Diversidade de temas marca o desfile das escolas de samba de Mogi no carnaval 2020

Diversidade de temas marca o desfile das escolas de samba de Mogi no carnaval 2020

Agremiações falaram de religião, cultura, história, ciência e a necessidade da educação para validar a saúde. Estação 1ª de Brás Cubas falou sobre Nossa Senhora Negra e ressaltou a importância da igualdade para a liberdade.

Natan Lira/G1

A diversidade de temas marcou o desfile das cinco escolas de samba na avenida Cívica, em Mogi das Cruzes, entre a noite deste domingo (23) e a madrugada de segunda-feira (24). A noite de festa teve início com o bloco 60 Mais, que levou nostalgia ao relembrar tradicionais marchinhas de carnaval.

Confira as fotos do desfile das escolas de samba de Mogi das Cruzes 2020

Todas as escolas cumpriram o desfile dentro do prazo de uma hora que tinham para mostrar toda a evolução que prepararam durante um ano. No entanto, houve atraso de cerca de 40 minutos porque o sistema de som contratado pela Prefeitura de Mogi apresentou defeito.

O secretário municipal de Cultura, Mateus Sartori, avaliou que após a cidade ter ficado sem o desfile no ano de 2018, e voltado em 2019, as escolas trouxeram ainda mais qualidade para este ano.

"A gente iluminou a avenida com led, as cores ficam mais claras, e também tivemos o carnaval de rua que vem para somar com o da avenida. O carnaval, é uma forma democrática para todo mundo ocupar o seu espaço, na rua e nas praças, já o da avenida tem a comunidade trabalhando durante um ano para tudo dar certo em um dia", detalha.

Guerreiras de Fogo

A primeira escola a entrar na avenida Cívica foi a Guerreiras de Fogo, que levou a força do nordestino com o tema "Não troco o meu oxente pelo ok dessa gente". Pelo segundo ano no grupo especial, a escola trouxe na comissão de frente o cangaço, seguidos pelo casal de mestre-sala e porta-bandeira, que não parou por um minuto, abrindo espaço para o primeiro carro, com um grande cangaceiro.

Guerreiras de Fogo levou no primeiro carro um cangaceiro.

Mateus Costa/TV Diário

A agremiação trouxe na sequência adultos com os pés de planta de palma forrageira, que nos momentos de seca alimenta as famílias e também as criações no norte e nordeste brasileiro.

E as imagens do sertão vieram estampadas nas roupas dos pernas de pau. Em seguida, senhoras baianas vestidas com azul branco e turbantes, rainha de bateria, crianças dançando o frevo e capoeira abriram caminho para o segundo e último carro, com uma barraca de acarajé e coqueiros.

"A força nordestina é a nossa força, na verdade. Todos nós somos descendentes de nordestinos e resolvemos homenagear os nossos antepassados. Passamos bem, mesmo com problemas com o som. E nós conseguimos levantar a avenida. Foi a garra da família Guerreiras de Fogo", avaliou a presidente.

Letra:

Vamos falar de um lugar, terra de cabra da peste

Terra de homem valente, do sertão do agreste

Terra do mandacaru, nosso lugar é o nordeste

Piauí da Pré-historia, Bahia do candomblé, Paraíba da cachaça

Em Sergipe eu boto fé

Pernambuco tem o frevo, Alagoas tem segredo

Maranhão é o Estado pra dançar bumba-meu boi

Ceará do "Padim Ciço", só conhece quem já foi

No Rio Grande do Norte A cultura é muito forte

Vá! Não deixe pra depois

Tem raça, tem brancos, tem índios, tem negros a ensinar

Terra de cabra da peste

Virgulino o famoso Lampião, tem mulher no cangaço, companheira no sertão

Terra de mestre Vitalino, rei do barro feito a mão

Terra de Luiz Gonzaga, o rei do baião

Tem cordel, tem dança, tem ciranda, afoxé, maracatu, capoeira, tem forró, tem frevo

xote e xaxado, Pra quem quiser dançar

Glória e vitória, fé no "Padim Ciço", nos benditos e no poder da oração

Tem candomblé religião, anima (alma) da natureza

Tem catimbó tem xangô, tem vaquejada, tem boi riscado

Nossa dança é rica e bastante popular, tem alegria, tem calor

Quando chega o São João, a disputa é pra valer, a capital do forró, todos querem conhecer

Caruaru tem beleza, Campina Grande tem destreza

Tem tradição tem sabor, tem cuscuz , macaxeira, tem escondidinho, baião de dois

Tem acarajé, vatapá, sapoti, buriti, mangaba, cajarana

Carne de sol, frutos do mar

Tem sol, tem rendeiras, tem Guerreiras, tem barqueiros, tem gringos a contemplar.

