PM que jogou corpo de menor dentro de vala em SP fala em 'incidente'; veja

PM que jogou corpo de menor dentro de vala em SP fala em 'incidente'; veja

Polícia Militar segue investigando o caso e laudos já foram emitidos. Operação em que vídeo foi registrado foi realizada em novembro de 2019, no Dique do Caxeta. Vídeo mostra PM jogando corpo de adolescente em vala em São Vicente, SP

Os policiais militares investigados por participarem de uma operação do Batalhão de Ações Especiais (BAEP) da Polícia Militar, em que um deles aparece jogando o corpo de um jovem de 16 anos na vala em uma comunidade de São Vicente, no litoral de São Paulo, afirmam que a situação foi um incidente.

O vídeo foi gravado por moradores durante uma operação na comunidade Dique do Caxeta, que aconteceu no dia 8 de novembro de 2019. Após o ocorrido, a população divulgou as imagens e pediu por justiça e paz na favela.

Nesta sexta-feira (14), a Polícia Militar divulgou ao G1 o que os militares alegaram em suas defesas. De acordo com a corporação, os policiais envolvidos relataram que o corpo do jovem não foi jogado na vala, e, na verdade, caiu devido a um incidente pela inclinação do barranco, bem como o piso escorregadio, o qual teria ocasionado o desequilíbrio dos policiais.

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Além disso, os militares afirmam que o balanço do corpo do rapaz ajudou a escorregar das mãos dos agentes de segurança, caindo, portanto, no córrego. Após esse episódio, os policiais dizem que resgataram a vítima, deixando-a na beira do canal até a chegada do resgate.

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Inicialmente, a Polícia Militar informou ao G1 que o BAEP se deparou com 10 homens armados, que atiraram contra os policiais. As equipes, conforme relatou a Polícia Militar, teriam revidado. Quatro rapazes morreram e um menor ficou ferido. Entre eles estava Melquesedeque Romualdo dos Santos, o jovem de 16 anos que teria sido jogado na vala, conforme mostra o vídeo (veja acima) e descreve a população.

De acordo com a Polícia Militar, as investigações continuam em andamento. O Inquérito Policial Militar (IPM) foi encaminhado para a Justiça Militar solicitando prorrogação de prazo e retorno dos autos. A Polícia Civil não se posicionou sobre o assunto.

Segundo os moradores, em uma das fotos registradas por eles, um dos policiais militares aparece usando luvas

Arquivo pessoal

Laudos

De acordo com a PM, alguns laudos periciais já foram concluídos. Conforme divulgado pela corporação ao G1, os exames nas armas apreendidas dos policiais militares e vítimas envolvidas na ocorrência apontaram que todas elas "poderiam ter sido utilizadas, de modo eficaz, na realização de disparos".

O exame residuográfico resultou negativo para a presença de residuografia metálica, de ambas as mãos, para todas as vítimas e policiais militares envolvidos na ocorrência.

A corporação também afirma que os exames necroscópicos de Josemar Santos de Oliveira, Melquesedeque Romualdo dos Santos, Bruno Ricardo Rufino Benício e Bruno Gabriel Rodrigues dos Santos não apontam sinais de disparos encostados ou à curta distância ou sinais de eventuais "execuções".

Vídeo gravado por moradores flagra PM jogando corpo de adolescente em vala em São Vicente, SP

Reprodução/Facebook

Relembre o caso

Quatro pessoas morreram e um adolescente ficou ferido durante uma operação da Polícia Militar no Dique do Caxeta, no dia 8 de novembro de 2019. A PM havia informado que, durante operação na região, foi recebida por 10 indivíduos armados, que atiraram contra a equipe. Segundo a corporação, por esse motivo, os policiais teriam revidado.

A comunidade desmentiu a PM e afirmou que não houve troca de tiros. De acordo com um dos moradores, três dos mortos eram menores de idade. A corporação também relatou que a comunidade teria lançado pedras, garrafas e objetos contra os policiais, sendo necessário o uso de 'munição não letal' para restabelecer a ordem.

"Eles falaram que quem tivesse na rua no próximo horário deles, não iriam querer saber se é morador ou traficante, se eles não gostassem da cara, iriam matar. Apontaram arma para as mulheres que estavam filmando. Essa repressão é rotineira", disse na época um morador, que preferiu não ser identificado.

A Polícia Civil da Delegacia de São Vicente passou a investigar as circunstâncias relativas aos fatos e a PM instaurou um Inquérito Policial Militar com o acompanhamento da corregedoria da corporação. Segundo informado pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) na época do ocorrido, os policiais envolvidos foram afastados do serviço operacional.

Vídeo flagra PM jogando corpo de adolescente em vala em São Vicente, SP

G1 Santos