e fez quimioterapia. Acabou morrendo por causa disso", relata o marido.

A falta dessas unidades de plaquetas tem preocupado a família de Rebeca, que busca cada dia enviar novos doadores para que ela receba a quantidade de unidades necessárias para manter seu organismo estável. Eles questionam a demora da volta dessas unidades para o Hemonúcleo de Santos e a falta da máquina aférese no equipamento público, que é responsável por fornecer sangue para diferentes cidades da Baixada Santista, como Mongaguá, Bertioga e São Vicente.

Secretaria de Saúde

Em nota, a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo afirma que o Hemonúcleo de Santos solicita à população que compareça ao serviço para doar sangue, gesto fundamental para ajudar a salvar vidas. A manutenção dos estoques contribui diretamente para a regularidade de tratamentos, como o da paciente Rebeca Lodi. Ela tem recebido as plaquetas regularmente e, somente ela, utiliza 18 bolsas por dia. Ou seja, apenas para atender seu caso, são necessárias doações de 18 pessoas diariamente.

Por conta da alta demanda por plaquetas no último final de semana, excepcionalmente em um dia foi aplicada quantidade parcial na paciente, de forma a garantir que ela e outros pacientes pudessem ser atendidos. A paciente Rebeca segue internada, sem alterações no quadro clínico, e já recebeu quantitativo integral de plaquetas nesta segunda-feira (20).

Apesar da alegação da família, a Saúde afirma que o Hemonúcleo de Santos possui o serviço de aférese, que é utilizado para tratamentos terapêuticos. Especificamente para plaquetas, é preciso que o sangue passe por processamento mais complexo para a retirada das plaquetas, além de passar por exames e sorologia.

O horário de funcionamento do Hemonúcleo é de segunda a sábado, exceto feriados, das 8h às 12h30.

A doença

A mestre e doutora em imunogenética pela Universidade de São Paulo (USP) e voluntária no projeto Pró-Medula, Adriana dos Santos Carneiro Rodrigues, explicou que o sangue é composto de alguns componentes, e entre estes componentes, os glóbulos brancos (leucócitos), os glóbulos vermelhos (hemácias) e as plaquetas, "fabricados" pela medula óssea.

Segundo ela, em situações normais, a medula produz esses três componentes de forma equilibrada. "Na leucemia, muitos leucócitos são produzidos de maneira anormal. Estes leucócitos são imaturos e não funcionam de maneira adequada. Eles se acumulam na medula, e, como o equilíbrio da produção dos componentes foi quebrado, a medula passa a não conseguir produzir satisfatoriamente as hemácias e as plaquetas", conta.

Conforme relata Adriana, as plaquetas são essenciais para a coagulação sanguínea, e as hemácias, para o transporte de oxigênio, por isso sintomas clínicos comuns da leucemia são cansaço, palidez (pela perda da quantidade produzida de hemácias) e manchas roxas pelo corpo (resultado da queda das plaquetas). A quantidade necessária de plaquetas que deve ser mantida em um paciente leucêmico depende de alguns fatores, mas normalmente preconiza-se uma unidade de plaquetas para cada 10kg de peso do paciente.

No caso específico da Rebeca, de acordo com Adriana, ela precisa das nove unidades (ou bolsas) de plaquetas a cada 12 horas, por conta de seu peso, que é de 90 kg. "A ideia é manter a Rebeca nos níveis razoáveis de plaquetas levando em consideração sua condição clínica, de modo que ela não corra o risco de ter alguma hemorragia grave. Sem isso não ocorre a coagulação, o que pode levar a risco de óbito", complementa.

Ainda segundo Adriana, é normal o paciente leucêmico, ou que está fazendo quimioterapia, precisar de transfusão de plaquetas e hemácias, devido a agressão que esse tipo de tratamento causa na medula.

Rebeca precisa de 18 bolsas de plaquetas por dia em Santos, SP

Arquivo pessoal