Acadêmicos da Fiel

"Saúde: um bem comum que necessita de educação para sua promoção e prevenção" foi o tema da Acadêmicos da Fiel, segunda escola da noite a se apresentar e precisou de paciência já que por cerca de 40 minutos o som da avenida ficou em manutenção, porque as caixas não funcionavam na totalidade.

Acadêmicos da Fiel ressaltou o amor pelo Corinthians no primeiro carro.

Mateus Costa/TV Diário

A escola reforçou o amor pelo Corinthians, o segundo carro tratou da biodiversidade e o terceiro veio com esportistas e um coração que, segundo a escola, representa o coração corintiano. Entre as alas havia remédios, gotas de vacina e a mensagem "o educador se eterniza em cada ser que educa".

"Cada ano é diferente, este ano superou todas as minhas expectativas porque houve uma união muito grande do pessoal do barracão, das fantasias, harmonia. Então isso que a gente levou para a avenida", disse o presidente Sidney Jesus, conhecido como doutor Magal.

Letra:

Chegou a fiel

Pra te emocionar

A dose certa pra te conquistar

Sambar é saude é superação

Remedio pra nossa nação

Viver e lutar pra ser feliz

A carta de ottawa é fundamental

O bem estar do corpo

É regra divina

Qualidade de vida

No meu carnaval

É melhor prevenir do que remediar

Educando de forma correta

Pra saúde é oque mais interessa

A corrente do bem

Si unem pra fazer acontecer

Que vai embalar nosso sonho

E sempre vai fortalecer

Alô criançada

O ze gotinha tá ai

Doutores da alegria

Fazendo sorrir

É sensacional fazer o bem

Pra combater o mal

Atenção a medicina

Avança com a prevenção

A cura pra humanidade

Sem desigualdade

Com muito amor

Vamos lutar, vencer a dor

Não importa aonde for

Basta querer

São jorge vai nos proteger

Venha de corpo e alma a mente sã

Juntos nessa união

Corintiano é o meu coração

Unidos da Vila Industrial

Falando das três etnias com mais expressividade no Brasil, a Unidos da Vila Industrial encheu a avenida de história com os seus 600 integrantes. A escravidão foi estampada no primeiro carro, um navio negreiro com um escravo preso à corrente e a morte o assombrando logo atrás.

No segundo veio o carro do Egito, trazendo Moisés, um escravo, e no terceiro carro um índio preso em seu próprio habitat, representando a repressão que essa população sobre ainda nos dias atuais.

"O povo sofre todos os dias e a gente não abre os olhos para essas coisas. Então a gente veio mostrar o canto das três raças, porque todos nós somos escravos da sociedade. Nós, povos, precisamos de alegria e felicidade", destaca o presidente Emerson Rodrigues da Silva.

Vila Industrial foi marcada pelas fantasias com muitos detalhes.

Mateus Costa/TV Diário

Houve ainda um carro homenageando a Portela, isso porque o Canto das Três Raças é da cantora Clara Nunes, e ela era portelense.

A escola levou um carro acoplado com 32 metros de comprimento. O veículo travou na avenida, mas depois conseguiu continuar e fechar o desfile. "Nós não somos uma escola que pega as pessoas a laço para desfilar, todo mundo estava cantando, dançando, isso é a nossa escola", disse.

Letra:

Oh mãe áfrica seus filhos vem aclamar!

Arrancados do seu chão, jogados no porão, no tumbeiro a navegar

Hoje sou mercadoria, trago no peito a marca da covardia

Real meu sangue escravo na cor

Sem meu batuque e identidade nagô

Meu canto não ecoou

No cativeiro

Forjando a cicatriz da ignorância

No sangue derramado a intolerância

Olhai por nós senhor, os filhos deste chão

Na crueldade, vejo a esperança, no sofrimento um irmão

Vencendo preconceitos, tenho meus direitos, mostro meu valor

Um canto livre por liberdade, imponho respeito, dignidade

Hoje o quilombo e a favela é aqui, becos e vielas, faz a vila se unir

De punhos cerrados, a mordaça não vai me calar, vem lutar

Ninguém ouviu um soluçar, triste lamento entoou

No canto das três raças, não sou escravo de nenhum senhor

São João

O tradicional verde e rosa da Acadêmicos da São João levou a ciência de Leonardo da Vinci para a avenida cívica, dividida em três carros, para representar a evolução do tema "No renascer dos sonhos a verde e rosa canta Leonardo da Vinci.

