'Não merecia morrer desse jeito', diz irmã de um dos mortos na Cabanagem, em Belém; corpo de sargento da PM é velado

'Não merecia morrer desse jeito', diz irmã de um dos mortos na Cabanagem, em Belém; corpo de sargento da PM é velado

O sargento Ruy Gonçalves, o sogro e o vizinho José Barros morreram no local do crime. A esposa do militar foi ferida pelos tiros. A Polícia iniciou força-tarefa para investigar o caso. Mortes na Cabanagem assustam moradores e deixam familiares de vítimas chocados

"Ele não merecia morrer desse jeito, está sendo muito difícil para a gente, porque ele chegou no lugar errado, na hora errada", disse Marinez Barros, irmã do metalúrgico José Ribamar Barros, de 50 anos, um dos três mortos no bairro da Cabanagem, em Belém, no último domingo (5).

Entre as vítimas estava o sargento Ruy Vilhena Gonçalves, de 51 anos, que era lotado no 6º Batalhão da Polícia Militar. Ele teve o corpo velado na tarde desta segunda (6). O sogro dele também foi morto. A esposa dele foi atingida pelos tiros e socorrida.

Nesta segunda foi registrada mais uma morte. Bruno Oliveira Castro, de 18 anos, foi assassinado a tiros próxima à avenida Independência.

O crime

No domingo, as vítimas estavam em um bar na rua São Domingos com a pass. União. O policial recebeu quatro tiros durante a ação de dois criminosos que estavam em uma moto. Um deles estava com uniforme de mototaxista. Os atiradores desceram do veículo e dispararam 15 vezes. O policial, o sogro e o vizinho morreram no local do crime.

Moradores do bairro ficaram assustados após o episódio. Familiares das vítimas ficaram chocados e estiveram no Centro de Perícias Científicas Renato Chaves em busca de informações. Os corpos começaram a ser periciados por volta das 10h.

Para Tereza Licar, tia do metalúrgico José Barros, o parente foi vítima de uma injustiça. "Ele era uma pessoa muito boa, era muito trabalhador e se dava com todo mundo".

Metalúrgico José Barros, uma das vítimas mortas no bairro da Cabanagem, em Belém.

Reprodução / TV Liberal

Força-tarefa

A Polícia do Pará montou uma força-tarefa, coordenada pela Divisão de Homicídios de Agentes Públicos, para investigar o caso. Segundo as investigações, ainda é cedo para afirmar se o sargento era o alvo dos criminosos. A dupla continua foragida.

Pela manhã, viaturas da PM iniciaram rondas próximo ao local do crime. O comandante da PM, coronel Dilson Júnior disse que o objetivo é ocupar o bairro. "Estamos aqui com reforço das tropas do Comando de Missões Especiais (COE) e de todos os comandos da região metropolitana", informou.

De acordo com o delegado Alberto Teixeira, cerca de 100 policiais devem atuar na operação que investiga o caso. "Nós sabemos o caminho que os criminosos chegaram, já percorremos o caminho que utilizaram para fuga. É apenas questão de tempo para a prisão dos autores do crime", afirmou.

A Secretaria de Segurança Pública do Pará (Segup) disse que foram registradas 32 mortes de agentes de segurança em 2019 e que quase todas eram policiais militares. De acordo com a Segup, o número de assassinatos foi 40% menor do que em 2018 e, também, informou que vem realizando várias ações para proteger os agentes de segurança.

A Associação dos Cabos e Soldados da Polícia e dos Bombeiros Militares do Pará lamentou a morte do sargento Ruy Gonçalves, que estava há 27 anos na corporação.

Bairro recebeu intervenção da Força Nacional

Força Nacional no Pará

Jader Paes/Agência Pará

O bairro da Cabanagem é considerado violento e, em 2019, recebeu a intervenção de agentes da Força Nacional, devido aos elevados níveis de criminalidade na região. Juntamente com os bairros da Terra Firme, Guamá, Jurunas e Bengui, a Cabanagem recebeu os agentes como parte do projeto Territórios Pela Paz, do Governo do Pará.

Pelo segundo ano consecutivo, o bairro da Cabanagem é marcado pela violência logo no começo do ano. Na noite do dia 1º de janeiro de 2019, uma chacina deixou cinco mortos. As vítimas foram assassinadas nas ruas Benjamin e Val-de-Cans, no intervalo de vinte minutos.

Outras chacinas

Uma das chacina mais recentes na região metropolitana de Belém ocorreu em 19 de maio de 2019. Onze pessoas foram mortas com tiros na cabeça em um bar no bairro do Guamá. Sete homens encapuzados chegaram em uma moto e três carros e dispararam contra as vítimas. O bairro também havia recebido agentes da Força Nacional.

Em 2018, houve duas. Em abril, nove pessoas foram mortas em Belém e Ananindeua. Em outubro, oito foram assassinados e três ficaram feridos no bairro do Tapanã, na capital.

Uma onda de assassinatos também deixou 28 mortos em janeiro de 2017, em um intervalo de 24 horas, após o assassinato de um policial militar.