Só 1 de cada 3 autores de estudos sobre Covid-19 é do sexo feminino

Só 1 de cada 3 autores de estudos sobre Covid-19 é do sexo feminino

 

Esse é o primeiro levantamento que analisou, por gênero, a produção acadêmica de saúde debruçada especificamente na Covid-19. Foram mapeados 1.445 estudos científicos publicados na área médica sobre o vírus de 1º de janeiro a 1º de maio.

Os estudos publicados sobre o novo coronavírus no período analisado foram assinados por um total de 6.722 cientistas. O gênero desses autores foi identificado a partir do primeiro nome dos cientistas com a ajuda de um software.

Para os responsáveis pela análise –são seis mulheres incluindo Ana-Catarina e um homem– a participação das pesquisadoras nos estudos tem sido afetada pelas medidas de isolamento social.

"Muitos cientistas estão agora trabalhando de casa e enfrentam demandas concorrentes como a educação dos filhos", escrevem. "Esses papéis são predominantemente assumidos pelas mulheres, especialmente em países com alta desigualdade de gênero." Nos países africanos, por exemplo, as mulheres lideram só 7% das pesquisas publicadas sobre o tema.

Os novos dados, de acordo com a física da UFRGS Márcia Barbosa, uma das principais especialistas em gênero e ciência do Brasil, evidenciam uma desigualdade de gênero que já estava posta.

Agora, as mulheres cientistas, sobrecarregadas ainda mais com as tarefas domésticas, não estão conseguindo migrar para um tema de pesquisa novo como a Covid-19.

"As pesquisadoras que estão conseguindo publicar na pandemia acabam ficando em temas nos quais já trabalhavam."

Na prática, isso vai impactar a carreira dessas acadêmicas no médio prazo. "A publicação científica durante a pandemia será levada em conta, por exemplo, nas progressões de carreira no futuro. Precisamos pensar em políticas compensatórias em todos os níveis", diz Márcia.

Identificar o problema, claro, é o primeiro passo para resolvê-lo. E depois?

"Uma das sugestões é que os periódicos científicos tenham cotas de participação de autoras mulheres", diz Ana-Catarina.

Outra ideia seria a simples identificação do gênero dos autores nos trabalhos submetidos. Assim, caberia aos avaliadores decidir se um estudo científico –por exemplo, sobre uma nova doença global– tem representatividade suficiente para ser publicado.