São João trouxe no primeiro carro as trevas e o renascimento com da Vinci.

Natan Lira/G1

A escolha, segundo o presidente Luiz Bicudo, vem mostrar a grandiosidade desse homem, que foi representado no primeiro carro com as trevas e o renascimento com da Vinci.

"O segundo com o cavalo e as evoluções e, em terceiro, com uma de suas obras mais expressivas, a Santa Ceia e um grande boneco representando o homenageado", destacou o presidente.

Letra:

Eu bato no peito, sou São João

A Verde e rosa é tradição

A Escola do povo, feliz a cantar

O sonho de a vitória alcançar

As estrelas no céu vão brilhar,

Em uma viagem fascinante

No soprar do vento, vou ao renascimento

Conhecer cada traço da mais linda história

Da Itália para o mundo, pintou seus sonhos e glorias

Desde menino lutou não desistiu

Trilhou caminhos, cresceu, pra realizar os sonhos teus.

A última ceia retratou, Monalisa eternizou,

Mostrou sua genialidade, exemplo da humanidade

Olha, fiquei muito feliz em ouvir suas histórias,

Vou levar pra sempre suas lições em minha memória,

Desse lindo sonho vou ter que acordar,

Voltar pro meu lugar, Oh pátria mãe gentil, amado Brasil

Povo que sempre batalha

Da Vinci falou pra eu pintar o amor

Nessa avenida cantar e a sua história eternizar

Brás Cubas

Fundada em 1974, a Estação 1ª de Brás Cubas tratou de "Maria Negra no altar do tempo à procissão da vida".

A ideia da diretoria apostou no enredo para levar a cultura afro e também do sincretismo, do axé e do amém. Para isso, o primeiro carro trouxe a igreja católica africana, relembrando os negros impedidos de entrar na igreja.

Brás Cubas relembrou a época em que os negros não podiam entrar nas igrejas católicas.

Natan Lira/G1

O segundo falou sobre o sincretismo e, no último, Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil e negra. Já entre as alas, o destaque ficou para um prisioneiro negro que é libertado por Jesus com uma placa escrita "igualdade".

"Eu saio da avenida feliz, porque coloquei a minha escola na avenida. Vencer é a consequência de um trabalho. A comunidade participou de tudo. Havia o medo da avenida não continuar cheia, mas graças a Deus o Brascubão segurou todo mundo", ressaltou a presidente Silvania Gomes da Silva.

Letra:

Canta Brascubão em Romaria

Bate forte bateria nessa procissão

Tenho fé e vou a luta

Na busca de gritar é campeão

Chegou...

O povo do samba em oração

Nas santidades negras a devoção

E no sopro do vento viaja na história

Em Roma antiga ficou na memória

Na Africa a bondade

A fraternidade em comunhão

Da Santa escrava a luz

aos desesperados conduz

Eh rezadeira... Eh rezadeira

bate cabeça no congá

Oh minha senhora rezadeira

Acende a vela Preto velho mandingueiro

Oh Gira roda.. Roda gira no terreiro

Orixá Baba... Orixá Baba

Hoje tem festa lá na casa de Yayá

O Santo Rei Mago

A Santa Freira, Beatas e Beatos

Um lindo espirito de luz

Anástacia dos Olhos azuis

Bendito eh... São Benedito

No mais lindo andor que já se viu

Nha Chica... A primeira santa do Brasil

Salve Senhora da Conceição

Mãe Aparecida lhe estendo a mão

Olhai por nós oh mãe querida

Ilumina nossa escola na avenida

Dados

Em 2019, a Unidos da Vila Industrial foi a vencedora com o enredo "Yggdrasil - e a lenda do quinto dia". A escola conquistou 179,5 pontos, com 15 notas 10 e nenhuma penalidade. O segundo lugar do grupo especial ficou com a Estação 1ª de Braz Cubas, seguida pela Acadêmicos do São João.

Neste ano, a apuração do desfile será já na segunda-feira (24). O evento, que ocorrerá no Centro Cultural, começa às 9h com previsão de início da apuração às 10h30. O endereço é Praça Monsenhor Roque Pinto de Barros, 360, no Centro.

Neste ano, segundo a Prefeitura, a cidade investiu R$ 324 mil nas comemorações do carnaval. O valor inclui os repasses para as escolas de samba, contratação de estrutura da Avenida Cívica e apoio aos blocos de rua.